sábado, dezembro 27, 2008



como um primeiro ser vivo como uma ave de cetim
ladeando a ilusão de um céu azul claro
tenho as mãos expectantes
na penumbra pronta de meu sono redimido
nas águas metafóricas
na coreografia das fragas que nasceram
e dão à praia um perfume roxo de ternura
para quem a tarde se ajoelha
para quem o branco da poesia que derramo
para quem a voz de uma só estrela é o silêncio tutelar de um oceano.


mariagomes
dez, 2008

quinta-feira, dezembro 25, 2008

quarta-feira, dezembro 24, 2008



nos campos de refugiados do Congo
a mesmíssima condenação
fechado ao sol o mesmo acervo
a mesma mão erguendo as paredes do medo

nos campos de refugiados do Congo não há natal.


mariagomes
24dez,08




domingo, dezembro 21, 2008

neste horizonte

prometo que doarei a madrugada num dever maior
ao anil da brisa.

prometo expandir as águas
pelos areais tangíveis.

longamente, prometo, pai,
reescrever o teu rosto na rebentação dos dedos,
no cume das lágrimas
do húmus,
no pecúlio de tua devoção
ao singrado sangue que desponta,
gota a gota,
neste horizonte de asserto.



mariagomes
21dez.08


quinta-feira, dezembro 18, 2008

terça-feira, dezembro 16, 2008

para o silêncio



não basta a noite não basta o brilho
não bastam batuques febris girando
girando
na ilusão de sons longínquos

para o silêncio de uma luz acesa
sobre pétalas e pétalas
é preciso inventariar a infância
e as claves dos beirais

um dia houve que olhei o mar
e o seu reflexo veio a mim como um jardim de âmbar
puro
que se renova a cada ramo
revolto na força densa dos corais.

mariagomes
dez, 2008



segunda-feira, dezembro 15, 2008

Eduardo White

a viola





Felizes os homens
que cantam o amor.

A eles a vontade do inexplicável
e a forma dúbia dos oceanos.


Eduardo White

1963, Moçambique
in Amar sobre o Índico

quinta-feira, dezembro 11, 2008


oiço-te numa paisagem de bruma tombada na orgia dos rochedos.
subtil e breve, oiço-te na lua,
és o favo do meu porto recolhendo o barco de dezembro.

a morte existe, sim, marginal. nela envolvi o meu nome
anímico, morto de sede.


mariagomes
dez,2008




quarta-feira, dezembro 10, 2008



tempo de partir o pó de mil fogueiras
amontoar as aves ao luar

tempo de invadir o vento
comover o corpo no ouvido da revolta

tempo de erguer a lágrima
e um arado.


mariagomes
dez, 2008




Artigo 25º 1

dos direitos do homem




Artigo 25.º
1. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade.





terça-feira, dezembro 09, 2008


vê! o meu momento é este
esperar que se decante o estoiro das batalhas
deixar que os mortos falem
aclarar o campo
na terra dura que se suspende em manto.



mariagomes
dez, 2008

acácia em flor 2

Samuel Beckett



Nous naissons tous fous. Quelques-uns le demeurent.

Samuel Beckett

Extrait de En attendant Godot

.....................

Nascemos todos loucos; alguns permanecem (assim)

extraído de À Espera de Godot






entre o corpo e o crepúsculo a terra
tão súbita tão pura
a mesma sede

deixa-me colher na vigília deste vento
a palma desta fonte
a viandante estria a dor viril
da nua madrugada

deixa-me escorrer no sol assente o baleado sonho
a sangue frio
líquida como as ondas e os anjos.

mariagomes
dez, 2008




domingo, dezembro 07, 2008



talvez não saibas que amo as temperadas manhãs
que há um lugar que transcende os olhos
que atravessam sóis como baionetas de sangue

nunca te falei da infância de um acidulado relâmpago
nos passos
das pálpebras
das palavras
de um dever profundo
houve uma rosa submersível condenada à água
e lábios fortíssimos azuis
e faróis perdidos em profusão em chamas

sabes? quando pousei as mãos senti partir o cântico dos mares


chamei por ti.

mariagomes
dez, 2008



sábado, dezembro 06, 2008

O Corte Final


eu também, meu caro waters,
estive preste ao corte final,
a deixar que todos vissem
palavras de sangue na parede
com a letra de uma canção

eu também, meu caro waters,
queria mostrar meu lado fraco
sucumbir à absoluta alucinação
escrever com sangue na parede
os versos de outra canção

eu também, meu caro waters
não tive coragem pro corte final
mas tenho a lâmina guardada:
talvez em alguma madrugada
eu escreva a definitiva canção.

