sábado, dezembro 27, 2008



como um primeiro ser vivo como uma ave de cetim
ladeando a ilusão de um céu azul claro
tenho as mãos expectantes
na penumbra pronta de meu sono redimido
nas águas metafóricas
na coreografia das fragas que nasceram
e dão à praia um perfume roxo de ternura
para quem a tarde se ajoelha
para quem o branco da poesia que derramo
para quem a voz de uma só estrela é o silêncio tutelar de um oceano.


mariagomes
dez, 2008

quinta-feira, dezembro 25, 2008

quarta-feira, dezembro 24, 2008



nos campos de refugiados do Congo
a mesmíssima condenação
fechado ao sol o mesmo acervo
a mesma mão erguendo as paredes do medo

nos campos de refugiados do Congo não há natal.


mariagomes
24dez,08




domingo, dezembro 21, 2008

neste horizonte

prometo que doarei a madrugada num dever maior
ao anil da brisa.

prometo expandir as águas
pelos areais tangíveis.

longamente, prometo, pai,
reescrever o teu rosto na rebentação dos dedos,
no cume das lágrimas
do húmus,
no pecúlio de tua devoção
ao singrado sangue que desponta,
gota a gota,
neste horizonte de asserto.



mariagomes
21dez.08


quinta-feira, dezembro 18, 2008

terça-feira, dezembro 16, 2008

para o silêncio



não basta a noite não basta o brilho
não bastam batuques febris girando
girando
na ilusão de sons longínquos

para o silêncio de uma luz acesa
sobre pétalas e pétalas
é preciso inventariar a infância
e as claves dos beirais

um dia houve que olhei o mar
e o seu reflexo veio a mim como um jardim de âmbar
puro
que se renova a cada ramo
revolto na força densa dos corais.

mariagomes
dez, 2008



segunda-feira, dezembro 15, 2008

Eduardo White

a viola





Felizes os homens
que cantam o amor.

A eles a vontade do inexplicável
e a forma dúbia dos oceanos.


Eduardo White

1963, Moçambique
in Amar sobre o Índico

quinta-feira, dezembro 11, 2008


oiço-te numa paisagem de bruma tombada na orgia dos rochedos.
subtil e breve, oiço-te na lua,
és o favo do meu porto recolhendo o barco de dezembro.

a morte existe, sim, marginal. nela envolvi o meu nome
anímico, morto de sede.


mariagomes
dez,2008




quarta-feira, dezembro 10, 2008



tempo de partir o pó de mil fogueiras
amontoar as aves ao luar

tempo de invadir o vento
comover o corpo no ouvido da revolta

tempo de erguer a lágrima
e um arado.


mariagomes
dez, 2008




Artigo 25º 1

dos direitos do homem




Artigo 25.º
1. Toda a pessoa tem direito a um nível de vida suficiente para lhe assegurar e à sua família a saúde e o bem-estar, principalmente quanto à alimentação, ao vestuário, ao alojamento, à assistência médica e ainda quanto aos serviços sociais necessários, e tem direito à segurança no desemprego, na doença, na invalidez, na viuvez, na velhice ou noutros casos de perda de meios de subsistência por circunstâncias independentes da sua vontade.





terça-feira, dezembro 09, 2008


vê! o meu momento é este
esperar que se decante o estoiro das batalhas
deixar que os mortos falem
aclarar o campo
na terra dura que se suspende em manto.



mariagomes
dez, 2008

acácia em flor 2

Samuel Beckett



Nous naissons tous fous. Quelques-uns le demeurent.

Samuel Beckett

Extrait de En attendant Godot

.....................

Nascemos todos loucos; alguns permanecem (assim)

extraído de À Espera de Godot






entre o corpo e o crepúsculo a terra
tão súbita tão pura
a mesma sede

deixa-me colher na vigília deste vento
a palma desta fonte
a viandante estria a dor viril
da nua madrugada

deixa-me escorrer no sol assente o baleado sonho
a sangue frio
líquida como as ondas e os anjos.

mariagomes
dez, 2008




domingo, dezembro 07, 2008



talvez não saibas que amo as temperadas manhãs
que há um lugar que transcende os olhos
que atravessam sóis como baionetas de sangue

nunca te falei da infância de um acidulado relâmpago
nos passos
das pálpebras
das palavras
de um dever profundo
houve uma rosa submersível condenada à água
e lábios fortíssimos azuis
e faróis perdidos em profusão em chamas

sabes? quando pousei as mãos senti partir o cântico dos mares


chamei por ti.

mariagomes
dez, 2008



sábado, dezembro 06, 2008

O Corte Final


eu também, meu caro waters,
estive preste ao corte final,
a deixar que todos vissem
palavras de sangue na parede
com a letra de uma canção

eu também, meu caro waters,
queria mostrar meu lado fraco
sucumbir à absoluta alucinação
escrever com sangue na parede
os versos de outra canção

eu também, meu caro waters
não tive coragem pro corte final
mas tenho a lâmina guardada:
talvez em alguma madrugada
eu escreva a definitiva canção.

Fred Matos
05/12/2008

sexta-feira, dezembro 05, 2008

variações sobre a cruz




Foste morto numa cruz
p'ra onde te levou o povo.
Que Te fariam Jesus
se cá viesses de novo?!

IN Alberto Sá,
"OITENTA MENSAGENS" 1993



posso emigrar no teu nome amar os rios
abrir a chuva
o sorrir

no regaço da aurora
prolongar a sede do anoitecer.


...

mariagomes
dez/2008


quinta-feira, dezembro 04, 2008



amanhã quando vazarem as cordilheiras
e o clamor for mais alto
da chuva a
cair
na distância que sela um hierático silêncio
escreverei poemas de amor.
nessa hora de porões translúcidos
contornarei a linha
verso a verso
consignando o mito do deserto.

amanhã falarei de ti da vertente febril
dos teus braços
sobre o amanhecer dos séculos.

mariagomes
dez/2008






Mahatma Gandi



"O único tirano que aceito neste mundo é a pequena voz silenciosa que há dentro de mim."

Mahatma Gandhi
1869/1948


segunda-feira, dezembro 01, 2008

Powered By Blogger

Arquivo do blogue

Acerca de mim

A minha foto
Podes entrar ; tenho as mãos para dizer o disperso canto das águas. Os meus olhos, alagados pelo grito das árvores, são lúcidos ao início do sol. Com o amor das coisas, rejubilo e lanço os braços a um rodopio doce e futuro, a uma tempestade humana. Tudo o que eu espero é sentir o elo da criação que se move, entre mim e ti, e a claridade. ____________mariagomes
Estou no Blog.com.pt

Free Site Counters



Free Site Counters