sexta-feira, dezembro 30, 2005

"Genus irritabile vatum"
"Expresión de Horacio " ("Epístolas")


La poesía no es confiable:
es poesía.

*

No siendo poesía
la mala poesía
es confiable.

*

Si un poema no llega a ser un poema
no es un poema:
es lo que es

Un verdadero poema no es lo que es.

*

El poeta previsible
no es invisible
Al ser visible
no es poeta.


Rolando Revagliatti

"La raza irritable de los poetas", 1999

domingo, dezembro 25, 2005


menino jesus dá-nos a solicitude plena dos violoncelos - o repouso.


mariagomes
25 Dez.2005

sábado, dezembro 24, 2005

Um bom Natal


Angola, Uíge, 1991, pau preto, in Pública, " presépios do mundo"

quinta-feira, dezembro 15, 2005


( Hellenic Festival, 31 Aug.01, Ancient Theatre of Epidaurus)



agora só as árvores me dirigem

neste quase inverno mudaram a nudez da minha boca

sou uma pessoa resumida às árvores
sou uma folha


vejo uma flor eterna a cair
e chamo-a

inclino-me sobre a minha pele porque murmurei um nome

vê meu amor esta música não pára de subir.

mariagomes
14/15 de Dez.2005



nota- este poema deve ser lido com o acompanhamento da faixa musical nº 2) Lamentu I do cd Eurípedes Trojan Women, música de Eleni Karaindrou da ECM Records, 2002, cuja capa é exibida na foto)
mariagomes

terça-feira, dezembro 13, 2005


parque da cidade dr. manuel braga, coimbra, fotografia de mariagomes, 13 dez.05

segunda-feira, dezembro 12, 2005




quando a tua outra face tinha o futuro dentro de uma giesta
as coisas ouviam-se nos teus olhos
divinas
com subtérrea liberdade

eram um pranto o poético dos prados
e no entanto calei mais do que a morte fui a sombra a infância
dos sinos

em cada hora o sol é a memória mais longa que te cabe.


mariagomes
dez.2005



quarta-feira, dezembro 07, 2005

nunca é tarde mãe
as lâmpadas enternecem a noite do meu corpo

ainda minto ainda brinco na estria espacial chamo por ti

como o gelo que flameja convida-me um epitáfio escrevo o sono das aves que em mim poisam.


mariagomes
7 Dez.2005, 19 h.

segunda-feira, dezembro 05, 2005

esta voz que persegue como a pedra
que te escreve

esta voz ecoa no caminho
no que foi ternura
  • flor
  • luar
  • clausura

piano dentro da palavra.

mariagomes
5dez.2005

sábado, dezembro 03, 2005

olha,há mais do que a lucidez da água batendo nos escombros,
terrífica.

não consigo escrever, a palavra é feita de um peixe azul.
em consenso inútil,
o mar fica-se pelo tempo que me percorre

e a humildade da cinza.

devolvo-te a voz.

mariagomes
dez.2005

sexta-feira, dezembro 02, 2005

"A doutrina romântica de uma Musa inspiradora dos poetas foi a que professaram os clássicos; a doutrina clássica do poema como uma operação de inteligência foi enunciada por um romântico, Poe, por volta de 1846. O facto é paradoxal. Excepto alguns casos isolados de inspiração onírica - o sonho do pastor foi referido por Beda, o ilustre sonho de Colidge -, é evidente que ambas as doutrinas têm o seu quê de verdadeiro, embora correspondam a diversa fases do processo. ( por Musa devemos entender aquilo a que os Hebreus e Milton chamaram o Espírito e a que a nossa triste mitologia chama o Subconsciente). No que me diz respeito, o processo é mais ou menos variável. Começo por avistar uma forma, uma espécie de ilha remota, que será depois um conto ou uma poesia. Vejo o fim e vejo o princípio, não o que se encontra entre os dois. Isso é-me revelado gradualmente, quando os astros ou o acaso são propícios. Por mais de uma vez tenho de desbravar o caminho pela zona da sombra. Tento intervir o menos possível na evolução da obra. Não quero que a distorçam as minhas opiniões, que são o mais frívolo que temos. O conceito de arte comprometida é uma ingenuidade, porque ninguém sabe ao certo o que executa. Um escritor, admitiu Kliping, pode conceber uma história, mas não penetrar na sua lição moral. Deve ser leal à sua imaginação e não às meras circunstâncias efémeras de uma suposta “realidade”.
A literatura parte do verso e pode levar séculos a discernir a possibilidade da prosa. Ao fim de quatrocentos anos, os Anglo- Saxónicos deixaram-nos uma poesia não poucas vezes admirável e uma prosa apenas explícita. A palavra, teria sido no princípio um símbolo mágico, que a usura do tempo gastaria. A missão do poeta seria restituir à palavra, mesmo parcialmente, a sua primitiva e agora oculta virtualidade. Dois deveres teria qualquer verso: comunicar um facto preciso e tocar-nos fisicamente como a vizinhança do mar. Eis um exemplo de Vergílio:

'Sunt lacrymae rerum et mentem mortalia tangunt'

Um de Meredith:

'Not till the fire is dying in the grate
Look we for any kinship with the stars.'

Ou este Alexandrino de Lugones, cujo espanhol quer regressar ao latim:

'El hombre numeroso de penas y de días.'

Tais versos perseguem na memória o seu caminho de mudanças.

Ao fim de tantos anos – e demasiados – anos de exercício e de literatura, não professo uma estética. Para quê acrescentar aos limites naturais que nos impõe o hábito os de uma teoria qualquer? As teorias, tal como as convicções de ordem política ou religiosa, não são mais do que estímulos. Variam para cada escritor. Whitham teve razão ao negar a rima; essa negação teria sido uma insensatez no caso de Hugo.
Ao percorrer as provas deste livro, noto com algum desagrado que a cegueira ocupa um lugar queixumoso que não ocupa na minha vida. A cegueira é uma clausura, mas também é uma libertação, uma solidão propícia às invenções, uma chave e uma álgebra."


Buenos Aires, Junho de 1975

Jorge Luís Borges


in “ A rosa profunda”
Obras completas. Vol.III

quarta-feira, novembro 30, 2005

Sofia, é para ti este blog!

porque também se escreve com o olhar...


mariagomes
30.Nov.2005

domingo, novembro 27, 2005

talvez eu queira devolver uma janela aos anéis secretos;
em dezembro
irradia a rosa que me deu a terra ardida,

o ventre sempiterno.

o sonho, esse, vem em frente,

é uma constelação bordada na bandeira submersa
pelo mar -
escavo clamor de rosto, meu fogo imenso e tão menino.

mariagomes
27.Nov.2005
....

"Se os espíritos de Homero, Virgílio, Al-Maary* e Milton soubessem que a poesia se tornaria uma mascote dos ricos, teriam abandonado o mundo onde isto pudesse acontecer.

Magoa-me ouvir a linguagem dos espíritos tagarelada pelas línguas dos ignorantes. Flagela-me a alma ver os vinhos das musas fluir nas penas dos fingidores.

E não estou sozinho neste vale da Ofensa. Digamos que sou um entre muitos que vêem o sapo inchado imitar o búfalo.

