terça-feira, julho 26, 2005

e.e.cummings

"...citarei muito brevemente um livro maravilhoso, com o qual me familiarizei pela primeira vez através de uma amiga maravilhosa chamada Hildegarde Watson - um livro cujo título em português é Cartas A Um Jovem Poeta, e cujo autor é o poeta alemão Rainer Maria Rilke:

'As obras de arte são de uma solidão infinita e nada nos toca tão pouco como a crítica. Apenas o amor as pode alcançar e deter e julgar equitativamente.'

Na minha orgulhosa e modesta opinião, estas duas frases valem toda a soi-disant crítica das artes que já existiu ou que algum dia existirá. Discordem delas tanto quanto quiserem, mas nunca as esqueçam; porque se as esquecerem terão esquecido o mistério que vocês têm sido, o mistério que serão, e o mistério que agora são-

tantos seres ( tantos demónios e deuses
cada qual mais ganancioso de que todos) é um homem
( tão facilmente um em outro se esconde;
e não pode o homem, sendo todos, fugir a nenhum)

tão vasto tumulto é o mais simples desejo:
tão impiedoso massacre a esperança
mais inocente ( tão profunda é a mente da carne
e tão desperto o que o acordar chama dormir)

assim nunca está mais sozinho o homem só
( o seu mais breve respirar vive o ano de algum planeta,
a sua mais longa vida é a pulsação de algum sol;
a sua menor imobilidade percorre a mais jovem estrela)

- como pode um louco que a si próprio se chama " Eu" supor
que entende um não numerável quem? "

....

E.E. Cummings
in " eu seis inconferências"
edição assírio e alvim

no comments

domingo, julho 24, 2005

imaginário

são minhas as águas que se calam,
é meu o poema perdido, e uns girassóis,

e esta ânsia
devoluta no silêncio que poderia ter nascido.

nada mais tenho, oh lago imaginário.

mariagomes
24julho2005

sexta-feira, julho 22, 2005

" Memória"


(@ fotografia de mariagomes)



De todos os cilícios, um, apenas,
Me foi grato sofrer:
Cinquenta anos de desassossego
A ver correr,
Serenas,
As águas do Mondego.

Coimbra, 1 de Novembro de 1983

Miguel Torga

quinta-feira, julho 21, 2005


Rua Ferreira Borges, Coimbra, 21 de Julho de 2005 @mariagomes

Mia Couto

“Eis a diferença:
Os que antes morriam de fome
Passaram a morrer por falta de comida.”


( taberneiro Tuzébio)

Mia Couto

in “ Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra”

Editorial caminho

quarta-feira, julho 20, 2005

A Morte do Valente

Mamava no verde das tetas de coqueiros,
e no regaço de areias amadas pelo vento,
gostava de brincar com pedras fixas
sem medo, batidas pelo mar.

Um dia descobriu outra identidade;
nome: Valente
filho de: Vontades
idade: Militar

E marchou.

Tanto marchou que, num voo desventrou a terra,
qual ave ferida caiu na cratera da vida.
Ficou-lhe a bater o coração, e à cintura
um coágulo de revólver figurado...

Circulou num andar de ruínas pelas ruas,
lambeu o lixo de muitas vaidades.
Com raiva engolida no tempero da fome
consultou o mercado trocado de valores:
- uma galinha valia mais do que a pólvora!
num gesto herdado de pensar ao vento,
acariciou a cintura...
Logo, de todos os quadrantes partiram balas...
O mundo armado no medo da verdade
atingiu um astro na sua idoneidade.


mariagomes
dezembro, 2002

Sebastião Salgado



"Refugee From Gondan, Mali 1985 "

terça-feira, julho 19, 2005

OBJETIVO




"Os verdadeiros versos não são para embalar, mas para abalar"

Mário Quintana





gradualmente



despir os olhos gradualmente à emoção dos regatos
algo visto intocável
é esse manto de cambraia

o azul da carne
a cintura
no prolongamento de um vulto que sustenta a luxúria.


mariagomes
julh.2005

domingo, julho 17, 2005

" Regatas em Argenteiul"






"...a primeira impressão a que somos sensíveis, nunca deve ser perdida"...

Claude Monet

( a enrique granados)

hoje, não há rosas em casa.
há a consagração vermelha de guitarras
e o navio
saindo das profundezas
com muitas partituras de paris
tocadas,
em valsa, por monet.

mariagomes
julho2005

sexta-feira, julho 15, 2005

difícil aventura

vem comigo fazer a tal viagem.
a poesia foi pensada
na funda, difícil, aventura de filtrar o que somos.
oferece-me um rio,
o outro lado
do trigo que sobrou da eternidade.

mariagomes
julho.2005

quinta-feira, julho 14, 2005

a pergunta de Sofia...

A Sofia* apontou o dedo para um livro, e fez-me a seguinte pergunta : "de quem é essa palavra?"

Hoje, aprendi com a minha neta que a palavra é um livro.


mariagomes



( * com 2 anos e 10 meses)

artCanal



"Vênus" de Zamboni
téc: mista - 80x100- ano 2000

terça-feira, julho 12, 2005

a obsessão

porque me espreita de um piano
a nota solta
minúscula iniciando o mundo

porque é breve a obsessão
e o litoral vai

para uma ilha onde se altiva

porque o milagre é absoluto
de animais que afiam as miragens

porque na música há palavras
eu posso escrever
meu amor.


mariagomes
julho.2005

sábado, julho 09, 2005

e os milhafres

e os milhafres que me ardem na mão,
o cacto, a cor do exílio delirante,
tudo isso exacto em claves e claustros

repartidos pelos dedos de um poente marítimo
a acontecer nos meus deuses, quando ainda havia deuses

qu’ eu podia amar,

o que deles faço?

mariagomes
9 de julho.2005

sexta-feira, julho 08, 2005

Paulo Leminski




ODE À POESIA


"Parem, eu confesso, sou poeta. Cada manhã que nasce me nasce uma rosa na face. Parem, eu confesso, sou poeta. Só meu amor é meu deus, eu sou o seu profeta".

Paulo Leminski ( Brasil, 1944/1989)

Pedro Oom


"Poesia não é uma medalha para por no peito dos tiranos mas uma imensa solidão feita de pedras, onde o despotismo pode encomendar o ataúde. Cada um de nós odeia o que ama. Por isso o poeta não ama a poesia que é só desespero e solidão mas acalenta ao peito as formigas da revolta e da rebeldia, que todos os déspotas querem submissas e procriadoras. Só os voluntários da miséria e da submissão patriarcal querem a poesia na arca da aliança com a tradição pacóvia e regionalista dos pretéritos dias, glórias patrioteiras, heroicidades frustes, pirataria ignara.Todo o verdadeiro poeta despreza o pequeno monte de esterco onde o dejectaram no planeta e a que os outros chamam pátria, e só ama os grandes continentes mares e oceanos da liberdade e do amor. Só nos vastos espaços incriados a poesia serve o seu destino – catapultar o homem nos abismos do desejo incontrolado onde o próprio assassinato é um acto de poesia e de amor. Este assassinato de que falo é o grande amplexo de homem para homem a solidariedade e a ternura, não a caridade hipócrita ou a cama de família, com todo o seu pequeno cortejo de horrores, onde a exploração do filho pelo pai dita a sua lei."

