Havia uma cidade de chuva incendiada,
a mágoa que se expunha a cobrir o mel da manhã.
e nós lá dentro
como se tudo estivesse, abertamente
no rumor da falésia.
um pássaro forjou o significado das águas.
mariagomes
31deout.2005
"Abre a romã, mostrando a rubicunda Cor,com que tu, rubi, teu preço perdes; (...........)" Luis Vaz de Camões, Os Lusíadas,IX,59
segunda-feira, outubro 31, 2005
sábado, outubro 29, 2005
a seiva
Outrora, eclodiam os desertos.
Chegava a integridade de um outono -
a seiva, àquela simples casa que morria
de súbito, e amava.
mariagomes
out.2005
Chegava a integridade de um outono -
a seiva, àquela simples casa que morria
de súbito, e amava.
mariagomes
out.2005
quarta-feira, outubro 26, 2005
os últimos peregrinos
Inventamos palavras cerceando o interior,
e o resto aberto a quem passa
e nos diz:
- estes são os últimos peregrinos,
têm o nódulo da língua ligada ao sol.
amanhã o mar é o mesmo,
os mesmos peixes lavrarão, no azul, a boca de outro caminho.
mariagomes
26out.2005
e o resto aberto a quem passa
e nos diz:
- estes são os últimos peregrinos,
têm o nódulo da língua ligada ao sol.
amanhã o mar é o mesmo,
os mesmos peixes lavrarão, no azul, a boca de outro caminho.
mariagomes
26out.2005
terça-feira, outubro 25, 2005
César Fernández Moreno

tienen cuerpo las palabras tocan y son tocadas
son caramelos se las puede lamer chupar mamar
hierven como peces en un estanque tropical
tienen tantas formas como las valvas según las rocas a que se adhieran
pero importa mucho más lo que contiene su nacarado seno
la vida deliciosa frágil del ser que las habita
son transparentes para que resplandezca su contenido
son crisálidas clavos ardiendo
granadas que revientan en la mano si no se arrojan a tiempo
sólo viven para morir (...)
fragmento de "Las palabras",
De Argentino hasta la muerte,
Editorial Sudamericana, Buenos Aires, 1963
César Fernández Moreno (Argentina, 1919-1985)
a música de um pássaro triste
eu não sei porque cantaste ao meu olvido,
a música de um pássaro triste.
lançariam os dédalos o projéctil
de um sinónimo destinado à rua?
de onde nasceram os pomos que o céu incorpora?
e esta árvore na imortalidade da lâmpada?
e um suicida?
vê como demora o silêncio, vê como se nega o poema
ao abandono, “nas estátuas que são gente nossa”.(1)
mariagomes
24 de out.2005
(1) in "Mãe", Miguel Torga
a música de um pássaro triste.
lançariam os dédalos o projéctil
de um sinónimo destinado à rua?
de onde nasceram os pomos que o céu incorpora?
e esta árvore na imortalidade da lâmpada?
e um suicida?
vê como demora o silêncio, vê como se nega o poema
ao abandono, “nas estátuas que são gente nossa”.(1)
mariagomes
24 de out.2005
(1) in "Mãe", Miguel Torga
domingo, outubro 23, 2005
na página
ouve, eu tenho uma lua nova,
dobro-a com os dedos,
na página.
o mar apagou-se não sei porquê!
os sinos ousam no deserto,
nada sabendo do coração ou do afago da pedra onde repousam.
mariagomes
23.out.2005

