sábado, setembro 30, 2006

( um tributo a Torga)

no mar colhi o amor, o trigo ao longe, a meninice do vagar
as coisas, como rosas, por exemplo.

ao anoitecer os dedos floriam
eu tive a ventura de ver sorrir o sol, na sede de um país de círios.

mariagomes
30 Set.2006

terça-feira, setembro 26, 2006

[...]“Felizmente que os poetas, como os ciganos, são a vergonha do consenso universal. Nunca se demoram em cada terra senão o tempo suficiente para colherem nela o fruto mais doirado” [...]

Miguel Torga

in " ensaios e discursos"
publicações dom quixote

segunda-feira, setembro 04, 2006

somente nasces flor na minha morte - fidelíssima fractura

dilacerei as rosas
e os espinhos areando a dor debulhando a noite

somente tu se fores a pedra e um arminho.

mariagomes
4 de Set.2006

domingo, agosto 20, 2006

às vezes penso no precioso silêncio desabitado

eu vivo mortalmente a manhã do mundo. aludo
como um navio ao largo.

mariagomes
agosto.2006

sexta-feira, agosto 11, 2006

e a orfandade soçobra ocêanica, em ti, em mim.
somos filhos ignotos do mar grande.
somos peixes voadores, rosas
flores morfológicas a nascerem e a desaparecerem. eu vi.
[...]

mariagomes
11ag.2006



quinta-feira, agosto 03, 2006

tenho nas mãos bocados de qualquer coisa aparente
direi apenas o impenitente que projecta formas acossadas
pela sombra das aves e das águas

eu procuro milagres!

mariagomes
3agosto.2006, 15 h.

domingo, julho 30, 2006

não tocarei na palavra velada pelo amor
é preciso que um vulcão a beije
cheire a mar o som
que estremeça mansa a boca

que se declarem as minhas mãos loucas e pagãs

ficará imune o ardor livre a sensação de haver
em movimento
um altar curvo ou o alimento sobre a mãe.

não tocarei na arrebatada loucura terrestre
no silêncio que cresce das macieiras
que se declarem os rios que respiram inexoráveis
as noites insolúveis e sãs.


mariagomes
julho06

quarta-feira, julho 26, 2006

os olhos não predizem o sereno abraço das quedas
o mar
e os morros

toda a prisão íntima arde longe de mim.


mariagomes
julh.2006
entrego-me ao abandono
como a aurora que derrama o mel das abelhas fluviais.
sou tua
nasci de uma lança fulgente. de um fôlego.

mariagomes
julho.06

segunda-feira, julho 24, 2006

doravante volvida nas puríssimas flores de pedra
ó derradeira pedra ponto em fuga ó criança intacta ao pé do mar
quem de ti me arrancou?

na tua face antevejo lágrimas
lá dentro lágrimas ceifando e a toada do sangue a fiar.

mariagomes
julh.06

quarta-feira, julho 19, 2006

ei-la continuamente cega intuitiva
é um poema a expiação um anjo ferido

o luar é ainda uma gota a mergulhar

ei-la de novo ao tear - a terra anciã
oráculo tremor invisível
sobe às mais altas torres da felicidade pela manhã.


mariagomes
julh.06

domingo, julho 02, 2006

eu acolho-te na fonte de palidez pura

sonhei murar os cristais solares dos liames da loucura
a grande noite.

mariagomes
29jun.06

sexta-feira, junho 30, 2006

[...]"o poema, sendo como é uma forma de manifestação da linguagem e, por conseguinte, na sua essência dialógico, pode ser uma mensagem na garrafa, lançada ao mar na convicção - decerto nem sempre muito esperançada - de um dia dar a alguma praia, talvez a uma praia do coração. Também neste sentido os poemas estão a caminho - têm um rumo.
Para onde? Em direcção a algo aberto, de ocupável, talvez a um tu apostrofável, a uma realidade apostrofável. Penso que para o poema o que conta são essas realidades. E acredito ainda que raciocínios como este acompanham, não só os meus próprios esforços, mas também os de outros poetas da geração mais nova. São os esforços de quem, sem tecto, também neste sentido até agora nem sonhado e por isso desprotegido da forma mais inquietante, vai ao encontro da língua com a sua existência, ferido de realidade e em busca de realidade."[...]

PAUL CELAN
"arte poética, o meridiano e outros textos"
edições cotovia
tradução joão barrento

domingo, junho 25, 2006

deixa que um pássaro cubra o contorno alucinante
e oculto do meu canto
porque eu estou na impressão das coisas

os meus olhos são pássaros
- os pássaros alma inclinada sobre a noite

falo-te devagar do ventre onde vivi

escuto o marulhar de um silêncio proferido
indizível divisa a tua alma

o que semeará o linho
se por ti espera o cosmos do meu leito
e as pedras caminham longas pela estrada

não sei o que te diga
fixam-me as paredes como se eu fosse o sol perdível

mais uma vez as coisas vivem
e o sol ( oh essência!)
deixa que um pássaro cubra o contorno alucinante
e oculto do meu canto.

mariagomes
jun.06

quinta-feira, junho 08, 2006

"No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu era feliz e ninguém estava morto.
Na casa antiga, até eu fazer anos era uma tradição de há séculos,
E a alegria de todos, e a minha, estava certa com uma religião qualquer.


No tempo em que festejavam o dia dos meus anos,
Eu tinha a grande saúde de não perceber coisa nenhuma,
De ser inteligente para entre a família,
E de não ter as esperanças que os outros tinham por mim.
Quando vim a ter esperanças, já não sabia ter esperanças.
Quando vim a olhar para a vida, perdera o sentido da vida. "


(...)

excerto do poema "Aniversário" de Álvaro de Campos

quarta-feira, junho 07, 2006

serei eu o incêndio negro,
seduzirás tu os jasmins de junho.


virá o cunho de uma lágrima lunar,
ou um poema que tarda
e se desfolha.

mariagomes
7 jun.2006

terça-feira, junho 06, 2006


"as flores", fotografia de mariagomes

sexta-feira, maio 26, 2006

deixarei a terra quando nada mais houver.
quando o amor se fizer e as garças trocarem os remos dos rios
lançarei as sibilas aos navios.

tu serás o concreto fio dócil do meu frio.

mariagomes
26.maio.06

domingo, abril 30, 2006

Nicanor Parra: What is poetry?, 1989

todo lo que se dice es poesía

todo lo que se escribe es prosa

todo lo que se mueve es poesía

lo que no cambia de lugar es prosa


De Chistes para desorientar a la poesía, 1989.
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Acerca de mim

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Podes entrar ; tenho as mãos para dizer o disperso canto das águas. Os meus olhos, alagados pelo grito das árvores, são lúcidos ao início do sol. Com o amor das coisas, rejubilo e lanço os braços a um rodopio doce e futuro, a uma tempestade humana. Tudo o que eu espero é sentir o elo da criação que se move, entre mim e ti, e a claridade. ____________mariagomes
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