[Pedro Oom, Poema, in Grifo 1968 (?)]


*Pedro dos Santos Oom do Vale (1926 - 1974) foi um escritor surrealista português, que fez parte do Grupo Surrealista Dissidente, juntamente com nomes como Mário Cesariny e Alexandre O'Neill.

quinta-feira, julho 07, 2005

EU QUERO QUE AS FLORES SE PONHAM

EU QUERO QUE AS FLORES SE PONHAM SEMPRE COMO AMENDOEIRAS
BRANCAS BRANCAS BRANCAS
ÀS VEZES ESTOU NUM VERSO E EXPLODEM BOMBAS
ENTRA UM VENTO REFLECTIDO COMO AREIA QUE PROCURA OPOR-SE
E EU VEJO AS COISAS QUE ELE OFERECE
ELE TECE UM CÍRCULO UM MOVIMENTO O SANGUE
INCÓGNITO DA CEGUEIRA ONDE UM VERÃO SE ESCONDE
EU QUERO QUE AS FLORES SE PONHAM SEMPRE LONGE DA VISÃO DO FOGO
EU QUERO AS FLORES SE PONHAM.

mariagomes
7 julho.2005

Marc Chagall




só é meu
o país que trago dentro da alma.
entro nele sem passaporte
como em minha casa.
ele vê a minha tristeza
e a minha solidão.
me acalanta.
me cobre com uma pedra perfumada.
dentro de mim florescem jardins.
minhas flores são inventadas.
as ruas me pertencem
mas não há casas nas ruas.
as casas foram destruídas desde a minha infância.
os seus habitantes vagueiam no espaço
à procura de um lar.
instalam-se em minha alma.
eis por que sorrio
quando mal brilha o meu sol.
ou choro como uma chuva leve
na noite.
houve tempo em que eu tinha duas cabeças.
houve tempo em que essas duas caras
se cobriam de um orvalho amoroso.
se fundiam como o perfume de uma rosa.
hoje em dia me parece
que até quando recuo
estou avançando
para uma alta portada
atrás da qual se estendem altas muralhas
onde dormem trovões extintos
e relâmpagos partidos.
só é meu
o mundo que trago dentro da alma.

Marc Chagall*

(tradução: manuel bandeira)

*Marc Chagall nasceu em 1887 na Rússia Czarista. Filho mais velho de uma família pobre, educou-se em um ambiente de perseguição aos judeus. Em 1910, mudou-se para Paris, onde viveu até 1914 e onde teve contato com as sucessivas vanguardas do mundo das artes plásticas.Inicialmente aceito pelo regime soviético, em 1922 afastou-se dele e regressou para a França. Durante a Segunda Guerra Mundial viveu nos Estados Unidos. Múltiplo artista, cultivou, além da pintura, a cenografia, os vitrais, os mosaicos, etc. O seu mundo pictórico desligou-se em certo modo das vanguardas e tornou-se profundamente pessoal, contendo elementos cubistas e surrealistas, assim como símbolos judaicos e russos. O caráter onírico, a variedade cromática, um aparente infantilismo e a facilidade decorativa repetem-se incessantemente na sua pintura. Reconhecido como um dos principais pintores do século XX, Marc Chagall morreu em 1985, na França.

segunda-feira, julho 04, 2005

pergunta ao renascer

cantar sem a nostalgia,
porque sempre vai à frente
o sol da madrugada.

vento livre de verso humano,
na tua mão traçada,
pergunta ao renascer
:
poderá um critério,
cantar, cantar a forma,
viver em poesia, carne do teu ser?

(que poderá a memória?)



mariagomes
4 julho.2005

domingo, julho 03, 2005

Mia Couto



"Dizem que os poetas sabem, sentindo. Distinguem-se dos homens da ciência porque estes estão credenciados por um saber contabilizável. Mas não há fronteira entre sentir e raciocinar. Persiste em todo o acto de sabedoria um diálogo secreto entre coisas e seres."
....

Mia Couto
excerto do prefácio de " os joelhos do silêncio"
de Heliodoro Baptista
editorial caminho

Ave Solitária / Manuel C. Amor




À Maria Gomes

"Separados fomos por cítaras e canto
Como outros por prisões ou por espadas
"

(Sophia Mello Breyner Andresen)


Ave solitária voando sobre o mar
arrancando o corpo às tempestades.

Vieste do tempo
em que tudo nasce e tudo morre.
Assistes a esta nossa vida
longe da terra combalida.

Nenhuma nostalgia
matará as palavras
com que fazes os versos.


Manuel C. Amor

Julho 2005.

em Escritas

O céu contra os eclipses / Maria do Sameiro Barroso


(fotografia de "a rota dos ventos")


Rosas de um deserto vermelho, num tempo de morrer,
pela primavera, como os reis solares,
para exercitar a beleza, a criação,
o céu contra os eclipses adormecendo na turbulência lírica
dos dias, os meses passando suavemente.
Ontem Giuseppe Sinopoli morreu, em Berlim,
a dirigir o terceiro acto da Aïda.

Debruçada sobre os desertos, pensei no Egipto
dos faraós, em Belzoni, nas primeiras escavações,
num verso de António Ramos Rosa:
— “Desertei da biografia e dos relógios”.

E as lacunas emaranharam-se para construir a súbita
vastidão, os degraus e sua beleza resoluta,
pelos instantes nocturnos onde a intensidade se revela,
o mundo transpira, em cada instante,

o esplendor da claridade estende-se, pelas esfinges
lentas, diuturnas,
sobre a água e os papiros, as pirâmides grandiosas;

Hórus, o Deus Falcão, estendendo as suas asas,
pela agilidade que se ergue
e as luas lentas aproximam-se, porque amo os desertos,
os violoncelos verdes, o ímpeto radioso
e a poesia que se consuma,


pela aventura íngreme de todos os textos.


Maria do Sameiro Barroso*

(21-IV-2001)

(In Revista Mealibra, nº 9, Viana do Castelo, Dezembro, 2001, pg. 167.)

* o meu beijinho de agradecimento à Maria do Sameiro, por este poema oferecido à romã de vidro.

sábado, julho 02, 2005

Nem tudo o que escrevo é poesia. Nem sempre "voo fora das asas" (1), escrevo todos os dias para poder tocar as teclas ou ver no papel correr a caligrafia.
Mas o poema vem quase sempre de um papel.
Se reparo que, se há traços que são inimitáveis na minha caligrafia, reparo também que há dias em que ela se apresenta com ligeiras diferenças, mais fechada ou mais aberta. Julgo que será por essas diferenças que a poesia deve entrar.


mariagomes
2julho.2005


(1) Manoel de Barros

Piazzolla é um adeus inacabado




A Silvia Chueire do blog eugeniainthemeadow, perguntou-me numa Lista de Poesia como tinha surgido o poema que escrevi sem título, e eu disse-lhe que tinha surgido da música. Alguns dos meus poemas nascem da música que me fragiliza, e Piazzolla é um dos compositores que tem esse poder. Oiço-o até à exaustão, tocado de mil maneiras, seja pela Orquestra Filarmónica de Berlim, seja pela Orquestra do Teatro de Cólon. Há variadíssimas composições, fruto da fusão cultural que lhe é característica. Quando parece que tudo foi ouvido, surge uma nova versão ( e qual delas a mais bela?!)