A poesia, meus caros amigos, é uma incarnação sagrada de um sorriso. A poesia é o suspiro que seca as lágrimas. A poesia é um espírito que habita a alma, cujo alimento é o coração e cujo vinho é o afecto. A poesia que não tenha essa forma é um falso messias.

Ó espíritos dos poetas, que velam por nós, dos céus da Eternidade, nós dirigimo-nos aos altares que vocês adornaram com as pérolas dos vossos pensamentos e as jóias das vossas almas porque o estrondo do metal e o ruído das fábricas nos oprime. Por isso os nossos poemas são pesados como locomotivas e irritantes como apitos de vapor.

E vós, verdadeiros poetas, perdoai-nos. Nós pertencemos ao Novo Mundo onde os homens perseguem os bens materiais; e também a poesia se tornou um bem de consumo, e não um sopro de imortalidade."


* Um poeta árabe do século IX que ficou cego com quatro anos e era considerado um génio


Kahlil Gibran
de poetas e poemas,
in" Pensamentos e meditações"
pag 94, 95
edições pergaminho

quinta-feira, novembro 24, 2005

“ Cheguei demasiado tarde à suprema incerteza.”

Ezra Pound

in " Os cantos"
Edição, Assírio & Alvim
tradução e introdução de José Lino Grünewald

"os crisântemos", fotografia de joão gomes

quarta-feira, novembro 23, 2005

quando em mim nada houver, imaginai o incenso nu;

a intensidade de um violino a ouvir o sol
na cidade azul dos homens que, como nós, são de corda.


imaginai, meus filhos, o retorno -
uma festa cada vez mais inacessível, alucinada pelo ouro
do ritual da tempestade.

no fim, vivendo uma pedra branca, branca.

mariagomes
21/23.nov.2005

terça-feira, novembro 22, 2005



....
"Ainda que a propriedade, bem entendida, se não deva nunca transgredir, quer empregando palavras com sentidos que naturalmente lhes não competem, quer usando de modos de dizer que não são próprios da língua, ainda assim, há que reparar que é legítimo violar as mais elementares regras da gramática - no estilo expositivo ou no artístico- se com isso ou a ideia ganha clareza ou firmeza, ou à frase se enriquece o seu conteúdo de sugestão. Se determinado efeito, lógico ou artístico, mais fortemente se obtém do emprego de um substantivo masculino apenso a substantivo feminino, não deve o autor hesitar em fazê-lo.
....
A linguagem fez-se para que nos sirvamos dela, não para que a sirvamos a ela."


Fernando Pessoa
in "A Língua Portuguesa"
pag, 72, 73
edição Assírio & Alvim

sábado, novembro 19, 2005

o sangue eterno

Oh noite infinita,
cuja vertigem eleva o sangue eterno da floresta,
as aves desabaram, virgens.

sobre a tarde,
o céu purpúreo coroado com um dilúvio de penas,
concentrou, na imagem, o gelo permeável dos tendões.

agora, as tuas mãos depuram minhas formas ancestrais.

mariagomes
19 de Nov.2005

sexta-feira, novembro 18, 2005

A neve voltou branca e fria;
cega, coabita um canto suicida.
Com os punhos em flor,
vem conter a ninfa virada, prematuramente, a esse rio.

Neste poema extremo que se deita triste, fala-me de amor.

mariagomes18.Nov.2005

quinta-feira, novembro 17, 2005




"perdi as funções com que fui programado em criança, sou agora um homem sem fé. o que não compreendo torna-se para mim obscuro e muitas vezes surrealista. neste trabalho, as minhas fotografias são quase sempre um espelho da minha perda e do meu vazio."

direitos reservados ao autor, nelson d'aires

quarta-feira, novembro 16, 2005

para escrever um poema
eu confino a vida como um barco envelhecendo o sono;

esta hora de pássaros,

o tempo móvel,

na madrugada, quando se inibem as palavras.

mariagomes
16.nov.2005

segunda-feira, novembro 14, 2005

amo-te pelas alamedas, cercada;
de noite, velo por ti na geografia de estrelas implacáveis.

Oh silêncio de símbolos onde me sento,
é minha a voz íntima de muralhas.

mariagomes
14 de nov.2005

domingo, novembro 13, 2005

DEFINIÇÃO

"Por cultura entendo a mais intensa vida interior, a de mais batalha, a de mais inquietação, a de mais ânsia ."

Miguel de Unamuno

sábado, novembro 12, 2005

Le Chant de Virgile




La musique des flûtes et des lyres
se mêle au bruit des crécelles et
les voix des jeunes chatent un chant sacré:
um son merveilleux et puissant s'élève
vers les cieux qui réjuit les dieux.

Sappho de Lesbos


os poetas da Antiquidade na música da Renascença
edição harmonia mundi, s.a., 2001

sexta-feira, novembro 11, 2005

11 de Novembro e " a CERTEZA de um Filho -de -África- Diferente" - Carlos Gouveia

da tranquilidade da palavra arranca o retrato da loucura,
aí cabe um limite.

Ou talvez, de tuas mãos, ninguém grite.

mariagomes
10.Nov.2005

quinta-feira, novembro 10, 2005

"Esta mulher exilada não pára de morrer
Voltai-lhe o rosto para a terra natal, para que ela exale o último suspiro."

Sayd Bahodine Majrouh


in " A Voz secreta das mulheres afegãs,

o suicídio e o canto"
p, 49
versão de Ana Hatherly
edições cavalo de ferro

Apontamento do Filo-Café de Vigo, a 5 de Novembro...


(Pub " Sete Mares", Vigo)

terça-feira, novembro 08, 2005

em pedra, a minha coroa


( Quinta das Lágrimas, 7.Nov.2005, Coimbra)



para haver uma árvore, lançarei a terra à tua luz;
o orvalho fulminante
agarrado secretamente ao lume.
depois, irromperá a folha
da impressão de um ramo doce e
nu.

como tu, Inês, eu peço que talhem, em pedra,
a minha coroa
no pecado que propaga o linho, na fonte trigueira;
no gume da humanidade que ainda se transfigura,


para haver uma árvore.


mariagomes
out/nov.2005

segunda-feira, outubro 31, 2005

o significado das águas

Havia uma cidade de chuva incendiada,
a mágoa que se expunha a cobrir o mel da manhã.

e nós lá dentro
como se tudo estivesse, abertamente
no rumor da falésia.

um pássaro forjou o significado das águas.

mariagomes

31deout.2005

sábado, outubro 29, 2005

a seiva

Outrora, eclodiam os desertos.
Chegava a integridade de um outono -

a seiva, àquela simples casa que morria
de súbito, e amava.


mariagomes
out.2005

quarta-feira, outubro 26, 2005

os últimos peregrinos

Inventamos palavras cerceando o interior,
e o resto aberto a quem passa
e nos diz:
- estes são os últimos peregrinos,
têm o nódulo da língua ligada ao sol.

amanhã o mar é o mesmo,
os mesmos peixes lavrarão, no azul, a boca de outro caminho.

