quarta-feira, setembro 05, 2007


além o sol esquecido solfejo de um largo céu de zimbro
além a vida que burila o pão entregue à luz semântica

vê como são desertos os poemas
como se alongam tristes
e tão perto
gravitam no timbre ainda húmido das lanças!

mariagomes
5 de Set.2007

quarta-feira, agosto 29, 2007


[...]
Lenha mote
crescê-me
na pulmon sec

De sol a sol
nha osse ê verde
bô osse ê planta
C’ma fruta- pon tambor e tchon

De sol a sol
‘ma gritá Rimbaud ô Maiakosky
larga-me da mon


[...]


Secos os pulmões
neles cresce-me
a lenha do mato

De sol a sol
os meus ossos são verdes
os teus ossos são plantas
Como a fruta-pão o tambor e o chão

De sol a sol
gritei por Rimbaud ou Maiakovsky
deixem-me em paz


Corsino Fortes
in “ A cabeça calva de Deus”, p 39, 39
Publicações Dom Quixote

Corsino Fortes nasceu em 14 Fevereiro de 1933 em Mindelo, Ilha de S. Vicente, Cabo Verde…

quinta-feira, agosto 23, 2007


porque digo esta amargura que se submerge às enseadas,
aos sussurros a iluminar as águas, se os dias repousam ao luar?

mariagomes




sexta-feira, agosto 17, 2007


Método, Método, que queres de mim? Bem sabes que comi do fruto do inconsciente.

Jules Laforgue
Moralités légendaire,
Mercure de France, p.24

terça-feira, julho 24, 2007


ai flores que adornaram o dia grave,
perfumai os olhos tristes das campinas que perdi!

da minha voz voaram as aves.

mariagomes
julho, 2007

quarta-feira, julho 18, 2007

O Poema



A tarde cai,
silenciosa,
morosa...

Na alma do poeta,
o poema,
estranha rosa
rubra e preta,
abre...

Afinal,
escrever um poema
é fixar uma pena
sentindo estoirar
o calibre
do coração,
nostálgico do éden...

-Vá, poeta,
deixa o coração sangrar!

Para quê negar
a esmola que te pedem?

Saul Dias*

(in 800 anos de poesia portuguesaedição circulo de leitores, 1973)

*Saúl Dias nasceu em 1902 e faleceu em 1983.Saúl Dias é o pseudónimo literário do pintor Júlio Maria dos Reis Pereira, irmão do poeta José Régio. Licenciado em Engenharia Civil pela Universidade do Porto, foi pintor, poeta e desenhista. Colaborou na revista Presença com produções literárias, pinturas e desenhos.

[fotografia de mariagomes]

quarta-feira, julho 04, 2007

dias hajam em que o céu venha de esperançosa vaga
da terra que cheira a crisântemos
no vento invisível
eu te possa ver enfim
flor e água como a folha que se confia conclusiva.

mariagomes
julho07

sexta-feira, junho 29, 2007



Canto para contar daquele instante/ quando o que mais amamos chega ao fim/ e um belo simulacro delirante/ usurpa-lhe o lugar; quando é assim/ que a arte desfaz da luz agonizante,/ convence a muitos, não comove a mim.

Bruno Tolentino

Bruno Lucio de Carvalho Tolentino , n. Rio de Janeiro, 12 de novembro de 1940, f. S. Paulo, 27 de Junho 2007


livros publicados:
Anulação e Outros Reparos (São Paulo: Massao Ohno, 1963
)
Le Vrai le Vain (Paris: Actuels,
1979)
About the Hunt (Oxford: OPN, 1979)

As Horas de Katharina (São Paulo: Companhia das Letras,
1994)

Os Deuses de Hoje (Rio de Janeiro: Record,
1995
)
Os Sapos de Ontem (Rio de Janeiro: Diadorim,
1995)

A Balada do Cárcere (Rio de Janeiro: Topbooks,
1996)

O Mundo como Idéia (São Paulo: Globo,
2002)

A Imitação do Amanhecer (São Paulo: Globo,
2006)

quinta-feira, junho 21, 2007





composição de Maria Gomes e Augusto Mota

quarta-feira, junho 13, 2007


Se, depois de eu morrer, quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra coisa todos os dias são meus.