Piazzolla é um adeus inacabado.

Ou um poema inacabado porque, numa outra oficina, Escritas, o Xavier Zarco e o José Félix, depois, escreveram:



ninguém morre de morte natural (1)


são decepadas as árvores
no consumismo das urbes.

só uma sílaba
percebeu o desígnio da morte
fugindo com vento
numa folha velha
de fuligem.

houve cânticos
no canavial da ravina.

josé félix

(1) jorge de sena


.../...


...e converter-se-á

semeados os lábios na sede
indagarão as secretas
águas dos templos

sobre a ara
a flor vermelha

as mãos em silêncio
do frio dos joelhos colherão
as sílabas de cada
uma
das suas pétalas...

Xavier Zarco




sexta-feira, julho 01, 2005

talvez a terra se converta,
e volte co'a flor vermelha.

olha, nunca mais eu vou morrer.
piazzolla tocou, ontem, pela enésima vez.
é preferível que do campo se livre um outono, como a morte.

mariagomes
1julho.2005

quarta-feira, junho 29, 2005

em desalinho

os cabelos nasceram-me mortais e louros.

vê como adormeci à beira do monte.
onde tudo é simples,

existem lugares, em desalinho.

as palavras estão quase tristes.

mariagomes
29junho.2005

segunda-feira, junho 27, 2005

um país de cordas



venho falar-te de um país de cordas
que coincidem.
o voo guarda, na mão, o banho dos rios.
ali, o sol morre.
inicial,
o mar é a morte líquida.
zeus respira na coroação, numa acácia,
num ímpeto de sangue
de terra copiosa
de mães de muito mais.
ali, é lícita a lágrima
:
o homem
e a clareira abrem-se como caracteres que se consomem.

mariagomes
27junho.2005

domingo, junho 26, 2005

na palavra*

não falemos de ilhas,
a brevidade baloiça num rio redondo.
louco,

o inventário pertence a uma canoa de pássaros.
há tanto tempo

ou
hoje,
apenas hoje,
a preguiça presa ao sol
despontou.

de súbito, aqueceu a pedra
naquela língua
que lida

pula

pula

pula.


eu tenho na palavra uma pedra,
a língua que perdura.
há muito mar,
e os meus olhos nem azuis são.

mariagomes
26junho.2005


*ukulele ( no blogue quartzo, feldspato e mica)

sexta-feira, junho 24, 2005

onde ouvir histórias


welwitcha mirabilis, deserto do Namibe, Angola, fotografia de mariagomes



onde ouvir histórias com deus
e o deserto?
sabes, as espinheiras em declínio, exactas,
peremptoriamente
querem escolher dunas

e o esquecimento irrompe de uma chuva de claves.
deus desapareceu no deserto
a escrever versos muito verdes muito
verdes.

mariagomes
24dejunho.2005

um índice


"Avó, desliga o vento"
Sofia Gomes


nunca mais desliguei o poema do vento
porque o poema atravessa o pátio
e as palavras
a medula tem o vagar dos teus laços,
oiço-a na respiração,
como púcaros que bebi.

um índice ilumina as entranhas.

que a primavera me devolva o ouro a pupila,
de um tempo quente
uma ponte
para que, serenamente, possam
seguir-te as águas.

mariagomes
24junho, 2005

quinta-feira, junho 23, 2005



"Menina da Boina Verde"
Autor: Mily Possoz (1888 - 1967)

terça-feira, junho 21, 2005

a poesia de sofia...

"Avó, desliga o vento."

Sofia Gomes ( 2 anos e 9 meses)
coimbra, junho.2005

cantando a neve



mãe, se auréolas chegarem cantando a neve, o copo,
a colina da lua antiga e a carne, na mão,
beber da música do meu silêncio
inteira e selada, eu inflamarei as estrelas
e depois saberei de tudo;
da madrugada imperfeita em que nasci, o nome do sol
na febre... com que palavras me acordaram a esse sono.
mãe, se cada poema morrer, antes de mim
pede a Sipho Gumede(1) que os leve para Sul.
que tombe o meu corpo sobre aquele sopro todo.
e eu fique, assim eternamente,
entregue e com sentido.

mariagomes
21.junho.2005

(1) cantor sul-africano

segunda-feira, junho 20, 2005

sobre uma fotografia...



(" ao fundo ", fotografia de Carlos Peres Feio*)

há neste incêndio a felicidade,
uma luz a subir pela árvore, do lado errado.


mariagomes
20junho 2005

* em http://moinhoalto.nafoto.net/

sábado, junho 18, 2005

o que eu te queria dizer


este dia prende-se a todas as formas líquidas.
e no céu verde,
sem me aperceber,
os dedos tremem para além do desejo
que consegue tocar as tulipas.
e a comunhão é como aquela vontade de guardar mãos infinitas.
era só isto o que eu te queria dizer.


mariagomes
18junho.2005

quinta-feira, junho 16, 2005

uma alucinação



os cílios, esses, há muito que esperam. porque a cor acaba funcionária.
e eu vejo-a, tão lúcida. acordo sem medir o sussurro, a pústula. pergunto a cada
transeunte pela memória. insubstituíveis, viram a face, desfiando o sol, espiando
o
anoitecer onde muitas pedras gravitam no teu nome. houve uma alucinação contrária.

mariagomes
16.junho.2005

quarta-feira, junho 15, 2005

onde repousa a música

tive a infância efémera do feno,
aquele lugar onde repousa a música.
e a leveza difícil, no ser,
ainda arranca os braços
dos homens que se cruzam.

não se conhecem as pedras pela rua.
qualquer ave é uma pátria, qualquer palavra
lã de rosmaninho.

hoje, eu sou a cal,
rosa nocturna que se deita.
e no teu peito
os barcos e a candura, o meu caminho.


mariagomes
junho.2005

terça-feira, junho 14, 2005

( a eugénio de andrade)

um poeta morre, é infindo dizê-lo
como um pássaro que simplifica o nome.


mariagomes
14junho.2005

segunda-feira, junho 13, 2005


(desenho de Álvaro Cunhal)


"um apelo à arte que intervém na vida social (...) um apelo à liberdade, à imaginação, à fantasia, à descoberta e ao sonho."

Álvaro Cunhal
1996

Até amanhã, camarada!**





"Constitui um direito à liberdade que um artista concentre exclusivamente o seu talento e a sua criatividade na busca de novos valores formais: o da cor, do volume, da musicalidade, da linguagem. Essa atitude tem conduzido a enriquecimentos e descobertas dando vida à obra por virtude dos novos valores formais conseguidos.

Constitui também um direito à liberdade que um artista parta à descoberta de novos valores formais (da cor, do volume, da musicalidade, da linguagem) com o propósito de os tornar adequados e capazes de levar à sociedade, ao ser humano em geral, uma mensagem de alegria ou tristeza, de solidariedade ou de protesto, de sofrimento ou de revolta, em qualquer caso, como é de desejar de optimismo e de confiança no ser humano e no seu futuro."