Fred Matos
05/12/2008

sexta-feira, dezembro 05, 2008

variações sobre a cruz




Foste morto numa cruz
p'ra onde te levou o povo.
Que Te fariam Jesus
se cá viesses de novo?!

IN Alberto Sá,
"OITENTA MENSAGENS" 1993



posso emigrar no teu nome amar os rios
abrir a chuva
o sorrir

no regaço da aurora
prolongar a sede do anoitecer.


...

mariagomes
dez/2008


quinta-feira, dezembro 04, 2008



amanhã quando vazarem as cordilheiras
e o clamor for mais alto
da chuva a
cair
na distância que sela um hierático silêncio
escreverei poemas de amor.
nessa hora de porões translúcidos
contornarei a linha
verso a verso
consignando o mito do deserto.

amanhã falarei de ti da vertente febril
dos teus braços
sobre o amanhecer dos séculos.

mariagomes
dez/2008






Mahatma Gandi



"O único tirano que aceito neste mundo é a pequena voz silenciosa que há dentro de mim."

Mahatma Gandhi
1869/1948


segunda-feira, dezembro 01, 2008

domingo, novembro 30, 2008

Estrela

Legenda
para aquela estrela
azul
e fria
que me apontaste
já de madrugada:
amar
é entristecer
sem corrompermos
nada.

Carlos de Oliveira

in cd " Ao Longe os Barcos de Flores"





51 Faixa 51- Estrela.wma - poema de Carlos de Oliveira

sábado, novembro 29, 2008

"as árvores morrem de pé"


ouve as árvores o sangue a sua ramagem

imagina um Outono
em arco como se fosse teu

como é tão próxima
ao longe
a nau que não morreu!

mariagomes
29 nov.2008

na dicção de um sonho


não, não renunciarei à urgência dos espectros,
a este claro coração;
expectante,
a morte é um rio secreto.
há muito tempo, eu sei,
nos nós dos dedos,
no fulgor do estio
abriam-se corolas vivas
com a respiração do verde, entre sílabas e sílabas.


mariagomes
nov/2008





segunda-feira, novembro 24, 2008



tudo se oferece à poesia!
mesmo o princípio mortal da manhã , esse oceano
onde se fundem os refluxos da evocação de um adeus:
- a neblina convulsiva, a purificada cinza nos teus lábios, nos meus.

mariagomes
24nov.08

sexta-feira, novembro 21, 2008


até à sensibilidade solar, terei os olhos leves do gorjear das aves,
a voz do litoral , o sequioso beijo de uma glicínia;
e tudo o que se fizer incólume,
como a luz de um areal
nas vogais da noite,
ou na quietude dos passos inacabados da poesia.


mariagomes
nov, 2008


quarta-feira, novembro 19, 2008

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[...] " quem não sonhar está morto. O mundo como ele hoje é, não vale nada. É preciso que ele seja conforme o conceber da nossa fantasia, criadora de beleza. Este antagonismo entre o mundo e a alma humana seria incompreensível se não víssemos nele a própria razão da nossa actividade moral: o aperfeiçoamento das cousas, a sua disposição em marcha para um fim divino. O homem é o único animal que não coincide com o mundo;e seu destino é dilatar o mundo até onde chega a fantasia, até ao céu. O mundo é céu materializado e condensado, para que as patas dos animais encontrem um ponto de apoio no Infinito, como encontraram refúgio na Arca de Noé."[...]

Teixeira de Pascoaes
in " S.Paulo"

edição Assírio& Alvim



dorme, junto a mim, um sonho entretecido
para que o poema principie
e seja a messe, a sombra, a floração, a prece,
o respigar das mãos.

mariagomes
19,nov, 2008


terça-feira, novembro 11, 2008

na captura do sul

meu pai




( a meu pai, em memória)


eu enunciei as aves
nas margens compulsivamente dadas à terra,
em suas entranhas,
nas mãos que partiam dos rios
por coisas de somenos importância…

e tu, na captura do sul, num odorífico deserto
falaste-me de amor, de libertação.

mariagomes
Angola, 11 de Novembro de 2008


quinta-feira, novembro 06, 2008


aonde estou quero a renúncia urdida pela água
que deriva dia a dia
quero as sombras perdidas
os afectos
quero os pássaros de coração aberto
e o mar que nunca vi
agrilhoado a meus dedos
onda a onda
o trigo!
-um oloroso trigo que cresce como se possuíssemos o fogo.

mariagomes

nov,2008


segunda-feira, novembro 03, 2008



[...]
My God, what is a heart?
Silver, or gold, or precious stone,
Or starre, or rainbow, or a part
Of all these things, or all of them in one?
(Mattens)

[...]

