"Abre a romã, mostrando a rubicunda Cor,com que tu, rubi, teu preço perdes; (...........)" Luis Vaz de Camões, Os Lusíadas,IX,59
sexta-feira, abril 29, 2005
a espinal medula
disseram-me
: não escrevas os sabores desse verão,
tens as varandas
de um violino imenso,
a espinal medula, deus e o céu.
lembrei-me, então,
que poderia ter nascido do brilho peregrino
um poeta ateu.
mariagomes
abril.2005
quinta-feira, abril 28, 2005
a ti, Rhea
a ti eu me dirijo, Rhea,
com os tornozelos festivos da última primavera
e da lua rubra
dou-te a noite benéfica de uma criança
toco a marimba da minha mãe crioula.
mariagomes
abril.2005
domingo, abril 17, 2005
hoje ou amanhã
hoje ou amanhã, a lareira apagará o gosto.
acerca disso eu hei-de escrever.
poisarão no meu corpo poemas, nitidamente felizes,
sem palavras.
na assimetria de um entardecer uma pátria qualquer,
uma só flor, uma face
ou um traço definir-me-á.
não sei de que horizonte virá o vento.
nem sei tampouco se do mar lançarei a concha
da alegria côncava da criança.
contudo, eu hei-de escrever - o deserto
as dunas as ameaças e as casas próximas.
mariagomes
16abril.2005
sábado, abril 16, 2005
que a noite vê
deixa-me ter nos poetas idos o silêncio do sol
fazer uma onda
com a força desses dedos
sonhar mais do que um sonho subir o ritmo
amarelecido na maré
deixa-me ler milhões de palavras luz
deixa-me ver as coisas que a noite vê.
mariagomes
abril.2005
sexta-feira, abril 15, 2005
quinta-feira, abril 14, 2005
na respiração de um livro
hei-de ter-te na respiração de um livro
e ficar só num poema com um amor que não morreu
como a pálida penumbra
que me habita - casa estéril
inutilmente caiada.
mariagomes
14abril.2004
segunda-feira, abril 11, 2005
E. Bonavena / Angola

(Edward Weston)
1. goteja
a
lâmina
amor!
E. Bonavena
de "Ulcerado de Míngua Lua", Angola, 1987
E. Bonavena, pseudónimo de Nelson Pestana, nascido em Luanda, em 1955.
sábado, abril 09, 2005
com o sangue fixo
a minha pátria divorciou-se das rosas encarnadas
que falavam comigo com o sangue fixo
a arder
a minha pátria caiu sem luta num precipício
consome-se nua
proibida
quer as palavras das loucas incertezas impolutas.
mariagomes
9abril.2005
sexta-feira, abril 08, 2005
os melros
só eu movi os melros na tempestade
elevei a árvore
dos dedos na poesia profana
celebrei as nuvens
na batuta dos maestros
esquecidas
pelas tômbolas da sorte
e na voz de um poeta que disse
que a morte é uma formosa flor ensandecida
só eu arranhei as guelras
como os cachimbos secos dos velhos
a viver do mar
só eu
e o músculo contaminado de um olhar.
mariagomes
7deabril2005
quarta-feira, abril 06, 2005
e a erosão
não posso dizer dos olhos, assim,
contidos nesta manhã inacabada.
há gritos negros e a erosão
branca, nos corpos, abre a luz
cheia de sede.
não fosse esse pedido de palavras,
eu escreveria o poema da paz
que anseia os meus sentidos.
porém, é tarde.
nunca disse que habito uma cidade.
as minhas mãos movem-me.
como ninguém, toco o perfil
melancólico e dócil do fim da minha vida.
mariagomes
6deabril.2005
terça-feira, abril 05, 2005
as romãs e as rosas
podiam ser mais os sinos,
as chuvas, as romãs
e as rosas
podiam ser mais os linhos
entregues ao abraço corroído pelo homem
e serem mais as mães
e os pais
dos meus ramos ágeis.
mariagomes
5deabril.2005
segunda-feira, abril 04, 2005

Holly Roberts
"-Poesia serve para isso.
-Isso, o quê?
-Para esconder o amor, revelando-o.
Como a roupa que esconde o corpo e
revela a forma. "
trecho " de Amor " de Manoel Lobato
http://scripto.weblogger.terra.com.br/
domingo, abril 03, 2005
esse anjo eterno
do sol vem esse anjo eterno que torna em música
a impressão telúrica
de ser em simultâneo água
de um ramo só
do sol eu tenho o solo idolatrado
os olhos importando das miragens um desespero frágil
e o som
a parecer-se quase com o minério
como uma súplica ou uma lágrima litúrgica.
mariagomes
3abril.2005, 18 h
tenho que escrever
tenho que escrever um poema deitado
na noite farta
apagando o candeeiro
que nos conduz à plataforma fria do asfalto
um poema sem culatra
na terra
um poema que não cale a lezíria
sobretudo que não fale
da guerra.
mariagomes
abril.2005
sábado, abril 02, 2005
Flaubert
"A linguagem é uma chaleira rachada que batemos para fazer os ursos dançarem. Quando o que queríamos mesmo era mexer com a clemência das estrelas. "
Gustave Flaubert (França,1821-1880).
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- mariagomes
- Podes entrar ; tenho as mãos para dizer o disperso canto das águas. Os meus olhos, alagados pelo grito das árvores, são lúcidos ao início do sol. Com o amor das coisas, rejubilo e lanço os braços a um rodopio doce e futuro, a uma tempestade humana. Tudo o que eu espero é sentir o elo da criação que se move, entre mim e ti, e a claridade. ____________mariagomes
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