Álvaro Cunhal

** (N. Coimbra,10 de Novembro de 1913, F. Lisboa a 13 de Junho de 2005 )

in "A Arte, o Artista e a Sociedade"
Editorial Caminho, Lisboa, 1996
(pg.20-21)

19 Janeiro de 1923 / 13 de Junho 2005




O SORRISO

Creio que foi o sorriso,
o sorriso foi quem abriu a porta.
Era um sorriso com muita luz
lá dentro, apetecia
entrar nele, tirar a roupa, ficar
nu dentro daquele sorriso.
Correr, navegar, morrer naquele sorriso.

LA SONRISA

Creo que fue la sonrisa,
la sonrisa fue quien abrió la puerta.
Era una sonrisa con mucha luz
dentro, y apetecia
entrar en ella, quitarse la ropa, quedarse
desnudo dentro de aquella sonrisa.
Correr, navergar, morir en aquella sonrisa.

LE SOURIRE

Je crois que ce fut le sourire,
le sourire, lui, qui ouvrit la porte.
C'était un sourire avec beaucoup de lumière
à l'ínterieur, il me plaisait
d'y entrer, de me dévêtir, de rester
nu à l'interieur de ce sourire.
Courir, naviguer, mourir dans ce sourire.


THE SMILE

I think it was the smile,
it was the smile who opened the door.
It was the smile with light,
much light inside, I longed to
enter it, take off my clothes, and stay,
naked there within that smile.
To run, to sail, to die within that smile."

Eugénio de Andrade

in "30 Poemas, Poemas, Poèmes, Poems"

domingo, junho 12, 2005

outrora



outrora, eu era daqui.

do rio que lambia a fonte.

e o riso
naquele dardo de sangue
pela parede esculpindo cabras
sem açoite.

havia aves,

aves típicas de noite, anónimas.

mariagomes
junho, 20005

sexta-feira, junho 10, 2005

Camões dirige-se aos seus contemporâneos




Podereis roubar-me tudo:
as ideias, as palavras, as imagens,
e também as metáforas, os temas, os motivos,
os símbolos, e a primazia
nas dores sofridas de uma língua nova,
no entendimento de outros, na coragem
de combater, julgar, de penetrar
em recessos de amor para que sois castrados.
E podereis depois não me citar,
suprimir-me, ignorar-me, aclamar até
outros ladrões mais felizes.
Não importa nada: que o castigo
será terrível. Não só quando
vossos netos não souberem já quem sois
terão de me saber melhor ainda
do que fingis que não sabeis,
como tudo, tudo o que laboriosamente pilhais,
reverterá para o meu nome. E mesmo será meu,
tido por meu, contado como meu,
até mesmo aquele pouco e miserável
que, só por vós, sem roubo, haveríeis feito.
Nada tereis, mas nada: nem os ossos,
que um vosso esqueleto há-de ser buscado,
para passar por meu. E para outros ladrões,
iguais a vós, de joelhos, porem flores no túmulo.

Jorge de Sena

( Trinta Anos de Poesia. Lisboa, Edições 70, 1984)

quinta-feira, junho 09, 2005




"Poets are the unacknowledged legislators of the world"

"Os poetas são os legisladores não reconhecidos do mundo"

Percy Bysshe Shelley*


*nasceu em Field Place, Sussex, Inglaterra, em 4 de agosto de 1792. Descendente de rica família da aristocracia rural, demonstrou desde jovem um temperamento rebelde e inconformista. Em 1811 foi expulso da Universidade de Oxford por ter escrito um panfleto intitulado The Necessity of Atheism (A necessidade do ateísmo).
(....)
Shelley trabalhava em seu último poema, o admirável "The Triumph of Life" ("O triunfo da vida"), quando morreu afogado no golfo de Spezia, perto de Livorno, Itália, em 8 de julho de 1822, ao naufragar seu barco Ariel. Alguns de seus poemas, como "Ode to the West Wind" ("Ode ao vento oeste") e "To a Skylark" ("A uma cotovia"), situam-se hoje entre os mais famosos da língua inglesa.


(in enciclopédia britânica do Brasil, Publicações Lta)

os passos que inventei


falta-me tudo, meu amor.
os passos que inventei, a vã promessa
na livre circulação do outono.
a provável mesura de cisnes
que devagar visitam as águas.

eu fui uma cidade sumária,
uma passagem para a exaltação da raiz.

como fase alternativa,
um roteiro que empurrava flamingos

para a fatalidade do ardil.
deixei viver os móveis, a dureza soberana,
o espinho na floreira,
o lado escuro da gravidade
do corredor
em que homens e mulheres caíam sem destino.


não coleccionei agulhas, nem selos febris, nem fenómenos.
só poemas, que morriam prematuramente a meus olhos.

mariagomes
9,junho.2005

quarta-feira, junho 08, 2005

Gracias a la vida [ Violeta Parra]*





"Gracias a la vida, que me ha dado tanto
Me dió dos luzeros e cuando los abro
Perfecto distingo lo negro del blanco
Y en alto cielo su fondo estrellado
Y en las multitudes el hombre, que yo amo

Gracias a la vida, que me ha dado tanto
me ha dado el oído,
que en todo su ancho
traba noche y da grillos y canarios
martirios, turbinas, ladridos, chubascos
y la voz tan tierna de mi bien amado

Gracias a la vida,que me ha dado tanto
me ha dado el sonido y el abecedario
con él las palavras que pienso y declaro
madre, amigo, hermano y luz alumbrando
la ruta del alma del que estoy amando

Gracias a la vida,que me ha dado tanto
me ha dado la marcha de mis pies cansados
con ellos anduve ciudades y charcos
playas y desiertos,montañas y llanos
y la casa tuya, tu calle y tu patio

Gracias a la vida, que me ha dado tanto
me dió el corazón que agita su marco
Quando miro el fruto del cerebro humano
quando miro el bueno tan lejos del malo
quando miro el fondo de tus ojos claros

Gracias a la vida, que me ha dado tanto
me ha dado la risa y me ha dado el llanto
así yo distingo dicha de quebranto
los dos materiales que forman mi canto
y el canto de ustedes que es el mismo canto
y el canto de todos que es mi propio canto
Gracias a la vida."


Violeta Parra


*Gracias, Amélia Pais, muchas gracias, por este belo recuerdo que veio refrescar este 8 tão quente!...Coimbra estoira de calor.

mariagomes

" O Papel do Poeta e da Poesia no Mundo"




"enquanto a sociedade mantiver a sua rigidez e as suas múltiplas, patentes ou ocultas, formas de repressão, onde a vida não pode desenvolver-se em toda a plenitude e dignidade, a poesia deverá ser o que ela já é nos mais significativos poetas do nosso tempo: uma afirmação de dignidade e de liberdade humana".(...)
"o poeta moderno, mesmo na sua «déraison» tem razão, porque não testemunha só da anormalidade e da violência do mundo em que vivemos, ele é a afirmação, embora desprezível sob certos pontos de vista, do valor mesmo daquilo que falta aos termos sociais e que, no entanto, constituem o fundamento do homem, da condição humana".

