quarta-feira, fevereiro 02, 2005


photo by Steve McCurry




"Se há na terra um reino que nos seja familiar e ao mesmo tempo estranho, fechado nos seus limites e simutâneamente sem fronteiras, esse reino é o da infância. A esse país inocente, donde se é expulso sempre demasiado cedo, apenas se regressa em momentos priveligiados- a tais regressos se chama, às vezes, poesia. Essa espécie de terra mítica é habitada por seres de uma tão grande formusura que os anjos tiveram neles o seu modelo, e foi às crianças, como todos o sabem pelos evangelhos, que foi prometido o Paraíso.A sedução das crianças provém, antes de mais, da sua proximidade com os animais - a sua relação com o mundo não é a da utilidade, mas a do prazer. Elas não conhecem ainda os dois grandes inimigos da alma, que são, como disse Saint- Exupéry, o dinheiro e a vaidade. Estas frágeis criaturas, as únicas desde a origem destinadas à imortalidade, são também as mais vulneráveis- elas têm o peito aberto às maravilhas do mundo, mas estão sem defesa para a bestialidade humana que, apesar de tanta tecnologia de ponta não diminui nem se extingue.O sofrimento de uma criança é de uma ordem tão monstruosa que, frequentemente, é usado como argumento para a negação da bondade divina. Não, não há salvação para quem faça sofrer uma criança, que isto se grave indelevelmente nos vossos espíritos. O simples facto de consentirmos que milhões e milhões de crianças padeçam de fome, e reguem com as suas lágrimas a terra onde terão ainda de lutar um dia, pela justiça e pela liberdade, prova bem que não somos filhos de Deus."

Eugénio de Andrade
em louvor das crianças,
in " rosto precário"

2 comentários:

Amélia disse...

Belíssimo texto - como a carta p+ara Sofia que li na letras...Beijos

mariagomes disse...

mais dia menos dia publico aqui "a carta a sofia",

muito obrigada, amiga,

um beijo
maria

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Podes entrar ; tenho as mãos para dizer o disperso canto das águas. Os meus olhos, alagados pelo grito das árvores, são lúcidos ao início do sol. Com o amor das coisas, rejubilo e lanço os braços a um rodopio doce e futuro, a uma tempestade humana. Tudo o que eu espero é sentir o elo da criação que se move, entre mim e ti, e a claridade. ____________mariagomes
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