domingo, julho 03, 2005

O céu contra os eclipses / Maria do Sameiro Barroso


(fotografia de "a rota dos ventos")


Rosas de um deserto vermelho, num tempo de morrer,
pela primavera, como os reis solares,
para exercitar a beleza, a criação,
o céu contra os eclipses adormecendo na turbulência lírica
dos dias, os meses passando suavemente.
Ontem Giuseppe Sinopoli morreu, em Berlim,
a dirigir o terceiro acto da Aïda.

Debruçada sobre os desertos, pensei no Egipto
dos faraós, em Belzoni, nas primeiras escavações,
num verso de António Ramos Rosa:
— “Desertei da biografia e dos relógios”.

E as lacunas emaranharam-se para construir a súbita
vastidão, os degraus e sua beleza resoluta,
pelos instantes nocturnos onde a intensidade se revela,
o mundo transpira, em cada instante,

o esplendor da claridade estende-se, pelas esfinges
lentas, diuturnas,
sobre a água e os papiros, as pirâmides grandiosas;

Hórus, o Deus Falcão, estendendo as suas asas,
pela agilidade que se ergue
e as luas lentas aproximam-se, porque amo os desertos,
os violoncelos verdes, o ímpeto radioso
e a poesia que se consuma,


pela aventura íngreme de todos os textos.


Maria do Sameiro Barroso*

(21-IV-2001)

(In Revista Mealibra, nº 9, Viana do Castelo, Dezembro, 2001, pg. 167.)

* o meu beijinho de agradecimento à Maria do Sameiro, por este poema oferecido à romã de vidro.

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Podes entrar ; tenho as mãos para dizer o disperso canto das águas. Os meus olhos, alagados pelo grito das árvores, são lúcidos ao início do sol. Com o amor das coisas, rejubilo e lanço os braços a um rodopio doce e futuro, a uma tempestade humana. Tudo o que eu espero é sentir o elo da criação que se move, entre mim e ti, e a claridade. ____________mariagomes
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