António Ramos Rosa

(in nº22 da Revista " O Tempo e o Modo")

terça-feira, junho 07, 2005

uns chegam cansados da eternidade


Não dissocio a palavra da música. Não dissocio a música da memória porque " memória" é uma palavra muito cara que advém de um silêncio...
- silêncio que é o som que insiste, que bate em mim, interior e exteriormente
:



uns chegam cansados da eternidade.
trazem a mão agarrada
a uma pedra.
falam-me de altas pedras em quebranto.

dêem-me uma palavra.


encontrei um arquipélago
como uma cabeça de malmequeres fendidos.
avessa
como instrumento de angústia

inúmera.
dêem-me uma palavra.
sim o candelabro contínuo
porque eu quero ouvir pelo orifício d’aurora
o sepulto mar que me atravessa.


mariagomes
junho.2005




****

Oráculo


a palavra de espanto
uma flor e um sorriso
trazem telas e um canto
uma margem e um friso.

um claro sul salino
uma pedra no vento
mais um céu opalino
que é do meu sustento.

e na voz peregrina
recolhe o arquipélago
no ramo que declina.

a angústia é um orago
numa fala menina
que anuncia o pressago.

josé félix
2005.06.07



em Escritas





domingo, junho 05, 2005

Pierre Reverdy




o tinto de leite do penacho no momento em que
se agita a praça
Entre as avenidas a estrela
e as casas
Em lugar de gotas de água é o dia que cintila
e voa em volta
O monumento agita-se
A manhã levanta-se e por momentos volta a pôr-se
E quebra-se o dia
A cascata da caserna tem os seus clarins
Nas vozes do céu a que junto
a minha
Tudo é de esperar
Sob as molas que sofre
a sombra rola sem ruído ao fundo
A terra está cheia.

Pierre Reverdy * (1889-1960)
Bruits au réveil, in La Guitarre endormie, 1919


*"Reverdy contribuiu para a construcção do edifício surrealista com a sua reflexão sobre a dificuldade de conciliar o real e o mundo. Jovem, tentou fugir a este mundo, mas depois abraçou-o para melhor se fundir com a natureza e com aquilo e desvendar-lhe os mistérios. ' Ninguém meditou melhor nem soube fazer melhor sobre os meandros profundos da poesia. Nada viria a ser mais importante que as suas teses sobre a imagem poética' reconhecerá mesmo Breton, apesar das opções espirituais e do isolamento deste poeta. A poesia de Reverdy, em busca permanente revisitada, é burilada, simbólica e cheia de delicadeza. " O amor à verdade levado ao extremo na arte, nega-a e destrói. Por isso existe um misterioso limite que o espírito deve saber atingir e não ultrapassar", escreve em Le Grant de Crin ( 1927) colectânea de notas em que previne à cabeça "Notas sobre a arte, que é o homem- o homem, que é Deus, - a religião, que suspende o homem de Deus."

(in ABCedário do Surrealismo, publico.pt)

sexta-feira, junho 03, 2005

das coisas, o perfil

eu prefiro dizer, das coisas, o perfil.
inquietar a sombra, o abismo
que escorre pelos ombros húmidos da noite.
eu prefiro ter a ponte
por onde passa o pranto estupendo
dos deuses, a carne e o sangue.
enquanto falo,
há florestas que se desbastam brutalmente
inclinando o mar
e o rural; há rosas
a nascerem continuadamente, e a minha morte
coberta de rosas.
eu prefiro dizer, das coisas, o perfil.
frequentar o meu corpo em quanto calo.

mariagomes
junho.2005

terça-feira, maio 31, 2005

"Encarcerar a asa"


Sebastião da Gama


"Encarcerar a asa é encarcerar a alma. Isso sim. É que há muita asa que não pensa; asas que não sintam é que não.
Mas eu não preciso do símbolo para ver os pássaros na gaiola. Basta-me ser fraterno. Para que vivemos no mundo há tanto tempo, se não sabemos ainda que os bichos são criaturas com alma?... Até os das fábulas, quando calha... Ora pensem lá um bocadinho no " Leão Moribundo"... É um leão mesmo, ou é principalmente um leão. Quantas vezes se esquecem os fabulistas de que era de homens que queriam falar!
Asa encarcerada não. Nem asa de pássaro nem asa de grilo. Uma fê-la o Senhor e disse-lhe: " Voa!" À outra: " Canta!" A nenhuma ( nem a nós deu a ordem, claro está) que se metesse numa gaiola. No entanto é a gaiola o domicílio habitual muito habitual do pássaro e do grilo. Ao grilo prendem-no as crianças, sob o sorriso dos pais. Ao pássaro os pais sob o sorriso dos filhos. Má escola esta. Principalmente porque se diz: "Que bem que canta!, Que bem que canta!". Nem se chega a aprender a diferença que vai do canto ao choro. Pois um pássaro encarcerado canta lá?!... Os pássaros cantam é nas linhas do telefone, nas árvores, nas beiras do telhado... Os grilos é na toca ou ao pé da serralha. Na gaiola choram. É o fado dos ferros."

Sebastião da Gama
O segredo é amar ( 1947)


Sebastião Artur Cardoso da Gama nasceu em Vila Nogueira de Azeitão, Setúbal, em 10 de Abril de 1924, e faleceu em Lisboa em 1952. Licenciou-se em Filologia Românica na Faculdade de Letras de Lisboa, tendo sido professor durante dois anos na Escola Industrial e Comercial de Estremoz. Desde a juventude atingido pela tuberculose, foi, por prescrição médica, viver para a Arrábida. Obras: Serra-Mãe (1945), Loas a Nossa Senhora da Arrábida (1946), Cabo da Boa Esperança (1947), Campo Aberto (1951), Pelo Sonho é que Vamos (1953), Diário (1958), Itinerário Paralelo (1967 – compilação de David Mourão-Ferreira), O Segredo é Amar (1969).

segunda-feira, maio 30, 2005

pétalas da minha sorte



ó flores magoadas, pétalas da minha sorte,
vinde admiráveis flores entontecer a selvagem indolência,
a morte interior em valsa
: o devaneio,
a palavra do derradeiro pensamento que me conduz.
ó flores viradas para sul, docemente,
o vosso coração é uma roupa
no espaço da criança onde guardo o meu próprio lume.

mariagomes
30.maio.2005

sábado, maio 28, 2005

José Craveirinha

O Fernando Costa que vive à beira do Índico, enviou-me este poema de José Craveirinha. "Um contributo", diz ele, no e-mail que me dirigiu...

Saravá, meu irmão!

mariagomes




Oh velho Deus dos homens
eu quero ser tambor
e nem rio
e nem flor
e nem zagaia por enquanto
e nem mesmo poesia.
Só tambor ecoando como a canção da força e da vida
Só tambor noite e dia
dia e noite só tambor
até à consumação da grande festa do batuque!
Oh velho Deus dos homens
deixa-me ser tambor
só tambor!

José Craveirinha
( Moçambique)

sexta-feira, maio 27, 2005

esta música


"serenata " - Autor: António Dacosta (1914 - 1990)


esta música ( esta flor)
ao desamparo
vem de uma longínqua visão acesa
esta música que fechou a brecha da tristeza
rasgou os ossos límpidos dos rios as vinhas das últimas luas.

esta música é uma lágrima
a minha fonte
é
o mar elementar.

