" vou-me embora" fotografia de mariagomes
e se a poesia vier precipitará aquela velha ponte da infância em propensão futura em todo o corpo côncavo da bocahaverá primavera enquanto se deita o poema na flor imatura.
mariagomes
março.06
este é o rio que nos vestiu com punhais de bruma
as bandeiras feriam a pele
à volta do pedúnculo
da lua agora as aves abrigam a tonalidade da sombra uma volúvel noite. e respondem.
mariagomes
26/27.março.06
O destino dos Livros está ...
AQUI
..." Ah,o que não tem explicaçãoapetece colher dos teus olhos."...Amadeu Baptistain "Salmo", pag 49edições Asa
"a cidade e a luz" fotografia de mariagomes
*
pai não há poesia. há um nó desfazendo um percurso nu.a existência do vento norte naquele ventoque bateu à nossa sorte como um trovão extinto.como a bala objectivaque cerceia o peito dos areais já prontos e o sul. o sul que és tu.**
está lá fora uma elevação impetuosa.
na boca dos que se calaramabriram-se as pálpebras das mulheres que choram. ouve pai esse primevo canto que nos fundeia cambaleanteao som fúlgido da lâmpada. é a chuva interior que paira.***
arroladas as amendoeiras clamam em tácita cegueirae as crianças nascem importa pai o coração importa o quanto arde a imensidão incoercível na metamorfose da voragem. mariagomes18/ 23março.06
" a tua voz!", fotografia de mariagomes
há uma hora em que a fenda consterna
perfura a escada a pedra mais alta que apertamos
há uma hora que deslocadamente acaba na cor da cisterna
e as gaivotas voltadas nos ramos.
mariagomesmarço.2006
é preciso dedilhar a seiva, devolver aos pássaros a migração
porque a memória é como se nos doesse a língua.
os anjos habitam-na,
são castanhos, geométricos, rolam nos seixos desérticos
e depois transpõem o sol
para que o vento sopre, e nos caiba um bocado de matéria.
mariagomes
março.2006
"No hables en tus poemas del ruiseñorde Wilde, ni menciones amor, perfume, labio o rosa"—me dice en los manuales Ariel Rivadeneira—y yo evito poner en cada verso escritoun ala, algún jardín, la luna de Virgilio,y hasta a veces me niego, sentadoen el alféizar, a mirar las heladasdel invierno en España, porque quemanlas ramas de los árboles todos y la nieblame invita a escribir con nostalgia"y ese signo, nostalgia, —me dicenlos manuales— es señal del pasado,y se debe escribir sin alma, con estilo,igual que si torcieras el cuellode una garza con desprecio en tus dedos."Habla de cibernética y de física cuántica,menciona blog, pantalla, correoselectrónicos" —me aconsejan los críticos—.Y yo sumo las cifras o despejo ecuaciones,digo leyes, neones, sistemas invisiblesque arman genios, científicos.También menciono genes, vídeos,ordenadores, y hay instantes, incluso,que hablo sin meditar y construyo asonantesal decir aeropuertos, submarinos, avionesy algún laboratorio (...), móviles, cines, clones.Pero aunque logre versos posmodernossiguiendo los consejos de sabiosque hablan de poesía como hablarde la historia, de mercados, teoremasque establecen los pliegues en las cuerdasdel tiempo, no he logrado escribirel poema perfecto, e inclusocuando leo alguna línea aisladade Wilde entre las sábanas, y todosmis maestros (con diplomas de mastersy perfil de doctores) se diviertenen bares o en los pubs de internet,yo lloro como dama sin remedioy me jode el viejo de Quevedo,y me arriesgo, en la cama, a que diganlos críticos en los post o en revistas:"¡qué anticuado y qué griego se volvióDolan Mor leyendo a los antiguos!,si hasta le creció un día, encimade las cejas, (en lugar de la gorraladeada sobre un piercing) un ramode laurel... Pero logró dos cosas: pasarimperceptible delante de los hombres,como dijo Epicuro, y escribir con la espaldainclinada en la hoja, sin cederle la manoal influjo variable del tiempo y de las modas".(Inédito)Dolan Mor (Cuba, 1968): Arte poética, 2006
"a janela", fotografia de mariagomes
quisera o rumor das águas diante das palavras
onde se faz a conversão das coisas nesta sensível madrugada na mão esquiva quando os plátanos aleitam pássaros
não tenho o sol para te oferecer
eu saí da convulsão dos teus olhos
inacessível.
mariagomes
março.2006