sexta-feira, junho 30, 2006

[...]"o poema, sendo como é uma forma de manifestação da linguagem e, por conseguinte, na sua essência dialógico, pode ser uma mensagem na garrafa, lançada ao mar na convicção - decerto nem sempre muito esperançada - de um dia dar a alguma praia, talvez a uma praia do coração. Também neste sentido os poemas estão a caminho - têm um rumo.
Para onde? Em direcção a algo aberto, de ocupável, talvez a um tu apostrofável, a uma realidade apostrofável. Penso que para o poema o que conta são essas realidades. E acredito ainda que raciocínios como este acompanham, não só os meus próprios esforços, mas também os de outros poetas da geração mais nova. São os esforços de quem, sem tecto, também neste sentido até agora nem sonhado e por isso desprotegido da forma mais inquietante, vai ao encontro da língua com a sua existência, ferido de realidade e em busca de realidade."[...]

PAUL CELAN
"arte poética, o meridiano e outros textos"
edições cotovia
tradução joão barrento

domingo, junho 25, 2006

deixa que um pássaro cubra o contorno alucinante
e oculto do meu canto
porque eu estou na impressão das coisas

os meus olhos são pássaros
- os pássaros alma inclinada sobre a noite

falo-te devagar do ventre onde vivi

escuto o marulhar de um silêncio proferido
indizível divisa a tua alma

o que semeará o linho
se por ti espera o cosmos do meu leito
e as pedras caminham longas pela estrada

não sei o que te diga
fixam-me as paredes como se eu fosse o sol perdível

mais uma vez as coisas vivem
e o sol ( oh essência!)
deixa que um pássaro cubra o contorno alucinante
e oculto do meu canto.

mariagomes
jun.06

quinta-feira, junho 08, 2006

"No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.


No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida. "


(...)

excerto do poema "Aniversário" de Álvaro de Campos

quarta-feira, junho 07, 2006

serei eu o incêndio negro,
seduzirás tu os jasmins de junho.


virá o cunho de uma lágrima lunar,
ou um poema que tarda
e se desfolha.

mariagomes
7 jun.2006

terça-feira, junho 06, 2006


"as flores", fotografia de mariagomes

sexta-feira, maio 26, 2006

deixarei a terra quando nada mais houver.
quando o amor se fizer e as garças trocarem os remos dos rios
lançarei as sibilas aos navios.

tu serás o concreto fio dócil do meu frio.

mariagomes
26.maio.06

domingo, abril 30, 2006

Nicanor Parra: What is poetry?, 1989

todo lo que se dice es poesía

todo lo que se escribe es prosa

todo lo que se mueve es poesía

lo que no cambia de lugar es prosa


De Chistes para desorientar a la poesía, 1989.
En Poéticas

sexta-feira, abril 28, 2006


"em abril, a sanfona e o cravo", fotografia de mariagomes

segunda-feira, abril 17, 2006

quando as palavras me não chegarem
irei colher a estrela morosa no mar

no mar que a terra me deu
ainda que me atormente o sangue de um açoite
louvo a noite a divina noite ilesa
onde rebenta a tristeza
ou uma rosa.


mariagomes
abril.2006

terça-feira, abril 11, 2006

" Se é que já houve uma crise moral, então foi da cor, da matéria, do sangue e dos seus elementos, das palavras e sons, de tudo aquilo que cria tanto uma obra de arte como a vida. Pois, mesmo se cobrirmos uma tela com protuberâncias de cor, independemente do facto, se podemos ou não reconhecer nela uma silhueta - e até mesmo se recorrermos à palavra e aos sons -, não será por essa razão que nasce, forçosamente, uma autêntica obra de arte"

Marc Chagall
(1887/1985)

in "Marc Chagall
Poesia em quadros"
edição Taschen Público

quarta-feira, março 29, 2006


" vou-me embora" fotografia de mariagomes

terça-feira, março 28, 2006

e se a poesia vier precipitará aquela velha ponte da infância
em propensão futura
em todo o corpo côncavo da boca
haverá primavera enquanto se deita o poema na flor imatura.

mariagomes
março.06



segunda-feira, março 27, 2006

este é o rio que nos vestiu com punhais de bruma
as bandeiras feriam a pele
à volta do pedúnculo
da lua


agora as aves abrigam a tonalidade
da sombra uma volúvel noite. e respondem.

mariagomes
26/27.março.06

sexta-feira, março 24, 2006

O destino dos Livros está ... AQUI
...

" Ah,
o que não tem explicação
apetece colher dos teus olhos."

...

Amadeu Baptista
in "Salmo", pag 49
edições Asa

"a cidade e a luz" fotografia de mariagomes

quinta-feira, março 23, 2006

na metamorfose da voragem

*
pai não há poesia. há um nó desfazendo um percurso nu.

a existência do vento norte naquele vento
que bateu à nossa sorte como um trovão extinto.
como a bala objectiva
que cerceia o peito dos areais já prontos e o sul. o sul que és tu.

**

está lá fora uma elevação impetuosa.
na boca dos que se calaram

abriram-se as pálpebras das mulheres que choram.
ouve pai esse primevo canto que nos fundeia cambaleante
ao som fúlgido da lâmpada. é a chuva interior que paira.

***

arroladas as amendoeiras clamam em tácita cegueira

e as crianças nascem

importa pai o coração importa o quanto arde a imensidão
incoercível
na metamorfose da voragem.

mariagomes
18/ 23março.06

quinta-feira, março 16, 2006

quarta-feira, março 15, 2006

há uma hora em que a fenda consterna
perfura a escada a pedra mais alta que apertamos

há uma hora que deslocadamente acaba na cor da cisterna

e as gaivotas voltadas nos ramos.

mariagomes

março.2006

segunda-feira, março 13, 2006

é preciso dedilhar a seiva, devolver aos pássaros a migração
porque a memória é como se nos doesse a língua.

os anjos habitam-na,
são castanhos, geométricos, rolam nos seixos desérticos
e depois transpõem o sol
para que o vento sopre, e nos caiba um bocado de matéria.

mariagomes
março.2006
Powered By Blogger

Arquivo do blogue

Acerca de mim

A minha foto
Podes entrar ; tenho as mãos para dizer o disperso canto das águas. Os meus olhos, alagados pelo grito das árvores, são lúcidos ao início do sol. Com o amor das coisas, rejubilo e lanço os braços a um rodopio doce e futuro, a uma tempestade humana. Tudo o que eu espero é sentir o elo da criação que se move, entre mim e ti, e a claridade. ____________mariagomes
Estou no Blog.com.pt

Free Site Counters



Free Site Counters