(...)


mariagomes
26maio.2005

quinta-feira, maio 26, 2005

Yves Bonnefoy


fotografia de David Hamilton



(...)
Aliás, haverá obra de poesia que tenha alguma vez sido realizada para " comunicar" um sentimento, um conhecimento, um pensamento? Um poeta preocupa-se em inventar, em verificar, e isso é viver, não é dizer - só dirá consequentemente. Assim sendo a sua clareza vai a par dos seus enigmas. Explícito quando deve conhecer-se a si próprio, irá calar aquilo que já sabe. Mas ele é grande justamente por causa dessa solidão que procura. A sua verdade irradia pelas suas vias obscuras. E se o poema acabado é válido para todas as mulheres e todos os homens, é porque o seu autor só quis ser ele mesmo, numa experiência privada" (...)

Yves Bonnefoy
(em " Rimbaud"
edições Cotovia)

terça-feira, maio 24, 2005


" benguela, angola" fotografia de mariagomes




Elle est trouvée.
Quoi? - L'Éternité.
C'est la mer allée
avec le soleil.

.......

Foi reencontrada.
O quê? - A Eternidade.
É o mar fugido
Com o sol.

Arthur Rimbaud

( França,1854 - 1891)

" Rimbaud", biografia de Yves bonnefoy
edições cotovia, Lda.
trad. de Filipe Jarro

segunda-feira, maio 23, 2005

de mil folhas

curva a tarde.

quero o tremor das pautas inauditas
a edição de um arminho
o não retorno
na pluma
na rotura que em mim se derrama
sei de um surdo ardor contra a montra
sei de um gosto constante
amo o amanhã que se decide
a raiz anatómica ao arrepio passível de um caminho.

volta ao poema descalço urdindo o barco o branco
o tanto que te abraça.

tenho a plenitude do exemplo mínimo na letra
soletro o dorso do dedo cavo e em consciência
perco-me pelo invólucro
sou herdeira de uma cidade filha de um areal de mil folhas
amo-te consumadamente
como um som suave de contracção
como a sílaba de um cisne dormindo no seu domínio.

mariagomes
23.maio.2005

domingo, maio 22, 2005

a água cinzelada


"O Passeante Invisível"- Autor: Maria Helena Vieira da Silva (1908 - 1992)




talvez, meu amor, saibamos de nós mais do que pensamos.
percorro a parede da possibilidade.
em simultâneo, o útero do dia seguinte.
num novelo, as palavras irão comover a alegria,
a livre circulação das libélulas sob uma flor reactivada.

talvez, meu amor, ao milímetro, meçam as aves,
a água cinzelada de julho.
a busca microscópica do mundo
ou de um sub mundo inexplicável na cor que, ora começa.

mariagomes
22,maio.2005

sexta-feira, maio 20, 2005

William Shakespeare (1564-1616)





Romeu- (...) E ainda me dizeis que o exílio não é a morte?! Não tínheis vós um veneno activo, um punhal bem afiado, qualquer meio de morte repentina? Não teríeis para me matar senão esta palavra: " desterrado?" " Desterrado"! Essa palavra. Padre, emprega-na os condenados do inferno, acompanhando-a de gemidos. Como é que vós, um confessor espiritual, que absolveis os pecados, e que sois meu amigo declarado, tivestes coragem de me atormentardes com a palavra " desterro"?

Frei Lourenço- Oh insensato! Escuta-me um instante!

Romeu- Oh! Ides falar-me ainda de desterro?

Frei Lourenço- Vou dar-te uma armadura para te livrares dessa palavra. A filosofia, doce leite da adversidade, há-de consolar-te, apesar de desterrado.

Romeu- Apesar de desterrado? Que se enforque a filosofia! Se essa filosofia não pode criar uma Julieta, mudar de lugar uma cidade, revogar a sentença de um príncipe, de nada serve, nada vale. Não me faleis mais nisso.

Frei Lourenço- Agora vejo que os loucos não têm ouvidos.

Romeu- Como haviam eles de ter quando os sábios não têm olhos?
(...)



William Shakespeare

excerto de Acto III, Cena III ," ROMEU E JULIETA"
Colecção dirigida por Urbano Tavares Rodrigues.

os links fogem...


peço desculpa aos meus amigos... realmente este template é melhor para escrever, é melhor para as imagens, mais confortável, mas os links colocados no canto superior esquerdo também me fogem, digo isto porque alguns já me escreveram por esse mesmo motivo...
Não sei como resolver a questão! Alguém sabe de um segredo para agarrar um link, aqui neste blog, quando se abre a respectiva janela?
Estou a ver que terei que reduzir os meus favoritos, coisa que não queria fazer!

abraço a todos
mariagomes

quinta-feira, maio 19, 2005

Ezra Pound e E.E. Cummings...


Ezra Pound



"A Respeito de Ezra Pound - a poesia por acaso é uma arte; e os artistas por acaso são seres humanos.

Um artista não vive uma qualquer abstracção geográfica, superimposta a uma parte deste belo planeta pela inimaginação de inanimais e consagrada à proposição segundo a qual um massacre é uma virtude social porque o assassínio é um vício individual. Nem um artista vive num qualquer soi-disant mundo, nem vive num qualquer suposto "universo". Quanto a algumas ilusões fúteis como o " passado", e o " presente" e o " futuro" de abrir aspas fechar aspas humanidade, podem ser suficientemente grandes para um ou dois biliões de supermecanizados e submentecaptos mas são demasiado pequenos para um ser humano."

O país estritamente ilimitável de cada artista é ele próprio.

Um artista que traia esse país cometeu suicídios; e nem mesmo um bom advogado pode matar os mortos. Mas um ser humano que é verdadeiro por si próprio- quem quer que ele próprio seja - é imortal; e todas as bombas atómicas e todos os antiartistas em tempo espacial jamais civilizarão a imortalidade."

E.E. Cummings
(in " seis inconferências"
assírio & alvim)




e. e. cummings (1894 - 1962)




quarta-feira, maio 18, 2005

&


foto de Peggy Washburn US, b.1963




meti-me pela metáfora como quem anseia o céu.

&
estavam sinos a tocar a ternura mais alta
temporária dos teus dedos.


&
a minha mão foi mais longe
cavou a limpidez acutilante dos campos
nos pirilampos que caíam da luz.


mariagomes
maio,2005

terça-feira, maio 17, 2005

Alejandra Pizarnik





Não, as palavras não fazem amor
fazem ausência
Se digo água, beberei?
Se digo pão, comerei?


Alejandra Pizarnik, (Argentina, 1936/1971)

"tapeçaria virtual" de Augusto Mota

segunda-feira, maio 16, 2005

deixo-me iluminar...


deixo-me iluminar pelas grandes construções.
peço o ar às gaivotas, à manhã das açucenas.
tranquilamente táctil,
vou com o pensamento híbrido calar a minha fome.
vou ao fundo de mim,
às marés feitas, às amarras.
levanto-me em todas as calçadas
onde tropeçam toldos,
e uma tarde.
estou numa rua versátil, no início.
esqueci-me das palavras
que entraram inteiras.
e vivo.
creio que ouvi a voz dos animais;
em crivo, a claridade, o cálculo,
a voz da pedra,

o infinito a derramar-se de uma catedral.

mariagomes
maio.2005

antilírica




veio de maio o meu último corpo.
ouvi-me a navegar no leme da lisura.
sentindo a pele

no açaime de uma estrela,
veio a prumo o meu último corpo;
um licor, em arco, que se estendia rubro
ao que de mim faziam parte.
ofereci-lhe a embriaguez
dos braços das areias, a pique,
o primeiro cacto.
veio-me de maio a alma, a lucidez,
eu cravei a carne da canção
na misteriosa missiva das paredes,
a quente, antilírica paixão de frutos verdes.

mariagomes
maio.2005

sexta-feira, maio 13, 2005

à queima-roupa



depois todas as coisas se fizeram
para ti.
havia lágrimas, partículas de lágrimas,
ofício imperecível de gerações mudas.
vida justaposta ao sonho que te apanhou à queima-roupa.
na raiz quadrada onde se põe a lume
a louca transfiguração,
quero inverter um lírio, uma dádiva fortuita;
profundamente literária.
como se me viesse uma vontade iníqua
de perecer húmida na paisagem humana.

mariagomes
13, maio.2005

Camões e Jorge de Sena...



