sábado, janeiro 31, 2009



Respondendo ao repto que me foi lançado por Ana Cecília do blogue Casulo Temporário transcrevo a 6ª linha, na página 161, de uma antologia de poesia moçambicana do poema “ Deixa passar o meu povo” de Noémia de Sousa. Posteriormente alinhavei uns versos.

Convido, agora, para esta ciranda o Fred Matos, a Gabriela Gouveia, o José Ribeiro Marto e o Henrique Pimenta. Leiam a 6ª linha da página 161 do livro que esteja mais próximo de vós transcrevam-na e… escrevam.



“abro-me e deixo-me embalar…”(1)
pela saudade da clareira que acende o meu povo
naquele oriente vago profuso
impelindo a noite que lhe lavou o rosto
e refulge
num suave ramo lunar


mariagomes

(1) Noémia de Sousa

sexta-feira, janeiro 30, 2009




A poesia é um eco que convida uma sombra para dançar.

Carl August Sandburg


n. Galesburg, Illinois a 6 de Janeiro de 1878 – f. Flat Rock, Carolina do Norte, a 22 de Julho de 1967




variações sobre o verde

sábado, janeiro 24, 2009




não é fácil entrar em janeiro
sentir o coro amotinado de meus devotos ais

não é fácil abrir as pálpebras de périplos lunares
a este solo gélido

dizer
- estou aqui
tenho o fôlego do amor nas mãos.

mariagomes

24, jan, 2009






segunda-feira, janeiro 19, 2009

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dou ao mar a gravidade dos meus lábios
a pueril imagem

ao coração
os olhos sitiados.


mariagomes
ano/2008

domingo, janeiro 18, 2009

Je ne supporte pas d'être moi, je m'invente.

Joë Bousquet

Extrait de Penser contre soi


na remota ilha de meus vagos anseios,
as minhas mãos brincam como barcos
no estuário dos istmos.

puro objecto que sei
ser grado e efémero deserto
e sede bípede,
ainda e sempre.

oh meu deus!
tudo estava em nós nutrindo o nervo,
a árvore, a fome na ilusão já vencida.

mariagomes
jan.2009


terça-feira, janeiro 13, 2009




cobre-me tu, alma!
diz-me a que mar pertence a fibra da minha
morte,
porque eu saúdo-a com teu sorriso secreto
entre os desígnios da noite.


mariagomes
13, jan.2009





domingo, janeiro 11, 2009




"O homem foge da sua sombra anterior para a sua luz futura."

Teixeira Pascoaes
(1877/1952)




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sábado, janeiro 10, 2009

não há poesia

Disse num poema intitulado a metamorfose da voragem que - não há poesia - e dizendo-o, duvidei do que disse. Que dualidade! se quiserem, que incongruência…

Não me quero alongar em mera retórica, pretendo somente a concisão de uma consciência poética (a minha) num tema, num tempo tão explosivo quanto este : ‘ Poesia, Poeta e Poema’.

Se não há poesia, onde se projecta o poeta e o poema? Em que dimensão habita o sopro? Tocará ele, como afirma T.S Eliot, ‘a orla daqueles sentimentos que só a música pode expressar’?

Essa orla, essa fronteira, puramente sensível, puramente primeira, imaterial amplia-se entre o antes e o depois como o crisol ardente da emoção criadora

__e concomitante roda 'no selim da infância '(1) entre a natureza e o espírito devorador do significante e do significado de que se apropria, com a insígnia da voz.

E esse ‘ser primitivo‘, que é o poeta (como definiu Eugénio de Andrade) integra-se numa relação íntima, sucedâneo de um cosmos que se nos diz ‘num pequeno mundo cheio de amor.’ (2)

Talvez a poesia ande num pequeno mundo cheio de amor! e seja na noite, aquela ondulação que contagia o corpo e submerge o mar, que o mar ainda é a matéria de migrantes missivas

__e a poesia, o invisível.

Eu não vejo a poesia. Vislumbro um lugar 'onde ninguém pode poisar a cabeça' (3), onde a palavra se faz coisa: átomo, grito, canto, grifo do silêncio… manifestação do mundo recriando o mundo, arremesso da pupila deslocando o azul do sol

__e o sortilégio do infinito que estanca o rosáceo sangue de um austro.

Eu não vejo a poesia. Vislumbro os levantes, a luz das densas falésias na oferenda das mãos que recolhem a cidade real, e perguntam:
__Onde vive a poesia?
Não sei!... Isto só ao verbo é permitido responder, ao tecido dos homens, ao que 'apartado nele nos seja presente' (4)

Eu admito, apenas, que viceja na alfaia de um ovo, na espiga de um lírio, ou na meda de um cântico ungido.


...

não sei, meus amigos, o que fazer da minha poesia.
o que fazer do que antecede, do que digo.
do que é excessivo, às vezes, como uma lâmpada alegre.
estou presa num poema.
estou prestes a explodir em espuma.
procuro um lugar…. os olhos, a parede…
vou pendurar a minha poesia nos olhos da parede.
vai escorrer pela cal húmida
vai desfazer as mãos redondas das lágrimas.
depois, quando não mais houver, sem o olhar,
sento-me num degrau qualquer de magnólias,
e acaricio-as como se ali nascesse o mar.**



mariagomes
III Bienal de Poesia, em Silves, abril de 2008





1) Ruy Duarte de Carvalho in Lavra , “poesia reunida’
2) Ruy Belo,p.81 cap- ‘ particular configuração da palavra arte, Na Senda da Poesia’
3)Ruy Belo, “ Na senda da Poesia
4) Léon L. de, op cit., p.399. in cap ‘-particular configuração da palavra arte, Na Senda da Poesia’, Ruy Belo

**Maria Gomes ' o lugar da poesia' a José A. Gonçalves in memoriam
e a José Félix




Diegos Jesús Jiménez



“El verdadero poeta lo que hace es intentar extraer la poesía de la realidad, no verter poesía sobre la realidad porque lo que se hace es una poesía literaria. Hay que mirar la vida con ojo poético. Embadurnar con poesía la realidad es muy fácil, lo hace cualquiera con lecturas y un poco de sensibilidad. El camino contrario, extraer poesía de la realidad es lo complicado.” […]

Diego Jesús Jiménez

Entrevista, 2008
in Artes Poéticas







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sexta-feira, janeiro 09, 2009



eu nada sei do amor no preâmbulo das asas

eu nada sei do vento
que copulou com as límpidas alvoradas
nem da pungente catarse dos crepúsculos

pelas catedrais

espero ainda o sol.


mariagomes
9,Janeiro, 2009


quarta-feira, janeiro 07, 2009


e há rosas de sal e rios lógicos possuídos
e há também caminhos num mover de pedras
e o espanto do mar ao fundo
sonho ou vida ou artéria de fogo
ao acordar da hora obsidiante

este chão é meu
esta cidade nasceu algures das algas

de um quinhão
nos olhos para compensar a luz
da eternidade.

mariagomes
jan, 2009



terça-feira, janeiro 06, 2009

onde teu rosto se inscreve em seda e ouro,
onde, em rota, as manhãs são cálidas
e clandestinas,
todo o deserto rompe em flor.



mariagomes
jan,2009


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Podes entrar ; tenho as mãos para dizer o disperso canto das águas. Os meus olhos, alagados pelo grito das árvores, são lúcidos ao início do sol. Com o amor das coisas, rejubilo e lanço os braços a um rodopio doce e futuro, a uma tempestade humana. Tudo o que eu espero é sentir o elo da criação que se move, entre mim e ti, e a claridade. ____________mariagomes
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