terça-feira, junho 07, 2005

uns chegam cansados da eternidade


Não dissocio a palavra da música. Não dissocio a música da memória porque " memória" é uma palavra muito cara que advém de um silêncio...
- silêncio que é o som que insiste, que bate em mim, interior e exteriormente
:



uns chegam cansados da eternidade.
trazem a mão agarrada
a uma pedra.
falam-me de altas pedras em quebranto.

dêem-me uma palavra.


encontrei um arquipélago
como uma cabeça de malmequeres fendidos.
avessa
como instrumento de angústia

inúmera.
dêem-me uma palavra.
sim o candelabro contínuo
porque eu quero ouvir pelo orifício d’aurora
o sepulto mar que me atravessa.


mariagomes
junho.2005




****

Oráculo


a palavra de espanto
uma flor e um sorriso
trazem telas e um canto
uma margem e um friso.

um claro sul salino
uma pedra no vento
mais um céu opalino
que é do meu sustento.

e na voz peregrina
recolhe o arquipélago
no ramo que declina.

a angústia é um orago
numa fala menina
que anuncia o pressago.

josé félix
2005.06.07



em Escritas





8 comentários:

Anónimo disse...

Belo poema, Maria. Belo. É esta a palavra: belo.

mariagomes disse...

maria

grato por teres colocado aqui o meu sonetilho.
intertextualidades e metatexto são alguns dos ingredientes que buscamos nas listas de discussão.

Noto que a Titti também é visita do teu blogue.

apesar de alguns chegarem cansados de eternidade vamos caminar, caminando, como o poeta antonio machado.

josé félix

Anónimo disse...

Os Poetas nunca se cansam da eternidade. Está muito rico culturalmente este seu post, e o José Felix, escreve muito bem. Beijinhos.

Anónimo disse...

« Não dissocio a palavra da música. Não dissocio a música da memória porque " memória" é uma palavra muito cara que advém de um silêncio...
- silêncio que é o som que insiste, que bate em mim, interior e exteriormente » _ Como eu concordo com este conceito, especialmente hoje.
" Alguns chegam cansados da eternidade, com uma pedra na mão" ...mas ao regressarem à eternidade, deixam aqui a pedra e partem de mãos vazias !
Belo poema de José Félix, tão simples de palavras para desvendar tanta verdade confusa. Francamente, gostei muito, e nem sei se imagina como fala verdade simplesmente de verdades tão pouco simples. Gostei.

mariagomes disse...

pois é, Tutti Mª do Céu e
f.s.m, com nos lembra o Félix:

“Caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.”
“Todo pasa y todo queda,
pero lo nuestro es pasar,
pasar haciendo caminos,
caminos sobre la mar.”
(António Machado)



obrigada a todos,
beijinhos da

maria

Anónimo disse...

factu, lindu teu poema
mas eternidade não cansa...
pesa
e flui...
connosco ou sem nosco...
qual seu sentido?
aí entra cada um
e todos
fazendo-a pesar bem
qdo nos situamos
amago nosso colectivo anseio
desenvolvimento
da paz liberdade encontro
quiçá...
"disso"
parabens
eteria mulher
o és...
2005.06.08

Anónimo disse...

...e se pesa a eternidade de nós...
nada se dissocia de nada
intercontinuidade e metalingua
pensamento
tudo nos associa ela
nela por ela
beijus
e q as pedras caiam
para seres sucessivamente
mais e mais
leve
em tempos de memoria colectiva nossa
luta continua

mariagomes disse...

e a vitória, camarada anónimo, é certa?
obrigada pelos parabéns,

beijinhos da
maria

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A minha foto
Podes entrar ; tenho as mãos para dizer o disperso canto das águas. Os meus olhos, alagados pelo grito das árvores, são lúcidos ao início do sol. Com o amor das coisas, rejubilo e lanço os braços a um rodopio doce e futuro, a uma tempestade humana. Tudo o que eu espero é sentir o elo da criação que se move, entre mim e ti, e a claridade. ____________mariagomes
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