...

Ah falso pensamento, que me enganas!
Fazes-me por a boca onde não devo,
Com palavras de doudo, e quase insanas!
Como alçar-te tão alto assi me atrevo?
Tais asas dou-tas eu, ou tu mas dás?
Levas-me tu a mim, ou eu te levo?
Não poderei eu ir onde tu vás?
Porém, pois ir não posso onde tu fores,
Quando fores, não tornes onde estás.

Luis Vaz de Camões

....

"Aí reside a sua originalidade; aí está o seu mérito de ser um dos mais excepcionais poetas de todos os tempos. A sua grandeza existe e impõe-se por si própria, tanto mais consoladoramente quanto suportamos, de hoje em dia, a sensação ridícula de vivermos num país de notabilidades às dúzias, às grosas, às carradas, tantas são as figuras e os factos comemorados quotidianamente, com frequência quase horária ou uma culposa consciência de colocar um pouco de cevada no rabo do asno morto." (...)

Jorge de Sena



in " cadernos de poesia"
edição campo das letras

segunda-feira, maio 09, 2005

Benito Jerónimo Feijoo




"Lo grande de la poesía es aquella actividad
persuasiva que se mete dentro del alma
y mueve el corazón hacia la parte que quiere el poeta "


Benito Jerónimo Feijoo -
Espanha - 1676-1764

domingo, maio 08, 2005

o futuro arde




Ó bela flor, ó manhã formosa,
há madrugadas extensas no fóssil do meu ser.
lá dentro, o futuro arde.
medieval,
o futuro cede.
e eu não sei deter
de qualquer maneira
o consentimento da voz que te quiser.
as minhas saudades são diagonais,
como demónios de luz
levam-me para trás.

mariagomes
6.maio.2005

sábado, maio 07, 2005

o questionário



O meu amigo e Poeta e conterrâneo José Félix, autor do blog "A Teia de Aranha”, passou-me este questionário para as mãos. E eu vou responder,



Não podendo sair do Farenheit 451, que livro quererias ser?

Um Livro em branco à espera de uma palavra.


Já alguma vez ficaste apanhadinho por uma personagem de ficção?

Não propriamente por uma personagem… É comum ficar apanhadinha pelo todo de um romance, ficar lá dentro, sem me apetecer sair!



Qual foi o último livro que compraste?

Dos três que comprei, escolho um: “ eu: seis inconferências “ de E.E. Cummings .


Que livros estás a ler?

Estou a ler “ O Perfume” de Patrick Suskind e “ Cadernos de Poesia” Reprodução Fac-similada dirigida por Luís Adriano Carlos e Joana Matos Frias.
È sempre assim, paralelamente ao romance, um livro de Poesia.



Que livros(5) levarias para uma ilha deserta?

Não sei quantos levaria, muitos… mas de certeza que “ O ensaio sobre a cegueira” de José Saramago e " O Livro do Desassossego” de Bernardo Soares iriam debaixo do braço…



A quem vais passar este testemunho (3 pessoas) e porquê?

Já muitos fizeram este questionário, com toda a certeza! Num relance passo a estes amigos, porque os leio com prazer : à Maria Azenha do blog “ Pátria d' Água” ao Torquato da Luz do blog Ofício Diário, e à Alma do Beco um blog de bons poetas irmãos de além-mar.





sexta-feira, maio 06, 2005

Quintana, a verdade e a mentira...




Faço parte de algumas Listas de Poesia, é a minha forma de estar net. Tenho amigos, alguns, muitos conhecidos e gosto desse intercâmbio salutar. Isto vem a propósito de, para uma dessas Listas, um amigo ter enviado algumas frases de Mário Quintana, o poeta que encanta porque tem o condão de me transportar para o terreno da infância, e a infância acaba por ser o húmus da verdadeira Poesia.

Quintana disse que “ A mentira é uma verdade que esqueceu de acontecer”. Ora, quando eu era criança, quando ainda nem ler sabia!, eu contava as coisas à minha maneira, misturando a verdade à mentira…. Se é que se pode entender por mentira, a imaginação prodigiosa que uma criança pode ter! Meus pais sabiam destrinçar, na devida altura, as coisas, ouviam-me com toda a atenção... Mas, os meus irmãos não. Muitas vezes, eu era chamada para relatar qualquer facto que tivesse presenciado, e não raras eram as vezes que meus dois irmãos diziam: “ é mentira! tudo o que ela diz é mentira.” Sucede que nem eles, nem eu deixávamos de ter razão. A mentira residia precisamente naquilo que deveria ter acontecido, o pormenor que faltou no que eu tinha visto.

Um belo dia, resolvi contar tudo, sem acrescentar vírgulas. E para meu espanto, de novo, aquela acusação “ é mentira!...” jesus!, como me senti agredida. Gritei então com os dois pulmões: “ Aconteceu verdade!”
Esta frase soou-lhes estranha, e por isso durante algum tempo, meus irmãos, crianças também, riram a bandeiras despregadas. E eu fiquei, claro, mais sozinha do que nunca, com a verdade que tinha acontecido.

mariagomes
maio, 2005

quinta-feira, maio 05, 2005

Livros..... Blaise Cendras


"Retrato de Blaise Cendras", 1924,
de TARSILA DO AMARAL





Há livros que falam do canal do Panamá
Não sei o que dizem os catálogos das bibliotecas
E não ouço os diários das finanças
Embora os boletins da Bolsa sejam a nossa oração quotidiana

O Canal do Panamá está intimamente ligado à minha infância...
Eu brincava debaixo da mesa
Dissecava moscas
Minha mãe contava-me as aventuras dos seus sete irmãos
Dos meus tios
E quando recebia cartas
Deslumbramento!
Cartas com belos selos exóticos que trazem versos de Rimbaud no exergo
Nesse dia já não me contava mais nada
E eu ficava triste debaixo da mesa.
Foi também por essa altura que li a história do tremor de terra de Lisboa
Mas creio bem
Que a derrocada de Panamá é duma importância mais universal
Porque me perturbou a infância.

BLAISE CENDRAS (1887-1961)
Poesia em Viagem



"jamais rastejarei... meu mundo é o universo."