Meu Deus, o que é um coração?
Prata, ou ouro, ou pedra preciosa,
Ou estrela, ou arco-íris, ou parte
De todas estas coisas, ou todas numa só?


George Herbert

sábado, outubro 25, 2008

quinta-feira, outubro 23, 2008



por que me procuras nas lágrimas do sol?
em si, ele é o novíssimo meneio da saudade
- sem remos a envelhecer os rumos.

por que me deixas, só, entregue a seus cuidados,
sem cais, sem ver partir as velas?


mariagomes
23out.2008

quarta-feira, outubro 22, 2008



[...]
Muito, ó Poeta, o engenho pode dar-te.
Mas muito mais que o engenho, o tempo, e estudo;
Não queiras de ti logo contentar-te.
É necessário ser um tempo mudo!
Ouvir, e ler somente: que aproveita
Sem armas, com fervor cometer tudo?
Caminha por aqui. Esta é a direita

Estrada dos que sobem ao alto monte
Ao brando Apolo, ás nove irmãs aceita.
Do bom escrever, saber primeiro é fonte.
Enriquece a memória de doutrina
Do que um cante, outro ensine, outro te conte.

[...]

António Ferreira

Carta a Diogo Bernardes
in Textos Literários do século XVI

“ A Corrente clássica e italianizante:
o magistério literário de António Ferreira"
1. Concepção aristocrática da Arte e dignidade das Letras
Editorial Aster




terça-feira, outubro 21, 2008



acredito nos pássaros, em todas as manhãs,
no sexo das árvores,
no colóquio das harpas de seu corpo nu.

pelo moroso fio de Penélope a minha voz
é fiel ao encanto que carmina o azul.


mariagomes
out,2008


sexta-feira, outubro 17, 2008


deve ter sido o amor mais puro, numa outra primavera.
- assim pensei, a ouvir as ondas no seu ritmo terrestre.

em tudo houve uma forma evidente, um verde,
uma paisagem esdrúxula
onde se ajusta o silêncio, em filigrana,
ao despojado luar libidinal.

mariagomes
out.2008



terça-feira, outubro 14, 2008



A arte é a mão direita da natureza. Esta nos deu o ser, mas a primeira - tornou-nos homens.

Johann Christoph Friedrich von Schiller
[1759/1805]


terça-feira, setembro 30, 2008




brandas águas bebi de olhos abrasados;
sepultei o pranto,
sepultei a súplica, o sopro, a música
e o mar...

todo o espaço é alvo, todo o céu

aguado.

mariagomes
30, set.08

segunda-feira, setembro 22, 2008

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'o meridiano', paul celan

quarta-feira, setembro 17, 2008



palavras?
_as que purgam a seiva ondulante
a maresia que se anula
onde a noite avultaria a força humana
e a contemplação do sol
e o silêncio fundeado em mim como um navio.

mariagomes
set,08




segunda-feira, setembro 15, 2008

que direi, pois, se tudo é crível;
o afeiçoado piar dos pássaros
e este abandono...

num equidistante precipício áureo,
a soma visceral
- o meu rosário pleno de fogo.


mariagomes
set,2008


quarta-feira, setembro 10, 2008

Na sequência da apresentação das Edições Torino Poesia em Paris (La Libreria), Amesterdão (Libreria Bonardi), Lugano (Postate), é agora a vez de Lisboa, no dia 18 de Setembro, quinta-feira, às 18:30.



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segunda-feira, setembro 08, 2008



Para o Rio de Janeiro, à Eliana Mora.