mariagomes
26out.2005

terça-feira, outubro 25, 2005

César Fernández Moreno




tienen cuerpo las palabras tocan y son tocadas
son caramelos se las puede lamer chupar mamar
hierven como peces en un estanque tropical
tienen tantas formas como las valvas según las rocas a que se adhieran
pero importa mucho más lo que contiene su nacarado seno
la vida deliciosa frágil del ser que las habita
son transparentes para que resplandezca su contenido
son crisálidas clavos ardiendo
granadas que revientan en la mano si no se arrojan a tiempo
sólo viven para morir (...)



fragmento de "Las palabras",
De Argentino hasta la muerte,
Editorial Sudamericana, Buenos Aires, 1963

César Fernández Moreno (Argentina, 1919-1985)

Paul Gauguin



"Where Do We Come From? What Are We? Where Are We Going?"
(Oil on canvas)

a música de um pássaro triste

eu não sei porque cantaste ao meu olvido,
a música de um pássaro triste.

lançariam os dédalos o projéctil
de um sinónimo destinado à rua?

de onde nasceram os pomos que o céu incorpora?
e esta árvore na imortalidade da lâmpada?
e um suicida?

vê como demora o silêncio, vê como se nega o poema
ao abandono, “nas estátuas que são gente nossa”.(1)

mariagomes
24 de out.2005


(1) in "Mãe", Miguel Torga

domingo, outubro 23, 2005

na página


ouve, eu tenho uma lua nova,
dobro-a com os dedos,
na página.
o mar apagou-se não sei porquê!
os sinos ousam no deserto,
nada sabendo do coração ou do afago da pedra onde repousam.


mariagomes
23.out.2005



448

Eis um Poeta - Aquele que
Tira surpreendentes sentidos
Das significações habituais -
E uma Essência tão vasta

Das espécies familiares
Que pereceram diante da Porta -
Que nos espanta não termos sido Nós
A captá-la - antes-

De Imagens, o Revelador -
O Poeta - é Ele-
Quem nos investe - Por Antítese -
Numa perpétua Indigência -

Dessa Herança - tão inconsciente -
Que Roubo algum - o poderia prejudicar -
Ele próprio - para Si Próprio- um Tesouro-
Estranho - ao próprio Tempo -



Emily Dickinson

in "Emily Dickinson
Poemas e Cartas"
pag, 55, edições Cotovia
tradução de Nuno Júdice

sábado, outubro 22, 2005

de algum lado

não podemos perder o que sobra da luz
de algum lado;
sobre a pele, existe a hora de coisas impassíveis.
os comboios brancos,
aquela flor voltada à janela, falando-nos.

não, meu amor, não podemos perder a raiz
de um corpo incandescente, agora, derramado.


mariagomes
out.2005

segunda-feira, outubro 17, 2005


(W. Eugene Smith in art.transidex.ro)



Ao despertar, nesta manhã cinzenta de chuva, a Sofia* exclamou:

-" Avó, apagaram a rua!"


(*Sofia Gomes, 3 anos)


mariagomes
Coimbra,17 , out.2005

domingo, outubro 16, 2005

Rudolf Steiner

"No meu interior vive algo que me guia com mais acerto do que o grau de discernimento que possuo atualmente."


( fotografia de Ruben Moraes)


"A natureza faz do homem um ser natural; a sociedade faz dele um ser social. Somente o homem é capaz de fazer de si um ser livre".

Rudolf Steiner




sexta-feira, outubro 14, 2005

nada de novo

lamento, amigo, não trazer nada de novo.
nem a procura é intensa
nem o encontro de um nome nos diz seja o que for.
as mesas permanecem à espera dos retratos da família.

e os livros guardam toda a poesia.

mariagomes
27.março,2005

quinta-feira, outubro 13, 2005



...

"Palavras, frases, sílabas, astros que giram ao redor de um centro fixo. Dois corpos, muitos seres que se encontram numa palavra. O papel cobre-se de letras indeléveis, que ninguém disse, que ninguém ditou, que caíram ali e ardem e queimam e se apagam. Assim pois, existe a poesia, o amor existe. E se eu não existo, existes tu." (...)

Octavio Paz " Águia ou Sol?"

(recolha de Amélia Pais in " Falar Poesia 1, 1ª série.)

quarta-feira, outubro 12, 2005




10 Quem é essa que desponta como a aurora bela como a lua
fulgurante como o sol terrível como as coisas insígnes?



Cântico dos Cânticos
pag. 67
edição bilingue
Tradução de José Tolentino Mendonça
edições Cotovia, Lda

domingo, outubro 09, 2005

Esta Mudança De Mor Espanto


Ta Muda Tenpu

Ta muda tenpu, ta muda vontadi,
Ta muda ser, ta muda konfiansa;
Tudu mundu é fetu di mudansa,
Ta toma senpri nobus kolidadi.

Sen nunka pára nu ta odja nobidadi,
Diferenti na tudu di speransa;
Máguas di mal ta fika na lenbransa,
Y di ben, si izisti algun, ta fika sodadi.

Tenpu ta kubri txon di berdi manta,
Ki di nébi friu dja steve kubertu,
Y, na mi, ta bira txoru u-ki n kantaba

Ku dosura.Y, trandu es muda sen konta,
Otu mudansa ta kontise ku más spantu,
Ki dja ka ta mudadu sima kustumaba.

Luís Vaz de Camões

tradução para crioulo de Cabo Verde é de José Luís Tavares

sábado, outubro 08, 2005

Nâzim Hikmet :20.01.1902/ 03.06.1963 ( Turquia)

Os cantos dos homens são mais belos que os homens,
mais densos de esperança,
mais tristes,
com uma vida mais longa.

Mais do que os homens eu amei os seus cantos.
Consegui viver sem os homens
nunca sem os cantos;

aconteceu-me ser fiel
à minha bem amada
mas nunca ao canto que para ela cantei:
nunca também os cantos me enganaram.

Qualquer que fosse a sua língua
sempre compreendi os cantos.

Neste mundo,
de tudo o que pude beber e comer
de todos os países por onde andei,
de tudo o que pude ver e ouvir,
de tudo o que pude tocar e compreender
nada, nada
conseguiu fazer-me tão feliz como os cantos...


20 de Setembro de 1960

Nâzim Hikmet


in " Poemas da prisão e do exílio"
editora & etc
Tradução de Rui Caeiro

segunda-feira, outubro 03, 2005

na existência pura

quero fotografar o poema na existência pura,
levantar a delicada forma da carne, da imagem ao nervo,

a morte que transcende a constelação
de um precoce outono perdido na folha onde escrevo.

ah se tu soubesses
como é redonda a levedura que me sela o gesto.

mariagomes
3out.2005

António Maria Lisboa*


(fotografia de mariagomes)

in " A Phala, Um século De Poesia"( 1888-1988)
edição Assírio & Alvim



*António Maria Lisboa (1928-1953) nasceu e faleceu em Lisboa. Foi um dos introdutores do surrealismo em Portugal, tendo colaborado nas sessões do JUBA e nas exposições do Grupo Surrealista Dissidente. Escreveu Erro Próprio (1950), o principal manifesto do surrealismo português, e foi redactor de Afixação Proibida em colaboração com Mário Cesariny de Vasconcelos.
Obras: Ossóptico (Lisboa, 1952), Isso Ontem Único (Lisboa, 1953), A Verticalidade e a Chave (Lisboa, 1956), Exercício sobre o Sono e a Vigília de Alfred Jarry seguido de O Senhor Cágado e o Menino (Lisboa, 1958), Poesia (Lisboa, 1977; 2ª ed., Lisboa 1995).

domingo, outubro 02, 2005

de um coágulo

não saias. vou contar-te uma história pequenina;
uma vez , alguém, apertava a intimidade.
trazia pela mão a noite,
como rendimento o coração determinado.

pai, uma vez, uma ilha oferecia a vida,
vastíssima têmpera de um coágulo.


marigomes
2.out.2005

sexta-feira, setembro 23, 2005

tão completa


tão completa quanto esta manhã,
é a lua cerzida pela sombra

aos olhos abertos da calçada,
a minúcia da meditação,


ou o teu rosto em triângulo
ou agosto que deflagrou.

mariagomes
23set.2005

quarta-feira, setembro 21, 2005

a Sofia e uma resposta...


