sexta-feira, abril 29, 2005

a espinal medula




disseram-me
: não escrevas os sabores desse verão,

tens as varandas
de um violino imenso,
a espinal medula, deus e o céu.

lembrei-me, então,
que poderia ter nascido do brilho peregrino
um poeta ateu.

mariagomes
abril.2005

quinta-feira, abril 28, 2005


GUSTAVO ADOLFO BÉCQUER (1836-1870)




-¿Qué es poesía?- dices mientras clavas
en mi pupila tu pupila azul:
¿qué es poesía? ¿Y tú me lo preguntas?
Poesía... eres tú.


GUSTAVO ADOLFO BÉCQUER

a ti, Rhea




a ti eu me dirijo, Rhea,
com os tornozelos festivos da última primavera
e da lua rubra
dou-te a noite benéfica de uma criança
toco a marimba da minha mãe crioula.

mariagomes
abril.2005

domingo, abril 17, 2005

hoje ou amanhã



hoje ou amanhã, a lareira apagará o gosto.
acerca disso eu hei-de escrever.
poisarão no meu corpo poemas, nitidamente felizes,
sem palavras.
na assimetria de um entardecer uma pátria qualquer,
uma só flor, uma face
ou um traço definir-me-á.
não sei de que horizonte virá o vento.
nem sei tampouco se do mar lançarei a concha
da alegria côncava da criança.
contudo, eu hei-de escrever - o deserto
as dunas as ameaças e as casas próximas.

mariagomes
16abril.2005

sábado, abril 16, 2005

que a noite vê




deixa-me ter nos poetas idos o silêncio do sol
fazer uma onda
com a força desses dedos
sonhar mais do que um sonho subir o ritmo
amarelecido na maré

deixa-me ler milhões de palavras luz
deixa-me ver as coisas que a noite vê.

mariagomes
abril.2005

sexta-feira, abril 15, 2005




"Os versos são experiências e é preciso ter vivido muito para escrever um só verso."


Rainer Maria Rilke

quinta-feira, abril 14, 2005

na respiração de um livro



hei-de ter-te na respiração de um livro
e ficar só num poema com um amor que não morreu
como a pálida penumbra
que me habita - casa estéril

inutilmente caiada.

mariagomes
14abril.2004

segunda-feira, abril 11, 2005

E. Bonavena / Angola


(Edward Weston)

1. goteja
a
lâmina
amor!



E. Bonavena
de "Ulcerado de Míngua Lua", Angola, 1987



E. Bonavena, pseudónimo de Nelson Pestana, nascido em Luanda, em 1955.

sábado, abril 09, 2005

com o sangue fixo


a minha pátria divorciou-se das rosas encarnadas
que falavam comigo com o sangue fixo
a arder

a minha pátria caiu sem luta num precipício
consome-se nua

proibida
quer as palavras das loucas incertezas impolutas.


mariagomes
9abril.2005

sexta-feira, abril 08, 2005

os melros



só eu movi os melros na tempestade
elevei a árvore
dos dedos na poesia profana
celebrei as nuvens
na batuta dos maestros
esquecidas
pelas tômbolas da sorte
e na voz de um poeta que disse
que a morte é uma formosa flor ensandecida
só eu arranhei as guelras
como os cachimbos secos dos velhos
a viver do mar

só eu
e o músculo contaminado de um olhar.

mariagomes
7deabril2005

quarta-feira, abril 06, 2005

e a erosão




não posso dizer dos olhos, assim,
contidos nesta manhã inacabada.
há gritos negros e a erosão
branca, nos corpos, abre a luz
cheia de sede.

não fosse esse pedido de palavras,
eu escreveria o poema da paz
que anseia os meus sentidos.
porém, é tarde.
nunca disse que habito uma cidade.
as minhas mãos movem-me.
como ninguém, toco o perfil
melancólico e dócil do fim da minha vida.

mariagomes
6deabril.2005

terça-feira, abril 05, 2005

as romãs e as rosas




podiam ser mais os sinos,
as chuvas, as romãs
e as rosas


podiam ser mais os linhos
entregues ao abraço corroído pelo homem


e serem mais as mães
e os pais
dos meus ramos ágeis.


mariagomes
5deabril.2005

segunda-feira, abril 04, 2005


Holly Roberts



"-Poesia serve para isso.
-Isso, o quê?
-Para esconder o amor, revelando-o.
Como a roupa que esconde o corpo e
revela a forma. "


trecho " de Amor " de Manoel Lobato


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domingo, abril 03, 2005

esse anjo eterno



do sol vem esse anjo eterno que torna em música
a impressão telúrica
de ser em simultâneo água
de um ramo só
do sol eu tenho o solo idolatrado
os olhos importando das miragens um desespero frágil
e o som
a parecer-se quase com o minério
como uma súplica ou uma lágrima litúrgica.


mariagomes
3abril.2005, 18 h

tenho que escrever




tenho que escrever um poema deitado
na noite farta
apagando o candeeiro
que nos conduz à plataforma fria do asfalto
um poema sem culatra
na terra
um poema que não cale a lezíria
sobretudo que não fale
da guerra.

mariagomes
abril.2005

sábado, abril 02, 2005

Flaubert

"A linguagem é uma chaleira rachada que batemos para fazer os ursos dançarem. Quando o que queríamos mesmo era mexer com a clemência das estrelas. "

Gustave Flaubert (França,1821-1880).

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Podes entrar ; tenho as mãos para dizer o disperso canto das águas. Os meus olhos, alagados pelo grito das árvores, são lúcidos ao início do sol. Com o amor das coisas, rejubilo e lanço os braços a um rodopio doce e futuro, a uma tempestade humana. Tudo o que eu espero é sentir o elo da criação que se move, entre mim e ti, e a claridade. ____________mariagomes
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