é breve a vida de uma romã de vidro, senão hibernar. meus amigos, tenho o meu contacto no perfil. pode ser que, um dia regresse, com o mesmo blog ou outro, mas mantendo sempre a minha identidade.
foi bom navegar, foi bom estar convosco.
a todos o meu abraço
mariagomes
romãs de vidro
um dia, ficaste triste como a noite.
e nunca mais a noite foi.
o tempo tem um rosto. e as manhãs
são romãs de vidro.
és, sobre o exílio, o muro que a língua eleva.
tanges uma lira;
cabe-te uma canção
uma canção de amanhecer imperecível.
mariagomes
ag.2004
"Abre a romã, mostrando a rubicunda Cor,com que tu, rubi, teu preço perdes; (...........)" Luis Vaz de Camões, Os Lusíadas,IX,59
domingo, agosto 29, 2004
em silêncio
espera a palavra do ermo do luar.
em silêncio uma sílaba cegou.
na noite anónima
o vento duma estrela vinda
nos teus olhos descreve um arco
vive e suplica o movimento.
mariagomes
29ag.2004
sábado, agosto 28, 2004
sexta-feira, agosto 27, 2004
o lugar da poesia*
*ao josé a. gonçalves e ao josé félix
não sei, meus amigos, o que fazer da minha poesia.
o que fazer do que antecede, do que digo ,
do que é excessivo, às vezes, como uma lâmpada alegre.
estou presa num poema.
estou prestes a explodir em espuma.
procuro um lugar. os olhos, a parede.
vou pendurar a minha poesia nos olhos da parede.
vai escorrer pela cal húmida.
vai desfazer as mãos redondas das lágrimas.
depois, quando não mais houver, sem o olhar,
sento-me num degrau qualquer de magnólias
e acaricio-as como se ali nascesse o mar.
mariagomes
ag.2004
quinta-feira, agosto 26, 2004
o primeiro reduto
Ainda que não venhas chega-me a palavra
O primeiro reduto do silêncio
Num solstício eu sonho com sombras
E ao sol
Oiço a claridade a nudez
E tenho a sensação de tudo haver
Em convulsão num corpo
uma vez.
mariagomes
jul.2004
na origem
amo-te com as palavras puras do teu corpo
Os meus lábios alimentam-se da ilusão lisa
No sussuro de um pássaro que vem da tua alma
Bate as asas na origem
mariagomes
jul.2004
quarta-feira, agosto 25, 2004
escrever
escrever a noite
depois, escrever em ti
com o meu corpo, a noite que escrevi.
mariagomes
maio.2004
chegará janeiro
desperta-te a velocidade oculta
Pelo sono atravessa o espelho A luz prevista
Ao longe a lua E a formula escura de dizer
que a noite habita Reflecte Toma a forma-mãe
Nunca dirás as coisas necessárias
Chegará janeiro e a anuência mista de um país de espuma
Vês a cidade lassa e um vazio que te abraça Risca.
mariagomes
ag.2004
segunda-feira, agosto 23, 2004
a noite límpida

"The Rest" by Pablo Picasso
dorme;
pelo amor das cerejeiras chegou a noite límpida.
um ciciar como vinha o vento
que ardia, furto do lume do teu corpo.
pelo amor todo dos frutos, consome
a brancura inatingível das primaveras; dorme.
mariagomes
ag.2004
domingo, agosto 22, 2004
neste ofício
neste ofício neste beijo de dedos solitários
a palavra acaricia a fundo
um chão capaz de erguer a luz do mundo
o poema a casa o pão
mariagomes
jul.2004
sábado, agosto 21, 2004
os peixes vivos
Mãe
Veio uma canção camponesa sugerir o sul
Veio devagar com o vapor dos pássaros
Sopra lenta e solidamente sobre as minhas mãos
Sabes Mãe Eu só sei falar de mãos
Marés e ilhas sem pescadores
Sustentam-me ventos e bússolas
onde dormem os berços das crianças todas
Sustenta-me o hábito de trazer o verde As areias
As fotografias Os fogos extintos Por fora
As águas cheias de peixes
Os peixes vivos no convés da memória.
mariagomes
jul.2004
ao meio dia
vivem rosas ao meio dia.
sorriem com as mãos do silêncio,
sorriem com o coração declaradamente aberto
e clandestino; com o sangue dos espinhos
dentro de agosto, ao meio dia, vivem rosas.
mariagomes
ag.2004
quarta-feira, agosto 18, 2004

alegrias brancas
segurei as folhas
nos sorrisos despidos de pétalas sonoras
segurei a boca nas mesmas palavras
e o corpo a continuar a qualquer hora
segurei alegrias brancas
nos olhos do tempo a morte difícil
a luz franca que vem e fica
segurei a cegueira em fita em arrepio
até ao sangue plano do poema a fio.
mariagomes
ag.2004
segunda-feira, agosto 16, 2004
desse tempo
um poente em cada porto,
e o mar que vem dizer a hora lírica das horas.
e o deserto, fingidamente, morto.
desse tempo, eu nascia.
sabe-me a sol, o grito,
o que dentro de mim varia a cada instante.
mariagomes
16.ag.2004
e as muralhas
onde os homens inventam os batuques
a madrugada é, num dialecto puro,
o pé das caminhadas audíveis dos poetas
onde a enseada é cega, são as cadências férteis
e as muralhas cismam no futuro.
mariagomes
jun.2004
" natureza ressuscitada"

Autor: Eduardo Luiz (1932 - 1988)
Século: XX Ano: 1972
Tipo: óleo sobre tela
Dimensões: 140 x 85 cm
Local: Colecção particular (Lisboa)
em : Galeria de Pintura de Teixeira Pinto (Abre-Latas), com hiperligação ao Blog Pintores Portugueses
domingo, agosto 15, 2004
acto de nascer
eu quero na primavera morrer,
prolongar a vida
sem ter um gélido chão que me acolha.
quero reciclar-me numa folha;
amadurecer como um doce fruto
na língua da serpente
que sente a tentação de amante sorte.
mariagomes
março,2000
o poema
o poema vem, por dentro, a percorrer
em sentido único uma inclinação contrária.
e eu sustento-o.
mariagomes
ag.2004
coisas de verdade
Ontem A lua mostrou-me os olhos
Eram redondos e viam coisas de verdade
Na voz de um verso
Ela chorava pela partida da boneca
e a despedida
Numa inocência cúmplice foi a claridade.
mariagomes
ag2004

JOYCE STOLAROFF
sábado, agosto 14, 2004
romãs de vidro
um dia ficaste triste como a noite.
e nunca mais a noite foi.
o tempo tem um rosto. e as manhãs
são romãs de vidro.
és, sobre o exílio, o muro que a língua eleva.
tanges uma lira;
cabe-te uma canção
uma canção de amanhecer imperecível.
mariagomes
agosto, 2004
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- mariagomes
- Podes entrar ; tenho as mãos para dizer o disperso canto das águas. Os meus olhos, alagados pelo grito das árvores, são lúcidos ao início do sol. Com o amor das coisas, rejubilo e lanço os braços a um rodopio doce e futuro, a uma tempestade humana. Tudo o que eu espero é sentir o elo da criação que se move, entre mim e ti, e a claridade. ____________mariagomes
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