Yehudi Menuhin (1916-1999)
"É a arte que pode estruturar a personalidade dos jovens cidadãos no sentido da abertura de espírito, do respeito pelo próximo, do desejo de paz. É a cultura, de facto, que permite a cada pessoa enriquecer-se com o passado para participar na criação do futuro. (...) a arte é uma antena preciosa para captar o futuro que não pode ser reservado só a alguns."
Yehudi Menuhin
"Abre a romã, mostrando a rubicunda Cor,com que tu, rubi, teu preço perdes; (...........)" Luis Vaz de Camões, Os Lusíadas,IX,59
quinta-feira, setembro 30, 2004
a curva longa
a curva longa crava um sorriso ao luar.
na maresia equidistante na pele inquieta
veio a noite trazer a colina do verbo amar;
eu amo as estrelas apagadas
o som das brisas a cidade nua
das coisas apetecidas eu amo a mais antiga
entre auroras e trevas resignadas à loucura.
mariagomes
17set.2004
quarta-feira, setembro 29, 2004
Auto-Retrato de Natureza Morta

Auto-Retrato da Natureza Morta
Autor: Simão César Dórdio Gomes (1890 - 1976)
Século: XX Ano: 1924 Tipo: óleo sobre tela
dimensões: 150 x 90 cm Local: Colecção particular (Porto)
na: Galeria de Pintura de Teixeira Pinto (Abre-Latas), com hiperligação ao Blog Pintores Portugueses
morremos
morremos num mar de gaivotas enganadas
pelo vento que apareceu agora.
escutámos cem águas
o rumor de horas inabitadas.
morremos em tempestades
morremos demasiado tarde e juntos
porque o sol sobrevivia
e o chão atravessava os mapas da poesia.
mariagomes
29set.2004
**
atravessámos as águas com o vento d'outrora
e mais as línguas de fogo que nos
saíam dos dedos.
a poesia é um trabalho dos deuses
e aos homens resta esperar pelo fogo
e pelo desejo de consumir o ventre da criação.
Jorge Vicente
**
uma outra morte um outro caminho do sol
abri-me à energia do teu corpo como um
texto orgânico
eis a poesia e o amor
árvore. Gritaste, por mim
parti
José Gil
** em Encontro de Escritas
terça-feira, setembro 28, 2004
os caminhos
o amanhã dirá do esplendor, os caminhos que pisamos.
a lembrança, a terra inteira da palavra
que foi silenciosamente nossa.
loira, de trigo, verdadeira como uma sílaba,
como uma criança.
mariagomes
28set.2004
marguerite yourcenar

(...)“e os impérios, como os homens, já não têm tempo para se instruírem à custa das suas faltas. Onde quer que um tecelão remendar o seu pano, onde um calculador hábil corrigir os seus erros, onde o artista retocar a sua obra-prima ainda imperfeita ou apenas danificada, a natureza prefere repartir sem intermediário a argila e o caos, e esse esbanjamento é o que se chama a ordem das coisas.” (...)
“memórias de Adriano”
marguerite yourcenar
segunda-feira, setembro 27, 2004
da noite

Trabalho de Renan Cepeda
da noite eu quero as areias sem rodeios
que levam sonhos
e lavram-nos como aves ou veleiros
da noite eu quero a luz dos desertos intermináveis
as queimadas o escuro
da noite eu quero as palavras a prumo
em fios de estrelas e lágrimas.
mariagomes
set.2004
sexta-feira, setembro 24, 2004
a dizer o instante
olha as tuas mãos a escrever poemas
a dizer o instante
a consumir o fogo que se expande.
olha as tuas mãos a chorar nas minhas.
olha! são searas são vinhas que tangem a beleza
e a embebedam de sinais.
mariagomes
24set.2004
William Butler Yeats [1865-1939]