A Sofia*, hoje, disse-me:

- "Avó, eu tenho uma resposta de prendas: o dinheiro."

( *Sofia Gomes, 3 anos de idade)

mariagomes
20Set.2005

segunda-feira, setembro 19, 2005

Hiroshi Watanabe


(fotografia de Hiroshi Watanabe)

à sensação do voo

todas as pedras se foram.
agora, um cântico coage, imaculado, à sensação do voo.

passo por escadas infindas,
emudeço os ramos dos negros céus do jugo.
juro
que o sangue do meu coração absorve a face das espigas.
juro
que tomo a tua boca, anónima,
quando se incendeia a membrana do vento brando.

todas as pedras se foram,
pela manhã tombada,
em silos púberes, silenciosamente belos, que interpelam.


mariagomes
16 Agosto/Set.2005

nesta madrugada

nesta madrugada de coisas impossíveis,
crê nas palavras.
há palavras que têm o teu nome
na quietude das tâmaras.

como provisão solar, viajo entre o amor e o mar,
e o cerco

que serve um ateneu de mãos raras.

mariagomes
18agosto/set.2005

domingo, setembro 18, 2005

ARTE

"A Arte nasce de constrangimento, vive de luta e morre de liberdade"

André Gide

(fotografia de Augusto Mota)



"Pensamento outonal:

Ainda que só por dentro, as pessoas, como as folhas das árvores,
deviam poder ficar cada dia mais bonitas
antes de cairem por terra."

Augusto Mota
14.09.2005



AUGUSTO MOTA nasceu em Ortigosa, Leiria, em 1936. Licenciado em Filologia Germânica. Foi professor da Escola Industrial e Comercial de Leiria / Escola Secundária Domingos Sequeira, de 1959 a 1996.
Trabalhou em desenho, pintura, mosaico, gravura e publicidade. É autor de diversas capas de livros, assim como de ilustrações para livros de poesia. Fez maquetas e cenários para grupos de teatro de amadores. Executou painéis decorativos de grandes dimensões para estabelecimentos comerciais de Leiria, sendo ainda autor de muitos logotipos de empresas e associações desta região.
Na década de 60 colaborou activamente, com textos e ilustrações, no movimento cultural dos suplementos e páginas literárias da imprensa regional.
Com o seu filme Variações sobre o mesmo traço, pintado e desenhado directamente sobre película de 8mm, obteve em festivais de cinema de amadores, na sua categoria, três primeiros prémios: Figueira da Foz 1963. Rio Maior 1963, Guimarães 1966, além de uma medalha de honra em Andorra, em 1966.
Em 1959 publicou em Coimbra, em edição de autor, o caderno de prosa Quadriculado. É o autor dos textos das bandas desenhadas Wanya, escala em Orongo (desenho de Nelson Dias / edição Assírio & Alvim, Lisboa, 1973) e Copra, a flor da memória (desenho de Nelson Dias, fanzine “Copra”, nº 3, Coimbra, 1974). Está representado na antologia Hiroxima (Nova Realidade, Tomar, 1967) e em Juntos por Lorosae (Jorlis, Leiria, 1999).
Tem vindo a colaborar, com textos curtos, na revista Rodapé da Biblioteca Municipal de Beja, tendo inéditos os seguintes escritos: Metáfora, (1962), O Artifício da Loucura (1964), A Geografia do Prazer (2000) e Sujeito Indeterminado – breviário de textos brevíssimos (2003)
Em 1988, no dia da cidade, a Câmara Municipal de Leiria atribuiu-lhe o Galardão do Município “pela sua valiosa e multifacetada obra artística e cultural”.



exposições mais recentes:


Colectiva de Artistas de Leiria, Galeria 57, Leiria, 1998
Colectiva de Artistas de Leiria “Ars Multiplicata”, Rheine, Alemanha, 1999
Colectiva de Artistas de Leiria “Ars Multiplicata”, Leiria, 2000
Individual, “Quadras & Quadros”, 2ª Festa do Livro, Beja, 2001
Individual, “Quadras & Quadros”, Confraria do Pão, Monte das Galegas, Terena, 2001
Individual, “Quadras & Quadros”, Museu Municipal de Estremoz, 2001
Colectiva internacional “25 anos do Cinanima”, Centro Multimeios, Espinho, 2001
Individual, “Quadras & Quadros”, Galeria da Biblioteca Municipal de Redondo, 2003
Individual, “Quadras & Quadros”, Galeria da Livraria Arquivo, Leiria, 2003
Individual, “Quadras & Quadros”, SAAL 2004, Cortes, Leiria, 2004
Individual, “46 Fotopoemas” , Escola Superior de Educação de Leiria, Fev. 2005

sábado, setembro 17, 2005

tudo se concentra

( a meu pai)


descanso, enfim, na mão a infância longa,

para que o ar nos traga um norte
de claridade cálida,
no espanto.
eu tenho ainda o mármore assinalando

letras de marfim eleitas;
vejo animais à solta,
até os mares alcançam marinheiros,
catapultam-se no céu estrelas suspeitas.
e tudo é tão enorme!

em tudo bate um coração, tudo se concentra.

mariagomes
17 de Set.2005

quinta-feira, setembro 15, 2005

por fim...


por fim,
a dificuldade de entender visivelmente setembro
na desordem dos dedos livres.

na silhueta de tocadores estendida sobre a mesa de alaúdes
não vale a pena os pássaros deporem,


a sul também o corpo vive!


mariagomes
15 Set.2005

quarta-feira, setembro 14, 2005

....
"Seja o que for que vos venham a dizer, uma coisa é indiscutível: a escrita só existe a partir do sentir. E se estão a usar palavras, também têm de usar pensamentos e imagens dado que as palavras são feitas de pensamentos e de imagens. Se estivessem a escrever música, usariam notas e instrumentos. Se estivessem a pintar um quadro usariam uma tela ou papel. Mas todas estas coisas só adquirem vida se forem impulsionadas pelo sentir, um sentir que, neste caso, vem de dentro de vós e que, podem estar certos, nunca se esgotará. Quanto mais o procurarem, mais o acharão."
(...)

Ted Hughes
in " O Fazer da Poesia"

tradução de Helder Moura Pereira
edição Assírio & Alvim
pag. 138

(fotografia de Augusto Mota)


"Os dias deviam começar sempre assim, a transbordar de uma suave religiosidade panteísta!"

