Quem administra um blogue de poesia , sabe como isto, às vezes, funciona, ou deve funcionar: uma imagem fundamenta um poema, uma poema uma imagem, uma palavra um poema, uma música um poema ou uma palavra... e por aí vamos.
O vídeo “cinco dias > stand by me….” aqui exibido, o que mais prazer me deu ver ouvir e publicar, pediu este poema de Fernando Couto que poderia muito bem ter sido dirigido a qualquer uma daquelas belíssimas vozes que, espero não tenham caído, de novo e definitivamente, no anonimato.
mariagomes
Pergunta a Paul Roberson
Que rios te correm na voz
Paul Roberson 1 ?
Que marulhantes graves e longos
rios é o teu canto
Paul Roberson?
É o Congo ou é o Mississipi
com manchas de sangue indissoluto?
Ou são os afrontosos rios
da humilhação impotente
Paul Roberson?
Ou é o Nilo ou o Missouri
cavando às cegas o leito
nas terras da hostilidade?
Ou será a mágoa sem fundo nem tempo
náufraga sem morte dos barcos de negreiros
soluçando nos campos de algodão
dos diversos estados da Carolina do Sul
Paul Roberson?
Ou será a incomparável curva doida do Niger
rompendo o caminho do mar?
Ou será apenas o lento pesado arrastar dos pés
dos teus irmãos de raça
Paul Roberson
rompendo o caminho do mar?
1 Cantor de blues norte-americano
Fernando Couto
In Poetas de Moçambique
**Fernando Leite Couto nasceu em 1924 em Rio Tinto Portugal. Jornalista, pai do escritor Mia Couto reside actualmente em Maputo onde é responsável pela editora Ndjira.
Bibliografia
Poesia – Poemas junto à fronteira ( 1959); Jangada do Inconformismo (1962), O Amor Diurno( 1962) , Ficções para um retrato ( 1971); Monódia (1997) e Os Olhos Deslumbrados (2001)
2 comentários:
Gostei de passar por aqui. Deixo-lhe um poema de um grande poeta, bastante esquecido( mas a meu ver esses são os melhores): Sebastião Alba. Um poeta também da negritude que foi para Moçambique com 8 anos e voltou a Portugal 35 anos depois. O seu primeiro livro, editado em outubro de 1974,“ o Ritmo do Presságio “ pela Livraria Académica de Lourenço Marques, levou um posfácio de outro grande poeta, seu amigo: José Craveirinha.
PÉGASO
À saida do estádio
pressentimos na brisa
a chegada dos signos da noite
Indeciso, o cavalo
transpõe o fosso do horizonte,
sob a lua e um alto
expoente de pó
Inverte-se o casco percussor
à beira da fonte do Hélicon,
e o cavalo grego deita-se
para morrer
Um frémito distende-lhe as asas;
no olhar anterior ao mito
aflui agora
a mais pura instância
das lágrimas
L.C.
e eis o blues
e o poema
como se fossem únicos
na voz
um grande abraço, minha amiga
jorge
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