terça-feira, dezembro 28, 2004

que venham rosas




que venham rosas descer pela chaminé
e outros sinais avancem em direcção ao sonho.
que o mar vagueie terno pela terra,
sem cadáveres,
pernoite nas palavras,
saliente em hélice o hálito do amor.
e uma lua cresça no teu corpo
na serenidade das coisas que te acordam
como uma flor
na verdade que outros sois inventam.

mariagomes
28.dez.2004

segunda-feira, dezembro 27, 2004

o que diz o poeta...


(foto de Eduardo Simões)



A poesia
é uma família
dispersa
de náufragos
bracejando
no tempo
e no espaço.

Augusto de Campos

in Verso Reverso Controverso, 1978.
Ed. Perspectiva.


sábado, dezembro 25, 2004

quando eu nasci

g


" Quando eu nasci, já as lágrimas que eu havia
De chorar, me vinham de outros olhos."
Dante Milano


quando eu nasci havia uma praia de fogo
e de palha

os olhos verdes da minha mãe vigiavam o mar
por uma lágrima

solitariamente os homens abriam o sol ardia a verdade
de um fulgor infinito

quando eu nasci existia um grito
igualmente as estrelas compunham a cor.

mariagomes
dez.2004


“(...) os poetas (...), esses briguentos seres desequilibrados, que falsamente se intitulam apóstolos, mas, em dupla, roem a carne do terceiro. Os poetas, que cantam a pureza, mas que passam ao largo até das proximidades de um banho. Os poetas que esmolam de todos, até dos mendigos, só uma pequena chamada, só um pouco de carinho, só esmolam uma estatuazinha na esquina, a esmola da imortalidade dos mortais, esses cabeças-de-vento, invejosos, pálidos masturbadores, que venderiam sua alma por uma rima, por uma indicação, que expõem no mercado seus segredos mais íntimos, que tiram vantagem até da morte de pais, mães, filhos, e mais tarde, anos passados, ‘numa noite de inspiração’, quebram suas tumbas, abrem seus caixões, e com a lanterna de gatunos da vaidade pesquisam ‘emoções’, como ladrões de tumbas procuram dentes de ouro e jóias, depois confessam e se arrependem, esses necrófilos, esses feirantes. Desculpem, mas eu os odeio.”

Dezsö Kosztolányi, poeta e romancista húngaro ( 1885-1936)

sexta-feira, dezembro 24, 2004


Giordano Rizzardi, Cristo, 2003




"Estamos a sentir a tua falta, pá...
Isto tinha mais piada se tu abrisses um bocadinho o jogo.
Se tornasses inquestionável a tua existência.
És um Deus, que diabo, o que perdias tu com isso?
Desta vez não virias como homem, assim como te conhecemos,
guedelhudo, magricelas, o corpo enrolado nuns trapinhos, meio
Jim Morrison, meio Mahatma Gandhi. E não levarias tanto tempo como 33
anos a fazer efeito.
Terias que ser outra coisa. Uma água de chuva, uma água que caísse
de um céu imaculadamente azul, directamente da fonte divina.
Uma água que emendasse o que está mal. Fertilizasse o que está seco.
Uma água impossível de conceber. Vês?
Não beliscaríamos a tua natureza metafísica. Serias um espírito áqueo
e santo. A diferença é que poderíamos guardar-te em reservatórios e
distribuir-te através da rede pública.
E, assim, te teríamos numa sopa,
numa piscina, num copo, num chichi, numa lágrima.
Existirias em nós; não serias, como agora, uma alegoria algures no
coração e apenas alcançável pela virtude da fé.
És muito difícil, meu. E a tua malta aqui no terceiro planeta é um bocado
passada dos carretos.
Se fosses água, era entre mim e ti. Podia beber-te, podias dessedentar-me.
A verdade é que estamos a sentir a tua falta, pá. Não desse corpo que
abandonas-te numa cruz e que hoje faz de ti uma vedeta universal.
É um corpo que já não habitas, que importância pode ter?
Lembra-nos que somos mortais, e isso não é bom. Angustia-nos.
Mas se voltares, desta vez, fica por cá, evidentemente para todos.
Escolhe uma forma de ser. Eu falei-te da água. Mas podes regressar
como fogo e existirás num cigarro aceso; como vento e impregnarás o ar que
respiramos; como terra e serás a fonte da nossa sobrevivência.
Qualquer coisa que possamos sentir a todo o momento e nos torne mais
sábios, mais tolerantes,mais gregários.
Depois, teremos tempo para discutir a questão do bacalhau,
do peru, e das rabanadas.
Mas por mim e já que se fala nisso, pode perfeitamente continuar na noite
de 24 para 25 de Dezembro..."


Fernando Marques

domingo, dezembro 12, 2004



" O abandono. O vazio. A indiferença. Tudo está feito, o que tinhas a dizer já o disseste, os que dialogavam contigo para estarem de acordo ou te insultarem foram recolhendo ao silêncio definitivo. É a hora de te ires calando também, recolheres à aposentação de falares e de ouvires. Porque nenhuma palavra é já para ti e assim nenhuma é tua para os outros. Mas a tua língua move-se ainda, entre ela e a palavra, mesmo que seja só um nome, há uma ligação que nada pode cortar. Fala para dentro. Chama para dentro. E poderás circular entre os homens sem que te metam num manicómio."

Vergílio Ferreira
in " Escrever"
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Podes entrar ; tenho as mãos para dizer o disperso canto das águas. Os meus olhos, alagados pelo grito das árvores, são lúcidos ao início do sol. Com o amor das coisas, rejubilo e lanço os braços a um rodopio doce e futuro, a uma tempestade humana. Tudo o que eu espero é sentir o elo da criação que se move, entre mim e ti, e a claridade. ____________mariagomes
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