Ludwig van Beethoven

quarta-feira, maio 04, 2005

o dom do azul


uma palavra some
como uma gaivota húmida toca o dom do azul ,
o ardor de não dizer.

eu peço a minha mãe que me diga
ainda a aurora,
que me diga
que a noite se devora
porque eu quero divagar na palavra
com uma infância grande, por viver.


mariagomes
maio.2005

terça-feira, maio 03, 2005





foi este um dos presentes que recebi pelo dia da mãe, um bonito romance, " leve como uma pena", tal como o anunciam. E eu precisava de ler qualquer coisa, assim, tão leve.
Nunca tinha lido nada de Haruki Murakami, gostei, li-o de um só fôlego.


(...)
" Certo?
Certíssimo!

Salto da cama. Corro as velhas cortinas desbotadas e abro a janela. Ponho a cabeça de fora e ergo os olhos para o céu. Lá está ela, uma meia lua em tons borolentos, pendurada no céu. Que bom. Estamos ambos a olhar a mesma Lua do mesmo mundo. Estamos ligados à realidade através do mesmo fio. Só preciso de o ir puxando devagarinho para mim. Estico os dedos e ponho-me a olhar fixamente para a palma das mãos, à procura de sinais de sangue. Não encontro nada. Nem o cheiro a sangue, nem resquícios de sangue coagulado. Silenciosamente, sem ninguém dar por isso, deve ter sido absorvido"

"Sputnik meu amor", Haruki Murakami
edição casa das letras

domingo, maio 01, 2005

de asas


foto de Sebastião Salgado




há gestos que se demoram,
cheios de asas
seguram a pureza de segundos.

são os teus, mãe, em todos os mundos.

mariagomes
4 de maio.2003

sexta-feira, abril 29, 2005

a espinal medula




disseram-me
: não escrevas os sabores desse verão,

tens as varandas
de um violino imenso,
a espinal medula, deus e o céu.

lembrei-me, então,
que poderia ter nascido do brilho peregrino
um poeta ateu.

mariagomes
abril.2005

quinta-feira, abril 28, 2005


GUSTAVO ADOLFO BÉCQUER (1836-1870)




-¿Qué es poesía?- dices mientras clavas
en mi pupila tu pupila azul:
¿qué es poesía? ¿Y tú me lo preguntas?
Poesía... eres tú.


GUSTAVO ADOLFO BÉCQUER

a ti, Rhea




a ti eu me dirijo, Rhea,
com os tornozelos festivos da última primavera
e da lua rubra
dou-te a noite benéfica de uma criança
toco a marimba da minha mãe crioula.

mariagomes
abril.2005

domingo, abril 17, 2005

hoje ou amanhã



hoje ou amanhã, a lareira apagará o gosto.
acerca disso eu hei-de escrever.
poisarão no meu corpo poemas, nitidamente felizes,
sem palavras.
na assimetria de um entardecer uma pátria qualquer,
uma só flor, uma face
ou um traço definir-me-á.
não sei de que horizonte virá o vento.
nem sei tampouco se do mar lançarei a concha
da alegria côncava da criança.
contudo, eu hei-de escrever - o deserto
as dunas as ameaças e as casas próximas.

mariagomes
16abril.2005

sábado, abril 16, 2005

que a noite vê




deixa-me ter nos poetas idos o silêncio do sol
fazer uma onda
com a força desses dedos
sonhar mais do que um sonho subir o ritmo
amarelecido na maré

deixa-me ler milhões de palavras luz
deixa-me ver as coisas que a noite vê.

mariagomes
abril.2005

sexta-feira, abril 15, 2005




"Os versos são experiências e é preciso ter vivido muito para escrever um só verso."


Rainer Maria Rilke

quinta-feira, abril 14, 2005

na respiração de um livro



hei-de ter-te na respiração de um livro
e ficar só num poema com um amor que não morreu
como a pálida penumbra
que me habita - casa estéril

inutilmente caiada.

mariagomes
14abril.2004

segunda-feira, abril 11, 2005

E. Bonavena / Angola


(Edward Weston)

1. goteja
a
lâmina
amor!



E. Bonavena
de "Ulcerado de Míngua Lua", Angola, 1987



E. Bonavena, pseudónimo de Nelson Pestana, nascido em Luanda, em 1955.

sábado, abril 09, 2005

com o sangue fixo


a minha pátria divorciou-se das rosas encarnadas
que falavam comigo com o sangue fixo
a arder

a minha pátria caiu sem luta num precipício
consome-se nua

proibida
quer as palavras das loucas incertezas impolutas.


mariagomes
9abril.2005

sexta-feira, abril 08, 2005

os melros



só eu movi os melros na tempestade
elevei a árvore
dos dedos na poesia profana
celebrei as nuvens
na batuta dos maestros
esquecidas
pelas tômbolas da sorte
e na voz de um poeta que disse
que a morte é uma formosa flor ensandecida
só eu arranhei as guelras
como os cachimbos secos dos velhos
a viver do mar

só eu
e o músculo contaminado de um olhar.

mariagomes
7deabril2005

quarta-feira, abril 06, 2005

e a erosão




não posso dizer dos olhos, assim,
contidos nesta manhã inacabada.
há gritos negros e a erosão
branca, nos corpos, abre a luz
cheia de sede.

não fosse esse pedido de palavras,
eu escreveria o poema da paz
que anseia os meus sentidos.
porém, é tarde.
nunca disse que habito uma cidade.
as minhas mãos movem-me.
como ninguém, toco o perfil
melancólico e dócil do fim da minha vida.

mariagomes
6deabril.2005

terça-feira, abril 05, 2005

as romãs e as rosas




podiam ser mais os sinos,
as chuvas, as romãs
e as rosas


podiam ser mais os linhos
entregues ao abraço corroído pelo homem


e serem mais as mães
e os pais
dos meus ramos ágeis.


mariagomes
5deabril.2005

segunda-feira, abril 04, 2005


Holly Roberts



"-Poesia serve para isso.
-Isso, o quê?
-Para esconder o amor, revelando-o.
Como a roupa que esconde o corpo e
revela a forma. "


trecho " de Amor " de Manoel Lobato


http://scripto.weblogger.terra.com.br/

domingo, abril 03, 2005

esse anjo eterno



do sol vem esse anjo eterno que torna em música
a impressão telúrica
de ser em simultâneo água
de um ramo só
do sol eu tenho o solo idolatrado
os olhos importando das miragens um desespero frágil
e o som
a parecer-se quase com o minério
como uma súplica ou uma lágrima litúrgica.


mariagomes
3abril.2005, 18 h

tenho que escrever




tenho que escrever um poema deitado
na noite farta
apagando o candeeiro
que nos conduz à plataforma fria do asfalto
um poema sem culatra
na terra
um poema que não cale a lezíria
sobretudo que não fale
da guerra.

mariagomes
abril.2005

sábado, abril 02, 2005

Flaubert

"A linguagem é uma chaleira rachada que batemos para fazer os ursos dançarem. Quando o que queríamos mesmo era mexer com a clemência das estrelas. "

Gustave Flaubert (França,1821-1880).

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Podes entrar ; tenho as mãos para dizer o disperso canto das águas. Os meus olhos, alagados pelo grito das árvores, são lúcidos ao início do sol. Com o amor das coisas, rejubilo e lanço os braços a um rodopio doce e futuro, a uma tempestade humana. Tudo o que eu espero é sentir o elo da criação que se move, entre mim e ti, e a claridade. ____________mariagomes
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