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quinta-feira, setembro 04, 2008


ah tempo que vaza pelas tardes ardilosas,
esboço de luz que recai sobre as minhas águas,
aqui cheguei com os ramos perecíveis!

alguém, por mim, há-de blindar
o acervo do sol,
do arcano dos sinos, das sinistras flores do além.



mariagomes
set.08

domingo, agosto 31, 2008

...e se a tempestade arrastar o ganha-pão destas famílias? Com o céu carregado, a praia deserta e a interrogação na cabeça, fotografei estes barcos que afligiam. Sobre isto, conversei com o Augusto Mota, que compôs este 'slideshow':




sábado, agosto 30, 2008




Le courage de la goutte d'eau, c'est qu'elle ose tomber dans le désert.
[ Lao She ]extrait de Quatre générations sous un même toit

A coragem da gota d'água é que ela ousa cair no deserto.
[ Lao She ] tirado de Quatro gerações sob o mesmo tecto


segunda-feira, agosto 25, 2008

quinta-feira, agosto 21, 2008


conservo ainda a palavra que fende o outono,
a que lava a margem

e regressa a este difícil tempo de amar.

habitando o destino do teu círculo insurrecto,
velo incessantemente a noite.
quando o sol nascer,
levarei o amor ao sepulcro inviolado
das aves;
ao eco, o fogo pátrio,
o silêncio arauto da matriz das tempestades.

nada nos foi prometido, nem um olvido.
a palavra é o fragor de um dia sem porto
nem pôr do sol.

dá-me o estro,
uma branca toalha
espargindo o esplendor, o sal, a âncora…
deve haver um caminho para o mar.


mariagomes
agosto.08

terça-feira, agosto 05, 2008


há constelações a conduzirem-me
como inata substância que se expande em súplica
na primavera cegou um lírio
imemorial
urdindo a voz onde a nudez se avulta.


mariagomes
ag.2008


sexta-feira, agosto 01, 2008



içaram as árvores as suas vestes de fogo
logo houve um exílio.
as minhas lágrimas foram escritas por aí.


mariagomes
ag.2008

sábado, julho 26, 2008

sexta-feira, julho 25, 2008



no tempo que defendo os areais sem fim
num modo de imaginar a secura concisa
adiei os barcos à deriva

tudo se retém no meu amado : os pássaros verdes
o elevado perfume daquela mancheia de sol
um mar profundo
inacessível.

mariagomes
julho.08



quarta-feira, julho 16, 2008

domingo, julho 13, 2008


és o lugar onde a raiz se incendeia,
curada lã do meu signo;
entrarei por ti
como uma candeia desfolhando teu ciclo…


de noite, eu sei, num exacto tremor,

a vaga é o meu grito, o som da manhã,
ou o orvalhado langor das florestas.

mariagomes
julho.08




sexta-feira, julho 04, 2008




[…]
Los poetas de este tiempo saben que la poesía es un movimiento hacia el otro que viaja del misterio de uno al misterio de todos y en ese encuentro, gana su transparencia. Viaja sin nombre, sin número, ajena al cálculo y a sumisión, corrige la frialdad y el desamor, junta los pedazos del mundo y abriga en su tienda de fuego.Nosotros los demás debemos aprender a escuchar el deseo de los poetas, sino pasamos de largo engañándonos. Tal vez lo que el poeta intenta toda su vida es escribir un poema, uno solo que sea pariente de la magia. El poeta no sería entonces un pequeño dios, como quiso Vicente Huidobro, sino un mero mendigo de la magia que siempre se le da por accidente, un perseguidor perseguido por un sonido que sabe que no existe.
[…]

Juan Gelman
Excerto da conferência de 2007
in Artes poéticas


sexta-feira, junho 27, 2008



para um cuidado o clamor da luz
para um incêndio a inflexão da bruma

os braços que originam o deserto são para mim.

mariagomes
27junho.08


quinta-feira, junho 26, 2008



há uma manhã no lugar incendiário da linguagem
uma manhã com um pigmento de sol
a bater na apoteose
e o peito a arder
e eu estou nessa manhã
nesta lonjura
usando a vértebra obscura e o rebordo das paisagens.

mariagomes
26junho.08


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As Edições Sempre-em-Pé e a Casa Fernando Pessoa têm o prazer de convidar V. Exa para uma sessão em que serão apresentadas as duas séries de poesia actualmente publicadas pela editora referida: a série DiVersos - Poesia e Tradução, que se publica desde 1996, e a colecção de poesia UniVersos, iniciada em 2005.
Além de outros números recentes, estará disponível o n.º 13 da DiVersos, acabado de publicar em Junho. Serão lidos poemas por alguns poetas (Cristino Cortes, João Miguel Henriques, J. T. Parreira e Ruy Ventura) e tradutores (Ana Maria Carvalho, José Lima e Manuel Resende) que já colaboraram com a DiVersos.
Dos quatro títulos publicados na colecção UniVersos, os dois últimos serão abordados com mais vagar: Rio Abaixo, Rio Acima, do poeta alemão Tobias Burghardt, numa edição bilingue com tradução portuguesa de Maria de Nazaré Sanches, e Gloria Victis, do poeta Carlos Garcia de Castro, com a presença e apresentação pelo Autor e comentário crítico do Dr. Rui Cardoso Martins, do Jornal Público.
A sessão será coordenada por José Carlos Costa Marques, um dos coordenadores de DiVersos e editor de ambas as séries. A entrada é livre.

