sábado, dezembro 30, 2006


creio em ti ousando a onda das mais altas
e velhas marés
que ouviram uma cidade deserta esperada

porque tudo em ti é um murmúrio que fala
como último instante calhado no olhar de um pássaro.

mariagomes
29 Dez.2006

sexta-feira, dezembro 22, 2006


isto és tu a correr pela cruz do meu corpo dos meus olhos famintos

isto és tu sobre o lago estendendo a mão ao indizível anil das areias

isto és tu a acontecer com a sublevação do sol
pelos raios soçobrando.

mariagomes
22Dez.2006

quarta-feira, dezembro 20, 2006


eu fui um navio luzente como sede, reclinado aos rouxinóis

em cada palavra aberta
navega o vento do meu exílio, porque o nada é mais.

mariagomes
20Dez.2006

sexta-feira, dezembro 15, 2006


"variações sobre uma estrela", fotografia de mariagomes

quinta-feira, dezembro 14, 2006


"O génio, ele é o afecto e o momento presente, construiu a casa aberta ao inverno espumoso e ao rumor do verão, purificou as bebidas e os alimentos, ele, que é a sedução dos lugares evanescentes e a delícia sobre-humana dos lugares parados. É o afecto e o provir, a força e o amor que, ao enfrentarmos a pé firme as dores e contratempos, vemos passar no céu ameaçador e nos estandartes de êxtase.
É ele o amor, medida perfeita e reinventada, razão maravilhosa e inesperada, e a eternidade: máquina amada das qualidades fatais. Já todos sentimos o pavor da sua e a nossa concessão: ó gozo da saúde que possuímos, impulso das nossas faculdades, amor egoísta e paixão que lhe temos, ele, que nos ama para a sua vida infinita...
Lembramo-nos dele, e ele viaja…. E, se a Adoração se for, toca, a sua promessa brada: “ Para trás essa superstições, esses corpos de antigamente, essas famílias e esses tempos. É esta época, porque passamos, que soçobrou!”
Ele não se irá embora, não voltará a descer do céu, não redimirá as cóleras das mulheres, nem as alegrias dos homens, nem outro pecado qualquer: porque ele sendo, e sendo amado, isso já aconteceu.
Oh!, os seus sopros, as suas cabeças, as suas corridas; a terrível celeridade da perfeição das formas e da acção.
Ó fecundidade do espírito e imensidão do universo!
O seu corpo!, a sua quietude sonhada, o quebrar da graça entremeada de uma nova violência!
A sua visão, sua visão!, depois da sua passagem , perdoadas todas as antigas genuflexões e castigos.
A sua hora!, a abolição de todos os sofrimentos sonoros e movediços numa música mais intensa.
O seu passo!, as migrações mais ingentes do que as antigas invasões.
Ó ele e nós!, um orgulho mais benevolente do que as perdidas caridades.
Ó mundo!, e o canto cristalino das novas infelicidades!
O génio, conheceu-nos ele, e a todos ele amou. Saibamos, nesta noite de inverno, de uma ponta a outra, do pólo tumultuoso ao castelo, da multidão à praia, de olhar em olhar, forças e sentimentos cansados, chamar por ele e vê-lo, mandá-lo embora e, sob as marés e no pico dos desertos de neve, seguir as suas visões, o seu sopro, o seu corpo, a sua hora."

Arthur Rimbaud
in “ O rapaz raro”
Iluminações e poemas
Trad. Maria Gabriela Llansol
Edições Relógio D’água

quarta-feira, dezembro 13, 2006

não deixo para trás as rosas
alguém disse que o inverno tombaria de um corpo abrasador
para colher coisas que ficaram

a tua voz
o luar
nas tuas mãos que ainda sobe a luz límpida do dia.

mariagomes
13Dez.2006

segunda-feira, dezembro 11, 2006


"Diante de um grande poeta, tem-se a sensação de que as coisas que permaneceram escondidas no caos emergem."

Christian Hebbel

sábado, dezembro 09, 2006

" O sage, Dichter..."



Que fazes tu, poeta? Diz! - Eu canto.
Mas o mortal e monstruoso espanto
Como o suportas, como aceitas? - Canto.
E que nome não tem, tu podes tanto
Que o possas nomear, poeta?- Canto.
De onde te vem direito ao Vero, enquanto
Usas de máscaras, roupagens? - Canto.
E o que é violento e o que é silente encanto,
Astros e temporais, como te sabem? - Canto.


Rainer Maria Rilke

Áustria ( 1875-1926)
in " poesia do século XX"
Antologia, tradução, prefácio e notas de Jorge de Sena
edições Asa

terça-feira, dezembro 05, 2006


para mim, marinheiro, a água é doce e o amor
um abismo volante.

eu confio-te a eternidade
das águas
as parábolas onde se prendem os lírios.


mariagomes
5dez.2006
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Podes entrar ; tenho as mãos para dizer o disperso canto das águas. Os meus olhos, alagados pelo grito das árvores, são lúcidos ao início do sol. Com o amor das coisas, rejubilo e lanço os braços a um rodopio doce e futuro, a uma tempestade humana. Tudo o que eu espero é sentir o elo da criação que se move, entre mim e ti, e a claridade. ____________mariagomes
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