Augusto Mota
13 Set. 2005

terça-feira, setembro 13, 2005

falo de jardins

falo de jardins.
resvalo por te querer, flor verde do meu seio.

sem caminho,
levanto a aurora com um arado,

colho câmaras de sede que hão-de vir.

preciso da tua eternidade
da noite meia,
dessa contínua canção que me descobre

quando digo que
- hoje irá anoitecer.

mariagomes
13 Set.2005

sexta-feira, setembro 09, 2005

oh meu amor, gotejam corredores gelados,
senta-se o destino da chuva
a delinear a humanidade de ninguém.

mariagomes
9set.2005

Orazio Centaro


"Greek Tragedy,I" fotografia de Orazio Centaro

quinta-feira, setembro 08, 2005

a rua respira

a rua respira de um amarelo minúsculo,
nos dedos a poesia gasta-se.
com algemas nasceu uma rosa corroendo a paisagem,
e é setembro.
chegaram os sopros pungentes da iluminação.

certamente vestirei um acto inútil,
perderei do sentido a noção.

ouve-me,
ainda que as esferas no meu sangue se esbarrem, o vento
continua a empurrar as aves
que conduzem trenós, e a ternura é veloz.

mariagomes
7 de Set.2005

sábado, setembro 03, 2005

o amor

todo o deserto cabe na boca.

os levantes vêm do fim.

é assim o amor, ondulação lírica
na língua
inexplicável do fogo.

um roubo.

mariagomes
3set.2005

sexta-feira, setembro 02, 2005




"a Poesia é a confissão sincera do Pensamento mais íntimo de uma idade"


Antero de Quental


(In Prosas I, p.306, Coimbra, Imprensa da Universidade)

*Antero de Quental (1842-1891) nasceu em Ponta Delgada, Açores. Frequentou a Universidade de Coimbra, tendo passado depois algum tempo em Paris. Viajou pelos Estados Unidos e Canadá, fixando-se em Lisboa. Pertenceu à à chamada Geração de Setenta, grupo que pretendia renovar a mentalidade portuguesa, e participou nas Conferências do Casino. Foi amigo, entre outros, de Eça de Queirós e Oliveira Martins. Atacado por uma doença do foro psiquiátrico, regressa aos Açores onde se suicida. As suas obras vão da poesia à reflexão filosófica: Raios de Extinta Luz, Odes Modernas, Primaveras Românticas, Sonetos, Prosas e Cartas.






terça-feira, agosto 30, 2005

inquietação

mostra à terra a lonjura que te surpreende.
há nisto tudo uma inquietação como se a morte viesse vestida.
vê pela palavra. a palavra sabe o que é amar
e no entanto
tenta a solidão das cinzas.

mariagomes
30agosto2005

domingo, agosto 21, 2005

Daniel Faria





"Socorre-me, devolve-me a leveza
Da tão primeira nuvem que avistares."

Daniel Faria

in" Explicação das Árvores e de outros animais"
edição Fundação Manuel Leão
pág.58

sábado, agosto 13, 2005

existir


@fotografia de Fernando Costa ( Maputo), "Kruger National Park, S.A."


pela idêntica razão de existir
os pássaros caminham sobre a voz dos búzios.


mariagomes
agosto.2005

de um sopro


fotografia de Fernando Costa ( Maputo) " Kruger National Park, S.A."




as naus entardecem de um sopro ébrio.
e eu sonho, órfã,

com o pão da seriedade,
com a luz do sol
que conforta
e se afunda convalescente.

encontrarei a paz neste tumulto
a esvair-se
por um ministério.

mariagomes
agosto.2005

sexta-feira, agosto 12, 2005

é feio receber e não retribuir!
No último post esqueci-me de deixar o meu beijinho de agradecimento ao meu irmão de Maputo, Fernando Costa, pela fotografia. Ou pelas fotografias, porque ele enviou, quase, um album. Irei seleccioná-las e publicá-las, são belíssimas e falam de África.

Muito obrigada, pelo brilho que vieste dar à Romã.

mariagomes

Kruger National Park, África do Sul


@fotografia de Fernando Costa ( Maputo)

quarta-feira, agosto 10, 2005

com amor


com amor deram-me o sol.
em jorro,

a viagem que ilibava a janela.

era o crepúsculo,
alterno à capela, de um riso fundo.

mariagomes
agosto.2005

terça-feira, agosto 09, 2005

A poesia... de Torquato da Luz


A poesia não é um código secreto
acessível apenas a alguns
nem uma sucessão de palavras
ininteligível pelo próprio autor.

A poesia é uma tentativa
de entender a vida.

(2005)

Torquato da Luz

segunda-feira, agosto 08, 2005

a dor antiga

ardem-me as mãos;
voltou a dor antiga, a que definia a fronteira.
sei que trago a pétala que se estiola,
ponta a ponta,
e que a poesia padece.

converto-me numa frente,
arquejante,
como a vela que, em junho, acendeste a nossa senhora.

era, ainda, a infância.
eu morria, matinal, só com a minha sede,
perseguindo a paz de abraçar vendavais.


ardem-me as mãos, mãe!

mariagomes
agosto.2005

domingo, agosto 07, 2005

Silêncio Que Estão Dormindo Os Lagos E As Açucenas

Adeus Ibrahim...





"Hoy siento gran emoción
Voy a cantarle a mi tierra
A esa famosa región
llamada "perla sureña"

...

"Cienfuegos, yo a ti te llevo
metido en mi corazón, "
...

Ibrahim Ferrer
excerto de "Cienfuegos, Tiene Su Guaguancóby "

quando as gaivotas cantam

quando as gaivotas cantam
o dorso, a um céu aberto

tu perguntas: acendem-se ofertas?

abrigo os braços

num grito insondável
no azul
no teu sexo

quando as gaivotas cantam

é como se nada mais houvesse.

mariagomes
agosto.2005

sexta-feira, agosto 05, 2005

O sol do incêndio


Coimbra, 5 de Agosto, 17 e 50

o que andamos a fazer?


Coimbra, 5 de Agosto, 16 e 58


O horizonte ainda é verde, só que coberto de fumo.
mariagomes

Meu Deus, o que foi que nós fizémos?



...

