sexta-feira, setembro 04, 2009





6. Oh, Kimbela, a morte do teu marido
podes chorar todos os dias no cemitério apoiada nos serviços
das floristas! Não posso deixar de me inclinar perante
o teu vale de lamentações onde se afunda a tua última fantasia
e do baú cheio de pó tiras a foto mais antiga do liceu.
Olhas para trás das nossas vidas e tudo se pode medir
pelo número certo dos degraus das vossas auroras.
Tudo se encaixa, o Diabo não foi capaz de alterar a fartura
da oferta que o céu soltou para o teu regaço e até exiges
que toda a sanzala te ofereça um dia de romaria e de lágrimas….
mas a morte de tantos irmãos, Oh Kimbela!,
é a mais dura subtracção da minha vida porque é um veio
de sangue que se cortou e nos abre o fundo da existência
( há uma parte da pátria que se parte
dentro de mim e só posso ter em minhas mãos
os estilhaços mais inclementes)
para que nos encontremos com a nossa própria fraqueza
e a odiemos. E Deus- apesar de O termos como os únicos
ouvidos e olhos que descobrem os criminosos – não facilita
em dizer “ Venham por aqui” : assim poderíamos ter África
como se quer um tecto
sobre nossas
vidas.

Adriano Botelho de Vasconcelos
in Olímias, pag, 49
edição UEA ( União dos Escritores Angolanos) 2005



2 comentários:

cristinasiqueira disse...

Oi Maria,

Encantada com o teu espaço.Almas afins deste Brasil à Angola.O coro da Igreja Batista.A rosa de Sofia.
O escrever como o faz Adriano Botelho de Vasconcelos.Escrever como você o faz.
Gostaria de convidá-la a conhecer meu espaço
www.cristinasiqueira.blogspot.com

Com admiração,

Cris

L. Rafael Nolli disse...

Olá, Maria! Que poema belo, sensível, capaz de nos tocar de forma surpreendente! Muito bom!

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Podes entrar ; tenho as mãos para dizer o disperso canto das águas. Os meus olhos, alagados pelo grito das árvores, são lúcidos ao início do sol. Com o amor das coisas, rejubilo e lanço os braços a um rodopio doce e futuro, a uma tempestade humana. Tudo o que eu espero é sentir o elo da criação que se move, entre mim e ti, e a claridade. ____________mariagomes
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