domingo, junho 22, 2008

sábado, junho 21, 2008



vi morrer o sol
e tu erguendo o sol à terra
de um vermelho vivo

eram de súbito os pássaros
de milho.


mariagomes
19 junho de 2008



quarta-feira, junho 18, 2008



eu sou uma rosa
rompo o fogo amargo
de um canto célere
a solidão do mar

eu sou outra rosa
dói-me nascer
em
e
s
p
i
r
a
l
como um cisne como um lago.

mariagomes
18 de Junho de 2008



terça-feira, junho 17, 2008

domingo, junho 15, 2008



tenho uma janela de pedra aberta para o mar

os peixes muito azuis
escritos num muro
tenho os
pés na água
deste luar tão escuro nesta candeia rasa.


mariagomes
15jun.2008


sexta-feira, junho 13, 2008

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[...]
'Não tenho sentimento nenhum político ou social. Tenho, porém, num sentido, um alto sentimento patriótico.Minha pátria é a língua portuguesa. Nada me pesaria que invadissem ou tomassem Portugal, desde que não me incomodassem pessoalmente. Mas odeio, com ódio verdadeiro, com o único ódio que sinto, não quem escreve mal português, não quem não sabe sintaxe, não quem escreve em ortografia simplificada, mas a página mal escrita, como pessoa própria, a sintaxe errada, como gente em que se bata, a ortografia sem ípsilon, como o escarro directo que me enoja independentemente de quem o cuspisse.
Sim, porque a ortografia também é gente. A palavra é completa vista e ouvida. E a gala da

transliteração greco-romana veste-ma do seu vero manto régio, pelo qual é senhora e rainha.'

Fernando Pessoa (n. 13/06/1888, f.30/11/1935)

Livro do Desassossego por Bernardo Soares
( Prefácio e Organização de Jacinto do Prado Coelho.) Lisboa: Ática, 1982.

terça-feira, junho 10, 2008



deixa o lume ancorado nos meus dias
estrema o fecundo
polariza os lagos para eu não morrer

pertence à sede
o exercício do meu ser.

mariagomes
jun, 08

segunda-feira, junho 09, 2008


" Ah ninguém entender que ao meu olhar
Tudo tem certo espírito secreto! "

Cesário Verde


domingo, junho 08, 2008

uma fotografia


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está no interior a musicalidade do aroma,
é no interior que as coisas afloram.
não me perguntes quais.
são pequenas e tantas coisas
que roçam a pele, olham nos olhos,
e tiram uma fotografia, quase eterna;

a preto e branco eu morro,
afogada à luz de floreiras.

mariagomes
coimbra, 19 de maio.2003

sexta-feira, junho 06, 2008

quinta-feira, maio 29, 2008



hei-de inverter
um trinado prisioneiro…

hei-de arrancar a brisa à celebração festiva,
e a morte…
a morte pousada no mais puro do vermelho.

mariagomes
29,maio,08

quarta-feira, maio 28, 2008


se fosse minha a noite de trazer as mãos cilíndricas,
todo um apuro que preenchesse um campo de brados seculares.
se fosse minha a prolífera devastação…
ah, se fossem os cumes subversivos
a cinza dos meus versos,
a mítica anuência que eximiu o sangue de um tear fugaz,
hoje, ouviria o fruto cravado nas mandíbulas dos palmares!


mariagomes
maio,2008

segunda-feira, maio 26, 2008

Soneto do Regresso

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Volto contigo à terra da ilusão,
mas o lar de meus pais, levou-o o vento
e se levou a pedra dos umbrais
o resto é esquecimento:
procurar o amor neste deserto
onde tudo me ensina a viver só
e a água do teu nome se desfaz
em sílabas de pó
é procurar a morte apenas,
o perfume daquelas
longínquas acuçenas
abertas sobre o mundo como estrelas:
despenhar no meu sono de criança
inutilmente a chuva da lembrança.