448
Eis um Poeta - Aquele que
Tira surpreendentes sentidos
Das significações habituais -
E uma Essência tão vasta
Das espécies familiares
Que pereceram diante da Porta -
Que nos espanta não termos sido Nós
A captá-la - antes-
De Imagens, o Revelador -
O Poeta - é Ele-
Quem nos investe - Por Antítese -
Numa perpétua Indigência -
Dessa Herança - tão inconsciente -
Que Roubo algum - o poderia prejudicar -
Ele próprio - para Si Próprio- um Tesouro-
Estranho - ao próprio Tempo -
Emily Dickinson
in "Emily Dickinson
Poemas e Cartas"
pag, 55, edições Cotovia
tradução de Nuno Júdice
sábado, outubro 22, 2005
de algum lado
não podemos perder o que sobra da luz
de algum lado;
sobre a pele, existe a hora de coisas impassíveis.
os comboios brancos,
aquela flor voltada à janela, falando-nos.
não, meu amor, não podemos perder a raiz
de um corpo incandescente, agora, derramado.
mariagomes
out.2005
de algum lado;
sobre a pele, existe a hora de coisas impassíveis.
os comboios brancos,
aquela flor voltada à janela, falando-nos.
não, meu amor, não podemos perder a raiz
de um corpo incandescente, agora, derramado.
mariagomes
out.2005
segunda-feira, outubro 17, 2005
domingo, outubro 16, 2005
Rudolf Steiner
"No meu interior vive algo que me guia com mais acerto do que o grau de discernimento que possuo atualmente."
( fotografia de Ruben Moraes)
"A natureza faz do homem um ser natural; a sociedade faz dele um ser social. Somente o homem é capaz de fazer de si um ser livre".

( fotografia de Ruben Moraes)
"A natureza faz do homem um ser natural; a sociedade faz dele um ser social. Somente o homem é capaz de fazer de si um ser livre".
Rudolf Steiner
sexta-feira, outubro 14, 2005
nada de novo
lamento, amigo, não trazer nada de novo.
nem a procura é intensa
nem o encontro de um nome nos diz seja o que for.
as mesas permanecem à espera dos retratos da família.
e os livros guardam toda a poesia.
mariagomes
27.março,2005
nem a procura é intensa
nem o encontro de um nome nos diz seja o que for.
as mesas permanecem à espera dos retratos da família.
e os livros guardam toda a poesia.
mariagomes
27.março,2005
quinta-feira, outubro 13, 2005