"Meu Deus, o que foi que nós fizemos?"
'Eram 8h 16min 8s. do dia 6 de agosto de 1945. A interrogação foi a primeira reação de um dos tripulantes do Enola Gay, após presenciar a devastação produzida pela primeira bomba atômica jogada sobre uma cidade povoada.Enola Gay foi o nome dado ao avião norte-americano B-29 pelo seu comandante em homenagem à própria mãe. A cidade era Hiroxima, no Japão, que desapareceu em baixo de uma nuvem em forma de cogumelo. As notícias sobre a cidade eram desencontradas, e ninguém sabia exatamente o que ocorrera. No dia 9 outra bomba atômica foi lançada sobre a cidade de Nagasaki. Os norte-americanos haviam treinado durante meses uma esquadrilha de B-29 para um ataque especial. Nos aviões, quase ninguém sabia o que transportava.Morreram cerca de 100 mil pessoas em Hiroxima e 80 mil em Nagasaki. As vítimas eram civis, cidadãos comuns, já que nenhuma das duas cidades era alvo militar muito importante. O cenário histórico dessa tragédia que permanece até hoje na memória de milhares de japoneses era a guerra no Pacífico, entre Japão e Estados Unidos no contexto do término da Segunda Guerra Mundial.'
....

quinta-feira, agosto 04, 2005

por favor,
dá-me uma lei, uma flor nas avenidas de vénus,
ou o planeta onde escorro como se erguesse o inferno.

pela primeira vez, o azul sibila certeiro.

mariagomes
4 de agosto,2005, 22 h e 45

quarta-feira, agosto 03, 2005

a mesa posta

diz em que país flutua a mesa posta.
a primavera é pequena, imóvel.

nasce para sul à natureza,
espessa,

para uma pausa.

diz que palavras irrompem de catedrais,
porque a arte é autobiográfica

confessa a dualidade do rio onde mergulham facas e beleza.

mariagomes
agosto.2005

terça-feira, agosto 02, 2005

DESCRIÇÃO DE POETA




"O poema é o acto social de uma pessoa solitária".


William Butler Yeats ( 1865-1939)

corpo a corpo

perco as pérolas e o encarnado pede-me o que não tenho.
o sol do regresso a sombra acocorada
o princípio subversivo da chuva
e as minhas mãos que se cravaram no nada.

corpo a corpo arranco os espelhos que ficaram à espera.

mariagomes
agosto.2005

domingo, julho 31, 2005

esta lua

esta lua é uma criança,
e ninguém sabe que enlaça o poema dos verdes ramos.
esta lua é uma graça, à distância estremece

ao ser de sábia mão.
esta lua é um redondo manifesto.

o meu barco, de repente, balança, em silêncio, em fúria;
esta lua insinua.

mariagomes
julh.2005

fotografia de Ansel Adams in art.transindex.ro

sábado, julho 30, 2005

sem ambição

combino formas sem ambição infinita
cai uma frente o futuro uma chuva que avança
para um refúgio de horas que se quebram nos quadris.

há uma claridade audaz que me cega
há um abismo doente de alegria
a infância que vê o mar sempre assim iluminado.

ó deserto impassível ó água corrente e castanha ó rio feliz
abre o meu coração como se a morte fosse uma taça
com feitio de coisas feitas pelo oceano.

o meu coração está mais calmo bate como espírito incriado.


mariagomes
julho.2005

quinta-feira, julho 28, 2005

( sem título)

perdi-me num requesto secular...
perdi-me no perfil de um poente,
e as amoras amadurecem.

o que escrevo é nada, enquanto os luares correm.
há uma dilatação a urdir a fábula, e o ébano.

meu amor, deixa que seja minha a anuência da música.
a música é uma ínsua no tempo.

mariagomes
julho.2005

quarta-feira, julho 27, 2005



....

"Digo no meu escandir privado:
já alcancei a membrana da romã
fruto áfrico neste patamar sagrado
onde o repouso cala o grito da manhã."
....

Heliodoro Baptista


excerto do poema "história irrasurável"
in " Nos Joelhos do Silêncio"
editorial caminho, 2005

ante a margem

até esse amor ficou,
preciso de acordar as pedras do sol.
só depois partirei comigo,
como eu sou,
na delonga do mar
interior

ante a margem e um equívoco.

mariagomes
julho.2005

terça-feira, julho 26, 2005

e.e.cummings

"...citarei muito brevemente um livro maravilhoso, com o qual me familiarizei pela primeira vez através de uma amiga maravilhosa chamada Hildegarde Watson - um livro cujo título em português é Cartas A Um Jovem Poeta, e cujo autor é o poeta alemão Rainer Maria Rilke:

'As obras de arte são de uma solidão infinita e nada nos toca tão pouco como a crítica. Apenas o amor as pode alcançar e deter e julgar equitativamente.'

Na minha orgulhosa e modesta opinião, estas duas frases valem toda a soi-disant crítica das artes que já existiu ou que algum dia existirá. Discordem delas tanto quanto quiserem, mas nunca as esqueçam; porque se as esquecerem terão esquecido o mistério que vocês têm sido, o mistério que serão, e o mistério que agora são-

tantos seres ( tantos demónios e deuses
cada qual mais ganancioso de que todos) é um homem
( tão facilmente um em outro se esconde;
e não pode o homem, sendo todos, fugir a nenhum)

tão vasto tumulto é o mais simples desejo:
tão impiedoso massacre a esperança
mais inocente ( tão profunda é a mente da carne
e tão desperto o que o acordar chama dormir)

assim nunca está mais sozinho o homem só
( o seu mais breve respirar vive o ano de algum planeta,
a sua mais longa vida é a pulsação de algum sol;
a sua menor imobilidade percorre a mais jovem estrela)

- como pode um louco que a si próprio se chama " Eu" supor
que entende um não numerável quem? "

....

E.E. Cummings
in " eu seis inconferências"
edição assírio e alvim

no comments

domingo, julho 24, 2005

imaginário

são minhas as águas que se calam,
é meu o poema perdido, e uns girassóis,

e esta ânsia
devoluta no silêncio que poderia ter nascido.

nada mais tenho, oh lago imaginário.

mariagomes
24julho2005

sexta-feira, julho 22, 2005

" Memória"


(@ fotografia de mariagomes)



De todos os cilícios, um, apenas,
Me foi grato sofrer:
Cinquenta anos de desassossego
A ver correr,
Serenas,
As águas do Mondego.

Coimbra, 1 de Novembro de 1983

Miguel Torga

quinta-feira, julho 21, 2005


Rua Ferreira Borges, Coimbra, 21 de Julho de 2005 @mariagomes

Mia Couto

“Eis a diferença:
Os que antes morriam de fome
Passaram a morrer por falta de comida.”


( taberneiro Tuzébio)

Mia Couto

in “ Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra”

Editorial caminho

quarta-feira, julho 20, 2005

A Morte do Valente

Mamava no verde das tetas de coqueiros,
e no regaço de areias amadas pelo vento,
gostava de brincar com pedras fixas
sem medo, batidas pelo mar.

Um dia descobriu outra identidade;
nome: Valente
filho de: Vontades
idade: Militar

E marchou.

Tanto marchou que, num voo desventrou a terra,
qual ave ferida caiu na cratera da vida.
Ficou-lhe a bater o coração, e à cintura
um coágulo de revólver figurado...

Circulou num andar de ruínas pelas ruas,
lambeu o lixo de muitas vaidades.
Com raiva engolida no tempero da fome
consultou o mercado trocado de valores:
- uma galinha valia mais do que a pólvora!
num gesto herdado de pensar ao vento,
acariciou a cintura...
Logo, de todos os quadrantes partiram balas...
O mundo armado no medo da verdade
atingiu um astro na sua idoneidade.


mariagomes
dezembro, 2002

Sebastião Salgado



"Refugee From Gondan, Mali 1985 "

terça-feira, julho 19, 2005

OBJETIVO




"Os verdadeiros versos não são para embalar, mas para abalar"

Mário Quintana





gradualmente



despir os olhos gradualmente à emoção dos regatos
algo visto intocável
é esse manto de cambraia

o azul da carne
a cintura
no prolongamento de um vulto que sustenta a luxúria.


mariagomes
julh.2005

domingo, julho 17, 2005

" Regatas em Argenteiul"






"...a primeira impressão a que somos sensíveis, nunca deve ser perdida"...