W. B. Yeats, Irlanda
" Um só verso pode exigir horas e horas de trabalho, mas se não parecer dom de um só instante todo o nosso tecer e destecer são inúteis"
William Butler Yeats
para ti. para mim.
e os teus passos encontrados numa acácia tinham a inocência
despida. a terra. o cheiro da chuva plantava um incêndio
de sombras. e as sombras ardiam. para ti. para mim.
bebíamos das conchas no espaço que as manhãs faziam.
(lembras-te?) existíamos num desejo. descalços. tínhamos
papoilas. pérgolas de adobe e ventos imersos em muitas palavras.
mariagomes
set.2004
contemplo o corpo
contemplo o corpo onde nascia. eu fui.
as minhas mãos foram meus olhos abertos
a uma luz tão branca e serena
entre formas densas. e eu vivia devagar
ao alcance das cigarras pela onda que nascia.
longe, a rosa, em cinzas,
simplesmente prometida ao mar. eu fui.
mariagomes
set.2004
quinta-feira, setembro 23, 2004
Eugénio de Andrade

(1923)
"(...)
a música que me sai dos dedos ama o silêncio, e a suprema ambição do poeta é integrá-lo no canto" (...)"
Eugénio de Andrade
in " rosto precário"
com sílabas de silêncio
poderia dizer um poema todos os dias
Ou dizer o dia todo num poema Mas estou ocupada
Estou ocupada com sílabas de silêncio
Com um céu claro sem rimas
Há em mim um mito maior que ruínas!
O teu coração A face da tua mão Ocupam-me
A palavra inteira que vê e viaja Ocupa-me
É um privilégio voltar a este lugar
Ao cheiro dos marinheiros Ao branco
Ao tanto sol Ao ar dos baloiços
Estou ocupada Tenho a memória na pele Bem funda
O sal a escaldar na noite Numa irmandade fecunda.
mariagomes
jul.2004

by Jerry Avenaim
quarta-feira, setembro 22, 2004
As palavras de Dylan Thomas
"Ao escrever sobre o que sentimos acabamos por vezes a sentir o que escrevemos porque o escrevemos. Explico-me. Às vezes, escrevem-se coisas porque vão umas com as outras, porque rimam significados ou simplesmente ficam bem. Porque as palavras procuram outras de uma certa maneira irrecusável. E depois já está. As palavras possuem esse poder de moldar o que a mão ao escrevê-las queria dizer. Escrever não é um acto de um sentido só, uma espécie de rua de sentido único entre o que temos dentro e o que aparece de fora, escrito. Este «de fora» que parece ser a escrita, se molda o que depois ao ler sentimos, é porque está ainda «de dentro». Mas às vezes o cansaço apodera-se de nós, e temos vontade de parar. Não sei se de escrever se de sentir, possivelmente de estar sempre a pensar nisso. Parar: vontade de fechar os olhos e ver."
Dylan Thomas
terça-feira, setembro 21, 2004
Rainer Maria Rilke [1875-1926]
"Só uma coisa é necessária: a solidão ... E o seu crescimento é doloroso como o das crianças e triste como a ante-primavera. Caminhar em si próprio e, durante horas, não encontrar ninguém, a isto é que é preciso chegar..."
[Rilke, in Cartas a um Poeta]
domingo, setembro 19, 2004
espero-te...
espero-te em cada poema
não é suficiente a solidão que me alimenta
que me prolonga
e me guarda tão pequena.
nenhum de nós tem manhãs de seda
nem a embriaguez do sol
que desce pelos dedos da candura
nenhum de nós interiormente se transfigura
espero-te em cada poema
no instante mais vasto num espírito cego
na casa de um astro
onde o tempo começa.
mariagomes
set.2004
os poemas*
os poemas não se escrevem;
gravam-se em cada pedra subtraída.
só assim, os poemas têm vida.
* a meu pai
mariagomes
set.2004
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- Podes entrar ; tenho as mãos para dizer o disperso canto das águas. Os meus olhos, alagados pelo grito das árvores, são lúcidos ao início do sol. Com o amor das coisas, rejubilo e lanço os braços a um rodopio doce e futuro, a uma tempestade humana. Tudo o que eu espero é sentir o elo da criação que se move, entre mim e ti, e a claridade. ____________mariagomes
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