...
"Palavras, frases, sílabas, astros que giram ao redor de um centro fixo. Dois corpos, muitos seres que se encontram numa palavra. O papel cobre-se de letras indeléveis, que ninguém disse, que ninguém ditou, que caíram ali e ardem e queimam e se apagam. Assim pois, existe a poesia, o amor existe. E se eu não existo, existes tu." (...)
Octavio Paz " Águia ou Sol?"
(recolha de Amélia Pais in " Falar Poesia 1, 1ª série.)
quarta-feira, outubro 12, 2005
domingo, outubro 09, 2005
Esta Mudança De Mor Espanto
Ta Muda Tenpu
Ta muda tenpu, ta muda vontadi,
Ta muda ser, ta muda konfiansa;
Tudu mundu é fetu di mudansa,
Ta toma senpri nobus kolidadi.
Sen nunka pára nu ta odja nobidadi,
Diferenti na tudu di speransa;
Máguas di mal ta fika na lenbransa,
Y di ben, si izisti algun, ta fika sodadi.
Tenpu ta kubri txon di berdi manta,
Ki di nébi friu dja steve kubertu,
Y, na mi, ta bira txoru u-ki n kantaba
Ku dosura.Y, trandu es muda sen konta,
Otu mudansa ta kontise ku más spantu,
Ki dja ka ta mudadu sima kustumaba.
Luís Vaz de Camões
tradução para crioulo de Cabo Verde é de José Luís Tavares
sábado, outubro 08, 2005
Nâzim Hikmet :20.01.1902/ 03.06.1963 ( Turquia)
Os cantos dos homens são mais belos que os homens,
mais densos de esperança,
mais tristes,
com uma vida mais longa.
Mais do que os homens eu amei os seus cantos.
Consegui viver sem os homens
nunca sem os cantos;
aconteceu-me ser fiel
à minha bem amada
mas nunca ao canto que para ela cantei:
nunca também os cantos me enganaram.
Qualquer que fosse a sua língua
sempre compreendi os cantos.
Neste mundo,
de tudo o que pude beber e comer
de todos os países por onde andei,
de tudo o que pude ver e ouvir,
de tudo o que pude tocar e compreender
nada, nada
conseguiu fazer-me tão feliz como os cantos...
20 de Setembro de 1960
Nâzim Hikmet
in " Poemas da prisão e do exílio"
editora & etc
Tradução de Rui Caeiro
mais densos de esperança,
mais tristes,
com uma vida mais longa.
Mais do que os homens eu amei os seus cantos.
Consegui viver sem os homens
nunca sem os cantos;
aconteceu-me ser fiel
à minha bem amada
mas nunca ao canto que para ela cantei:
nunca também os cantos me enganaram.
Qualquer que fosse a sua língua
sempre compreendi os cantos.
Neste mundo,
de tudo o que pude beber e comer
de todos os países por onde andei,
de tudo o que pude ver e ouvir,
de tudo o que pude tocar e compreender
nada, nada
conseguiu fazer-me tão feliz como os cantos...
20 de Setembro de 1960
Nâzim Hikmet
in " Poemas da prisão e do exílio"
editora & etc
Tradução de Rui Caeiro
segunda-feira, outubro 03, 2005
na existência pura
quero fotografar o poema na existência pura,
levantar a delicada forma da carne, da imagem ao nervo,
a morte que transcende a constelação
de um precoce outono perdido na folha onde escrevo.
ah se tu soubesses
como é redonda a levedura que me sela o gesto.
mariagomes
3out.2005
levantar a delicada forma da carne, da imagem ao nervo,
a morte que transcende a constelação
de um precoce outono perdido na folha onde escrevo.
ah se tu soubesses
como é redonda a levedura que me sela o gesto.
mariagomes
3out.2005
António Maria Lisboa*

(fotografia de mariagomes)
in " A Phala, Um século De Poesia"( 1888-1988)
edição Assírio & Alvim
*António Maria Lisboa (1928-1953) nasceu e faleceu em Lisboa. Foi um dos introdutores do surrealismo em Portugal, tendo colaborado nas sessões do JUBA e nas exposições do Grupo Surrealista Dissidente. Escreveu Erro Próprio (1950), o principal manifesto do surrealismo português, e foi redactor de Afixação Proibida em colaboração com Mário Cesariny de Vasconcelos.
Obras: Ossóptico (Lisboa, 1952), Isso Ontem Único (Lisboa, 1953), A Verticalidade e a Chave (Lisboa, 1956), Exercício sobre o Sono e a Vigília de Alfred Jarry seguido de O Senhor Cágado e o Menino (Lisboa, 1958), Poesia (Lisboa, 1977; 2ª ed., Lisboa 1995).
domingo, outubro 02, 2005
de um coágulo
não saias. vou contar-te uma história pequenina;
uma vez , alguém, apertava a intimidade.
trazia pela mão a noite,
como rendimento o coração determinado.
pai, uma vez, uma ilha oferecia a vida,
vastíssima têmpera de um coágulo.
marigomes
2.out.2005
uma vez , alguém, apertava a intimidade.
trazia pela mão a noite,
como rendimento o coração determinado.
pai, uma vez, uma ilha oferecia a vida,
vastíssima têmpera de um coágulo.
marigomes
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Acerca de mim

- mariagomes
- Podes entrar ; tenho as mãos para dizer o disperso canto das águas. Os meus olhos, alagados pelo grito das árvores, são lúcidos ao início do sol. Com o amor das coisas, rejubilo e lanço os braços a um rodopio doce e futuro, a uma tempestade humana. Tudo o que eu espero é sentir o elo da criação que se move, entre mim e ti, e a claridade. ____________mariagomes
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