domingo, novembro 30, 2008

Estrela

Legenda
para aquela estrela
azul
e fria
que me apontaste
já de madrugada:
amar
é entristecer
sem corrompermos
nada.

Carlos de Oliveira

in cd " Ao Longe os Barcos de Flores"





51 Faixa 51- Estrela.wma - poema de Carlos de Oliveira

sábado, novembro 29, 2008

"as árvores morrem de pé"


ouve as árvores o sangue a sua ramagem

imagina um Outono
em arco como se fosse teu

como é tão próxima
ao longe
a nau que não morreu!

mariagomes
29 nov.2008

na dicção de um sonho


não, não renunciarei à urgência dos espectros,
a este claro coração;
expectante,
a morte é um rio secreto.
há muito tempo, eu sei,
nos nós dos dedos,
no fulgor do estio
abriam-se corolas vivas
com a respiração do verde, entre sílabas e sílabas.


mariagomes
nov/2008





segunda-feira, novembro 24, 2008



tudo se oferece à poesia!
mesmo o princípio mortal da manhã , esse oceano
onde se fundem os refluxos da evocação de um adeus:
- a neblina convulsiva, a purificada cinza nos teus lábios, nos meus.

mariagomes
24nov.08

sexta-feira, novembro 21, 2008


até à sensibilidade solar, terei os olhos leves do gorjear das aves,
a voz do litoral , o sequioso beijo de uma glicínia;
e tudo o que se fizer incólume,
como a luz de um areal
nas vogais da noite,
ou na quietude dos passos inacabados da poesia.


mariagomes
nov, 2008


quarta-feira, novembro 19, 2008

Photobucket




[...] " quem não sonhar está morto. O mundo como ele hoje é, não vale nada. É preciso que ele seja conforme o conceber da nossa fantasia, criadora de beleza. Este antagonismo entre o mundo e a alma humana seria incompreensível se não víssemos nele a própria razão da nossa actividade moral: o aperfeiçoamento das cousas, a sua disposição em marcha para um fim divino. O homem é o único animal que não coincide com o mundo;e seu destino é dilatar o mundo até onde chega a fantasia, até ao céu. O mundo é céu materializado e condensado, para que as patas dos animais encontrem um ponto de apoio no Infinito, como encontraram refúgio na Arca de Noé."[...]

Teixeira de Pascoaes
in " S.Paulo"

edição Assírio& Alvim



dorme, junto a mim, um sonho entretecido
para que o poema principie
e seja a messe, a sombra, a floração, a prece,
o respigar das mãos.

mariagomes
19,nov, 2008


terça-feira, novembro 11, 2008

na captura do sul

meu pai




( a meu pai, em memória)


eu enunciei as aves
nas margens compulsivamente dadas à terra,
em suas entranhas,
nas mãos que partiam dos rios
por coisas de somenos importância…

e tu, na captura do sul, num odorífico deserto
falaste-me de amor, de libertação.

mariagomes
Angola, 11 de Novembro de 2008


quinta-feira, novembro 06, 2008


aonde estou quero a renúncia urdida pela água
que deriva dia a dia
quero as sombras perdidas
os afectos
quero os pássaros de coração aberto
e o mar que nunca vi
agrilhoado a meus dedos
onda a onda
o trigo!
-um oloroso trigo que cresce como se possuíssemos o fogo.

mariagomes

nov,2008


segunda-feira, novembro 03, 2008



[...]
My God, what is a heart?
Silver, or gold, or precious stone,
Or starre, or rainbow, or a part
Of all these things, or all of them in one?
(Mattens)

[...]

Meu Deus, o que é um coração?
Prata, ou ouro, ou pedra preciosa,
Ou estrela, ou arco-íris, ou parte
De todas estas coisas, ou todas numa só?


George Herbert

sábado, outubro 25, 2008

quinta-feira, outubro 23, 2008



por que me procuras nas lágrimas do sol?
em si, ele é o novíssimo meneio da saudade
- sem remos a envelhecer os rumos.

por que me deixas, só, entregue a seus cuidados,
sem cais, sem ver partir as velas?


mariagomes
23out.2008

quarta-feira, outubro 22, 2008



[...]
Muito, ó Poeta, o engenho pode dar-te.
Mas muito mais que o engenho, o tempo, e estudo;
Não queiras de ti logo contentar-te.
É necessário ser um tempo mudo!
Ouvir, e ler somente: que aproveita
Sem armas, com fervor cometer tudo?
Caminha por aqui. Esta é a direita

Estrada dos que sobem ao alto monte
Ao brando Apolo, ás nove irmãs aceita.
Do bom escrever, saber primeiro é fonte.
Enriquece a memória de doutrina
Do que um cante, outro ensine, outro te conte.

[...]

António Ferreira

Carta a Diogo Bernardes
in Textos Literários do século XVI

“ A Corrente clássica e italianizante:
o magistério literário de António Ferreira"
1. Concepção aristocrática da Arte e dignidade das Letras
Editorial Aster




terça-feira, outubro 21, 2008



acredito nos pássaros, em todas as manhãs,
no sexo das árvores,
no colóquio das harpas de seu corpo nu.

pelo moroso fio de Penélope a minha voz
é fiel ao encanto que carmina o azul.


mariagomes
out,2008


sexta-feira, outubro 17, 2008


deve ter sido o amor mais puro, numa outra primavera.
- assim pensei, a ouvir as ondas no seu ritmo terrestre.

em tudo houve uma forma evidente, um verde,
uma paisagem esdrúxula
onde se ajusta o silêncio, em filigrana,
ao despojado luar libidinal.

mariagomes
out.2008



terça-feira, outubro 14, 2008



A arte é a mão direita da natureza. Esta nos deu o ser, mas a primeira - tornou-nos homens.

Johann Christoph Friedrich von Schiller
[1759/1805]


terça-feira, setembro 30, 2008




brandas águas bebi de olhos abrasados;
sepultei o pranto,
sepultei a súplica, o sopro, a música
e o mar...

todo o espaço é alvo, todo o céu

aguado.

mariagomes
30, set.08

segunda-feira, setembro 22, 2008

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'o meridiano', paul celan

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Acerca de mim

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Podes entrar ; tenho as mãos para dizer o disperso canto das águas. Os meus olhos, alagados pelo grito das árvores, são lúcidos ao início do sol. Com o amor das coisas, rejubilo e lanço os braços a um rodopio doce e futuro, a uma tempestade humana. Tudo o que eu espero é sentir o elo da criação que se move, entre mim e ti, e a claridade. ____________mariagomes
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