Claude Monet

( a enrique granados)

hoje, não há rosas em casa.
há a consagração vermelha de guitarras
e o navio
saindo das profundezas
com muitas partituras de paris
tocadas,
em valsa, por monet.

mariagomes
julho2005

sexta-feira, julho 15, 2005

difícil aventura

vem comigo fazer a tal viagem.
a poesia foi pensada
na funda, difícil, aventura de filtrar o que somos.
oferece-me um rio,
o outro lado
do trigo que sobrou da eternidade.

mariagomes
julho.2005

quinta-feira, julho 14, 2005

a pergunta de Sofia...

A Sofia* apontou o dedo para um livro, e fez-me a seguinte pergunta : "de quem é essa palavra?"

Hoje, aprendi com a minha neta que a palavra é um livro.


mariagomes



( * com 2 anos e 10 meses)

artCanal



"Vênus" de Zamboni
téc: mista - 80x100- ano 2000

terça-feira, julho 12, 2005

a obsessão

porque me espreita de um piano
a nota solta
minúscula iniciando o mundo

porque é breve a obsessão
e o litoral vai

para uma ilha onde se altiva

porque o milagre é absoluto
de animais que afiam as miragens

porque na música há palavras
eu posso escrever
meu amor.


mariagomes
julho.2005

sábado, julho 09, 2005

e os milhafres

e os milhafres que me ardem na mão,
o cacto, a cor do exílio delirante,
tudo isso exacto em claves e claustros

repartidos pelos dedos de um poente marítimo
a acontecer nos meus deuses, quando ainda havia deuses

qu’ eu podia amar,

o que deles faço?

mariagomes
9 de julho.2005

sexta-feira, julho 08, 2005

Paulo Leminski




ODE À POESIA


"Parem, eu confesso, sou poeta. Cada manhã que nasce me nasce uma rosa na face. Parem, eu confesso, sou poeta. Só meu amor é meu deus, eu sou o seu profeta".

Paulo Leminski ( Brasil, 1944/1989)

Pedro Oom


"Poesia não é uma medalha para por no peito dos tiranos mas uma imensa solidão feita de pedras, onde o despotismo pode encomendar o ataúde. Cada um de nós odeia o que ama. Por isso o poeta não ama a poesia que é só desespero e solidão mas acalenta ao peito as formigas da revolta e da rebeldia, que todos os déspotas querem submissas e procriadoras. Só os voluntários da miséria e da submissão patriarcal querem a poesia na arca da aliança com a tradição pacóvia e regionalista dos pretéritos dias, glórias patrioteiras, heroicidades frustes, pirataria ignara.Todo o verdadeiro poeta despreza o pequeno monte de esterco onde o dejectaram no planeta e a que os outros chamam pátria, e só ama os grandes continentes mares e oceanos da liberdade e do amor. Só nos vastos espaços incriados a poesia serve o seu destino – catapultar o homem nos abismos do desejo incontrolado onde o próprio assassinato é um acto de poesia e de amor. Este assassinato de que falo é o grande amplexo de homem para homem a solidariedade e a ternura, não a caridade hipócrita ou a cama de família, com todo o seu pequeno cortejo de horrores, onde a exploração do filho pelo pai dita a sua lei."

[Pedro Oom, Poema, in Grifo 1968 (?)]


*Pedro dos Santos Oom do Vale (1926 - 1974) foi um escritor surrealista português, que fez parte do Grupo Surrealista Dissidente, juntamente com nomes como Mário Cesariny e Alexandre O'Neill.

quinta-feira, julho 07, 2005

EU QUERO QUE AS FLORES SE PONHAM

EU QUERO QUE AS FLORES SE PONHAM SEMPRE COMO AMENDOEIRAS
BRANCAS BRANCAS BRANCAS
ÀS VEZES ESTOU NUM VERSO E EXPLODEM BOMBAS
ENTRA UM VENTO REFLECTIDO COMO AREIA QUE PROCURA OPOR-SE
E EU VEJO AS COISAS QUE ELE OFERECE
ELE TECE UM CÍRCULO UM MOVIMENTO O SANGUE
INCÓGNITO DA CEGUEIRA ONDE UM VERÃO SE ESCONDE
EU QUERO QUE AS FLORES SE PONHAM SEMPRE LONGE DA VISÃO DO FOGO
EU QUERO AS FLORES SE PONHAM.

mariagomes
7 julho.2005

Marc Chagall




só é meu
o país que trago dentro da alma.
entro nele sem passaporte
como em minha casa.
ele vê a minha tristeza
e a minha solidão.
me acalanta.
me cobre com uma pedra perfumada.
dentro de mim florescem jardins.
minhas flores são inventadas.
as ruas me pertencem
mas não há casas nas ruas.
as casas foram destruídas desde a minha infância.
os seus habitantes vagueiam no espaço
à procura de um lar.
instalam-se em minha alma.
eis por que sorrio
quando mal brilha o meu sol.
ou choro como uma chuva leve
na noite.
houve tempo em que eu tinha duas cabeças.
houve tempo em que essas duas caras
se cobriam de um orvalho amoroso.
se fundiam como o perfume de uma rosa.
hoje em dia me parece
que até quando recuo
estou avançando
para uma alta portada
atrás da qual se estendem altas muralhas
onde dormem trovões extintos
e relâmpagos partidos.
só é meu
o mundo que trago dentro da alma.

Marc Chagall*

(tradução: manuel bandeira)

*Marc Chagall nasceu em 1887 na Rússia Czarista. Filho mais velho de uma família pobre, educou-se em um ambiente de perseguição aos judeus. Em 1910, mudou-se para Paris, onde viveu até 1914 e onde teve contato com as sucessivas vanguardas do mundo das artes plásticas.Inicialmente aceito pelo regime soviético, em 1922 afastou-se dele e regressou para a França. Durante a Segunda Guerra Mundial viveu nos Estados Unidos. Múltiplo artista, cultivou, além da pintura, a cenografia, os vitrais, os mosaicos, etc. O seu mundo pictórico desligou-se em certo modo das vanguardas e tornou-se profundamente pessoal, contendo elementos cubistas e surrealistas, assim como símbolos judaicos e russos. O caráter onírico, a variedade cromática, um aparente infantilismo e a facilidade decorativa repetem-se incessantemente na sua pintura. Reconhecido como um dos principais pintores do século XX, Marc Chagall morreu em 1985, na França.

segunda-feira, julho 04, 2005

pergunta ao renascer

cantar sem a nostalgia,
porque sempre vai à frente
o sol da madrugada.

vento livre de verso humano,
na tua mão traçada,
pergunta ao renascer
:
poderá um critério,
cantar, cantar a forma,
viver em poesia, carne do teu ser?

(que poderá a memória?)



mariagomes
4 julho.2005

domingo, julho 03, 2005

Mia Couto



"Dizem que os poetas sabem, sentindo. Distinguem-se dos homens da ciência porque estes estão credenciados por um saber contabilizável. Mas não há fronteira entre sentir e raciocinar. Persiste em todo o acto de sabedoria um diálogo secreto entre coisas e seres."
....