Sou fácil de definir.
Vi como um danado.
Amei as coisas sem sentimentalidade nenhuma.
Nunca tive um desejo que não pudesse realizar, porque
nunca ceguei.
Mesmo ouvir nunca foi para mim senão um
acompanhamento de ver.
Compreendi que as coisas são reais e todas diferentes umas
das outras;
Compreendi isto com os olhos, nunca com o pensamento.
Compreender isto com o pensamento seria achá-las todas
iguais.

Um dia deu-me o sono como a qualquer criança.
Fechei os olhos e dormi.
Além disso, fui o único poeta da Natureza.


Dos “ poemas inconjuntos”,
Alberto Caeiro

In "poesia de Fernando Pessoa"
Editorial Presença
Introdução e selecção de Adolfo Casais Monteiro

nota , a 13 de junho de 1888 nasce em Lisboa, às 15 horas, Fernando Antônio Nogueira Pessoa... morre em Lisboa, aos 47 anos, a 30 de Novembro de 1935.

domingo, junho 10, 2007


sim eu sei o que a noite pesa quando se premeiam as lágrimas
na sede longa de um recôndito luar
era junho volátil
era pátria
era
a
m
a
r


mariagomes
jun.07

segunda-feira, maio 21, 2007


para que se conceba o carpir da chama comovem-se as garças
na inquietude.

ou num sonho verde, cavado, submerge o sul
e o sol arde.

mariagomes

maio.2007



quarta-feira, maio 09, 2007

(fotografia de mariagomes)


“ Sem actividade criadora não há liberdade nem independência. Cada instante de liberdade é preciso construí-lo e defendê-lo como um reduto. Ele representa um estado de esforço alegre e doloroso: alegre porque dá ao homem a consciência do seu valor; e doloroso, porque lhe exige trabalho nos dias de paz e vida nas horas de guerra”

Teixeira da Pascoaes
in Republica ( Porto, 31.1.1929)

quinta-feira, maio 03, 2007


é com o rumor das águas que falo dos deuses
dos desertos ímpios, saídos
dos cerúleos campos que cantavam, ilesos.
eu falo com a inocuidade dos dedos, como se houvesse um hino
ou caminho contínuo.

mariagomes
maio.2007

quinta-feira, abril 26, 2007

tenho, agora, o meu rosto no sangue,
pugna o mais breve pássaro que aprovou o silêncio.
com a dor que sinto,
como um círio extinto dou-me à terra duradoura,
deflagram os longínquos rios quando o sol se apaga.

outrora, a paisagem era a lisura da espuma,
tecia-lhe os olhos.
vinha à boca o trigo íngreme das marés.
e tudo aquilo era vertiginoso, tranquilo -
uma mulher largava o linho anil
e ele trazia-nos todas as rosas, mãe.


mariagomes
abril, 2007

domingo, março 25, 2007



de onde te escrevo, resignam-se as árvores
as inextinguíveis árvores que ouvíamos rezar
e o sol sem ninguém, a sombra híbrida, a vida…
é por isso que eu ando por dentro do coração das coisas, mãe.


mariagomes
março.07


terça-feira, março 06, 2007


e tudo é pouco
o mar
a percepção do horizonte que foi teu e
concedeu à terra a cinza
para que uma outra primavera haja nas flores do âmago
na água cristalina.

mariagomes
março.2007

quarta-feira, fevereiro 28, 2007


não posso trair os umbrais das aves,
sem que a palavra seja a memória do meu luto derradeiro.
há um sinal que me vaticina ao sono
como um soluço aceso,
como o corpo locomovido e missionário aos confins.
não posso, meu amor, sair de mim.

mariagomes
fev.2007

terça-feira, fevereiro 27, 2007


não posso, meu amor, sair de mim.
a minha encomenda é esta, açular o fogo,
saber de deus
e no fim,
ter a imensidão triste que me abre
ao cardo,
à pele das açucenas, a cegueira plena das manhãs.

mariagomes
fev.2007
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Acerca de mim

A minha foto
Podes entrar ; tenho as mãos para dizer o disperso canto das águas. Os meus olhos, alagados pelo grito das árvores, são lúcidos ao início do sol. Com o amor das coisas, rejubilo e lanço os braços a um rodopio doce e futuro, a uma tempestade humana. Tudo o que eu espero é sentir o elo da criação que se move, entre mim e ti, e a claridade. ____________mariagomes
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