Carlos de Oliveira (1921/1981)

in ' Ao longe os barcos de flores'
edição Assírio & Alvim

domingo, maio 25, 2008



as mariposas são flores sob um campo desmedido
vão nivelando o sangue miraculoso
no arvoredo
que um lavrador progride.

mariagomes
25 Maio.08


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quinta-feira, maio 22, 2008

Guerra


'Criança, houve céus que afinaram a minha óptica: todos os matizes me foram inscritos na fisionomia. Os Fenómenos comoveram-se. –

Actualmente, a inflexão eterna dos momentos e o infinito das matemáticas perseguem-me através deste mundo em que aguento todos os factos da sociedade, respeitado pela infância estranha e por afeições desmedidas. –
Penso numa Guerra justa ou injusta, com uma lógica particularmente imprevisível.
É tão simples como uma frase musical.



Guerre

Enfant, certains ciels on affiné mon optique: tous les caractères nuancèrent ma physionomie. Les Phénomènes s’émurent –

A present, l’inflexion éternelle des moments et l’infini des mathématiques me chassent par ace monde où je subis tous les succès civils, respecté de l’enfance étrange et des affections énormes. –
Je songe à une Guerre, de droit ou de force, de logique bien imprévue.
C’esta aussi simple qu’une phrase musicale. '

Arthur Rimbaud
in “ O rapaz raro”
tradução de Maria Gabriela Llansol
Relógio D’água




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'Se alguma literatura inovadora conseguir sobreviver será a poesia, pois, entre todas as artes, é a menos vinculada às mudanças monetárias.'

Douglas Messerli


Douglas Messerli (1947), poeta, dramaturgo e editor norte-americano, associado ao movimento da Language Poetry. Publicou, entre outros títulos, Dinner on the lawn (1979), Some distance (1982) e An apple (1993). Organizou a antologia From the Other Side of the Century, de poesia contemporânea dos Estados Unidos. É diretor da casa editorial Sun & Moon, de Los Angeles.

quarta-feira, maio 21, 2008

terça-feira, maio 20, 2008

Canto A Minha Mãe


Sento-me. Canto a minha mãe, viúva na progressão do vento
numa híbrida pancada.
Na voz inicial do grito, neste sol que desce,
se todo o pranto me contivesse
ó doce mãe, ó rosa que medita…
No que é antigo
tu vieste nomear o trigo!

mariagomes
maio.2008
embora isso não me salve, voltarei, sem ti,
a ouvir a voz do mundo numa enxada,
ou a voz da chaga dos relâmpagos profundos
correndo o velo das constelações tardias

tu sabes, devo estar perto da loucura dos sinos.

mariagomes
22abril2008
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quando ao mar me dou, e entre os peixes avisto os escolhos
recolho o nácar dos afogados;
sobre os tapetes do meu jardim,
ele é mais belo
que o abrasar de chuva que resplandece em ouro.

mariagomes
21.abril2008

a minha memória é um caminho, um pensamento apátrida,
o afecto, a pele desta palavra que
entre os palmares, nomeia a propensão da água,
a linha azul de todos os lugares.

mariagomes
abril.2008
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segunda-feira, maio 19, 2008

dir-me-ás que não canto
tenho em mim a madrugada de todos os entardeceres
o rosto de um cântaro que o sol abandona em cruz

dir-me-ás que é de pedra a pele que se abriu aos homens
guardando a luz.

mariagomes
março, 2008

sexta-feira, maio 16, 2008

sexta-feira, março 07, 2008



O poeta é um primitivo, ama os sortilégios. Mas é em nome desse amor que a sua recusa tem a força de um destino, num mundo que vai abdicando de o ser. Ele é por excelência aquele que diz não à peste negra da mentira, e se opõe, implacável, ao rasteiríssimo jogo da vileza institucionalizada. Porque a palavra poética visa a subversão – se assim não fora, que sentido teria esta música onde o homem morre sílaba a sílaba para que outro homem nasça?

Eugénio de Andrade

In Rosto Precário

Edição fundação Eugénio de Andrade

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Podes entrar ; tenho as mãos para dizer o disperso canto das águas. Os meus olhos, alagados pelo grito das árvores, são lúcidos ao início do sol. Com o amor das coisas, rejubilo e lanço os braços a um rodopio doce e futuro, a uma tempestade humana. Tudo o que eu espero é sentir o elo da criação que se move, entre mim e ti, e a claridade. ____________mariagomes
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