Mia Couto
excerto do prefácio de " os joelhos do silêncio"
de Heliodoro Baptista
editorial caminho

Ave Solitária / Manuel C. Amor




À Maria Gomes

"Separados fomos por cítaras e canto
Como outros por prisões ou por espadas
"

(Sophia Mello Breyner Andresen)


Ave solitária voando sobre o mar
arrancando o corpo às tempestades.

Vieste do tempo
em que tudo nasce e tudo morre.
Assistes a esta nossa vida
longe da terra combalida.

Nenhuma nostalgia
matará as palavras
com que fazes os versos.


Manuel C. Amor

Julho 2005.

em Escritas

O céu contra os eclipses / Maria do Sameiro Barroso


(fotografia de "a rota dos ventos")


Rosas de um deserto vermelho, num tempo de morrer,
pela primavera, como os reis solares,
para exercitar a beleza, a criação,
o céu contra os eclipses adormecendo na turbulência lírica
dos dias, os meses passando suavemente.
Ontem Giuseppe Sinopoli morreu, em Berlim,
a dirigir o terceiro acto da Aïda.

Debruçada sobre os desertos, pensei no Egipto
dos faraós, em Belzoni, nas primeiras escavações,
num verso de António Ramos Rosa:
— “Desertei da biografia e dos relógios”.

E as lacunas emaranharam-se para construir a súbita
vastidão, os degraus e sua beleza resoluta,
pelos instantes nocturnos onde a intensidade se revela,
o mundo transpira, em cada instante,

o esplendor da claridade estende-se, pelas esfinges
lentas, diuturnas,
sobre a água e os papiros, as pirâmides grandiosas;

Hórus, o Deus Falcão, estendendo as suas asas,
pela agilidade que se ergue
e as luas lentas aproximam-se, porque amo os desertos,
os violoncelos verdes, o ímpeto radioso
e a poesia que se consuma,


pela aventura íngreme de todos os textos.


Maria do Sameiro Barroso*

(21-IV-2001)

(In Revista Mealibra, nº 9, Viana do Castelo, Dezembro, 2001, pg. 167.)

* o meu beijinho de agradecimento à Maria do Sameiro, por este poema oferecido à romã de vidro.

sábado, julho 02, 2005

Nem tudo o que escrevo é poesia. Nem sempre "voo fora das asas" (1), escrevo todos os dias para poder tocar as teclas ou ver no papel correr a caligrafia.
Mas o poema vem quase sempre de um papel.
Se reparo que, se há traços que são inimitáveis na minha caligrafia, reparo também que há dias em que ela se apresenta com ligeiras diferenças, mais fechada ou mais aberta. Julgo que será por essas diferenças que a poesia deve entrar.


mariagomes
2julho.2005


(1) Manoel de Barros

Piazzolla é um adeus inacabado




A Silvia Chueire do blog eugeniainthemeadow, perguntou-me numa Lista de Poesia como tinha surgido o poema que escrevi sem título, e eu disse-lhe que tinha surgido da música. Alguns dos meus poemas nascem da música que me fragiliza, e Piazzolla é um dos compositores que tem esse poder. Oiço-o até à exaustão, tocado de mil maneiras, seja pela Orquestra Filarmónica de Berlim, seja pela Orquestra do Teatro de Cólon. Há variadíssimas composições, fruto da fusão cultural que lhe é característica. Quando parece que tudo foi ouvido, surge uma nova versão ( e qual delas a mais bela?!)

Piazzolla é um adeus inacabado.

Ou um poema inacabado porque, numa outra oficina, Escritas, o Xavier Zarco e o José Félix, depois, escreveram:



ninguém morre de morte natural (1)


são decepadas as árvores
no consumismo das urbes.

só uma sílaba
percebeu o desígnio da morte
fugindo com vento
numa folha velha
de fuligem.

houve cânticos
no canavial da ravina.

josé félix

(1) jorge de sena


.../...


...e converter-se-á

semeados os lábios na sede
indagarão as secretas
águas dos templos

sobre a ara
a flor vermelha

as mãos em silêncio
do frio dos joelhos colherão
as sílabas de cada
uma
das suas pétalas...

Xavier Zarco




sexta-feira, julho 01, 2005

talvez a terra se converta,
e volte co'a flor vermelha.

olha, nunca mais eu vou morrer.
piazzolla tocou, ontem, pela enésima vez.
é preferível que do campo se livre um outono, como a morte.

mariagomes
1julho.2005

quarta-feira, junho 29, 2005

em desalinho

os cabelos nasceram-me mortais e louros.

vê como adormeci à beira do monte.
onde tudo é simples,

existem lugares, em desalinho.

as palavras estão quase tristes.

mariagomes
29junho.2005

segunda-feira, junho 27, 2005

um país de cordas



venho falar-te de um país de cordas
que coincidem.
o voo guarda, na mão, o banho dos rios.
ali, o sol morre.
inicial,
o mar é a morte líquida.
zeus respira na coroação, numa acácia,
num ímpeto de sangue
de terra copiosa
de mães de muito mais.
ali, é lícita a lágrima
:
o homem
e a clareira abrem-se como caracteres que se consomem.

mariagomes
27junho.2005

domingo, junho 26, 2005

na palavra*

não falemos de ilhas,
a brevidade baloiça num rio redondo.
louco,

o inventário pertence a uma canoa de pássaros.
há tanto tempo

ou
hoje,
apenas hoje,
a preguiça presa ao sol
despontou.

de súbito, aqueceu a pedra
naquela língua
que lida

pula

pula

pula.


eu tenho na palavra uma pedra,
a língua que perdura.
há muito mar,
e os meus olhos nem azuis são.

mariagomes
26junho.2005


*ukulele ( no blogue quartzo, feldspato e mica)

sexta-feira, junho 24, 2005

onde ouvir histórias


welwitcha mirabilis, deserto do Namibe, Angola, fotografia de mariagomes



onde ouvir histórias com deus
e o deserto?
sabes, as espinheiras em declínio, exactas,
peremptoriamente
querem escolher dunas

e o esquecimento irrompe de uma chuva de claves.
deus desapareceu no deserto
a escrever versos muito verdes muito
verdes.

mariagomes
24dejunho.2005

um índice


"Avó, desliga o vento"
Sofia Gomes


nunca mais desliguei o poema do vento
porque o poema atravessa o pátio
e as palavras
a medula tem o vagar dos teus laços,
oiço-a na respiração,
como púcaros que bebi.

um índice ilumina as entranhas.

que a primavera me devolva o ouro a pupila,
de um tempo quente
uma ponte
para que, serenamente, possam
seguir-te as águas.

mariagomes
24junho, 2005

quinta-feira, junho 23, 2005



"Menina da Boina Verde"
Autor: Mily Possoz (1888 - 1967)
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Podes entrar ; tenho as mãos para dizer o disperso canto das águas. Os meus olhos, alagados pelo grito das árvores, são lúcidos ao início do sol. Com o amor das coisas, rejubilo e lanço os braços a um rodopio doce e futuro, a uma tempestade humana. Tudo o que eu espero é sentir o elo da criação que se move, entre mim e ti, e a claridade. ____________mariagomes
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