O poeta é um primitivo, ama os sortilégios. Mas é em nome desse amor que a sua recusa tem a força de um destino, num mundo que vai abdicando de o ser. Ele é por excelência aquele que diz não à peste negra da mentira, e se opõe, implacável, ao rasteiríssimo jogo da vileza institucionalizada. Porque a palavra poética visa a subversão – se assim não fora, que sentido teria esta música onde o homem morre sílaba a sílaba para que outro homem nasça?
Eugénio de Andrade
In Rosto Precário
Edição fundação Eugénio de Andrade